segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

UM GRANDE DOMINGO


O OUTRO CARNAVAL DE NOSSAS VIDAS
O DE MENTIRINHA...

Vendo a grande festa popular brasileira pela tela da globo internacional, uma festa que durante anos participei, como um dos integrantes da Banda de Ipanema e por três décadas desfilante no Salgueiro, me faz lembrar de momentos memoráveis.

O que na verdade é o carnaval? Seria um amontoado de gente tentando se divertir ao mesmo tempo? Não me prece tão simples assim. Tentando ser perceptível e o menos cruel possível, sabemos que a multidão não é humana. Ela é uma massa. Uma massa que não raciocina, não fala, apenas canta e samba dentro uma irresponsabilidade própria das grandes formações numéricas. Nem sempre é justa, nem sempre é veraz, mas são elas que elegem os políticos e fazem o bloco ir para a frente. O que esta multidão precisa é de se unir de uma mesma forma, para destituir aqueles que não estejam cumprindo com suas promessas ou mesmo participando de escândalos. Que forcem a barra por intermédio de seu apelo popular, para que os Arrudas da vida se mantenham atrás das grades.

O carnaval é um fenômeno coletivo de impressionante significado. As escolas de samba do Rio de Janeiro, podem se considerar como participantes de um dos mais bonitos espetáculos deste planeta. E todo ele é representado por gente pobre, muitos deles dependentes de cestas básicas e bolsas famílias. O problema é que na vida real - eles príncipes e raínhas por uma noite - em questão de 82 minutos voltam a viver 364 dias de amarguras a espera de uma nova noite mágica que ponteie seus sonhos e o faça esquecer de suas realidades. Esta massa popular depende de uma organização maior para direcionar suas existências, como o que vivem por minutos na Sapucai. E é ai, que o curral eleitoral funciona de uma mesma forma.

Pensando bem, tínhamos que agir qual uma escola de samba carioca em nossas vidas. Com a mesma organização, com similar força e tendo fixado um objetivo comum, que tivesse como diretriz a melhora de vida de nosso pais como um todo. Seriamos um povo imbatível. Não haveriam barreiras que não pudessem transpor. Vocês já imaginaram o que é colocar uma escola na Sapucaí, desfilar em 82 minutos, não perder o ritmo e fazer milhares de pessoas se levantarem da arquibancada? É uma obra de arte. Um desafio que 12 escolas cariocas enfrentam e vencem, todos os anos, perante o julgo popular. Mas tem que haver muita organização e planejamento, pois, aquela baboseira do povo unido jamais será vencido, sem não bem organizado e consciente de sua força e de suas responsabilidades, ao primeiro soar de um tiro, se dizima e só sobram uma meia dúzia, como os dezoito do Forte.

A inaturalidade fascinante de uma multidão em movimento é de uma inclemência, de uma inenarrável e quase, inexcedível loucura coletiva. E isto é altamente lindo de se ver, outrossim, pouco produtivo.

A lucidez muitas vezes macula o êxito, mas me desculpem é ela que resolve os problemas. Um amigo uma vez me disse, que problema não se resolve, se administra. No Brasil ainda estamos em um terceiro estágio, o contornamos.

Em certos casos, pode-se até se imaginar que o Bloco do galo da madrugada de Recife, com sua desorganização, espontaneidade e seu gigantismo possa ser mais eficaz que a Beija Flor na ponta de seus cascos no meio da Sapucai. Desculpe-me aqueles que assim pensam. Mas normalmente não é, embora a alegria seja a mesma. Espontaneidade, improvisação, e excesso de euforia dentro de um gigantismo próprio de uma multidão, tende a produzir menos resultados que a organização de uma loucura coletiva, pois, geralmente estas duas coisas não coincidem. Jesus que o diga. Perdeu por quase unanimidade para Barrabás.