UP IN THE AIR
Não sou critico de cinema e muito menos me considero entendedor desta sétima arte. Outrossim, frequento muito as salas de projeção e como nas pinturas gosto daquilo que realmente me agrada. Não pela moda, valor ou símbolo. Não pelo que a critica diz ou deixa de dizer. E sim pelo prazer que aquela fita ou aquela obra de arte pode me trazer. Pois, em minha concepção de vida, se é feliz, quando se consegue juntar o maior número de prazeres de uma forma sequencial.
Um vez me perguntaram porque tenho um certo número de quadros, nos lugares em que resido e em meu escritório. Acho que o quadro é como sua família. Voc ê tem que ter prazer de voltar a seu lar e dar uma olhada nele. Não sou partidário daqueles que tem um quadro porque faz parte da decoração e combina com o sofá. Ou porque é necessário se colocar algo sobre a lareira, menos “impactante” que a cabeça de um alce. Ao mesmo tempo não me vejo como um investidor, que pensa em ter lucro, na compra e venda de determinada obra. Apenas compro o que aprecio e o que dá para colocar na parede. Quadro no caixote, para mim é um crime.
Vejo o cinema como um divertimento. Assisto as grandes produções como também aos filmes de pouco investimento, mas de bom conteúdo. Não sou muito chegado a filmes de terror, embora esta semana tenha assistido ao Wolfman e menos ainda a filmes como o Filho do Brasil, cuja pieguice me causa embrulhos no estômago.
Esta semana assití a uma película chamada Up in the Air com o Geoge Clooney. Simples direta com pouquíssimos subterfúgios. Trata-se de um homem que tinha o mínimo a sua volta. Não se considerava pesado. Podia colocar toda o que lhe pertencia dentro de uma backpack.
Para ele se você mantivesse este estilo de vida, teria menos a perder e muito a desfrutar. Nascido em Dês Moines, Idaho e com um apartamento de um quarto sem mobília em Nebraska, ele viajava pelos Estados Unidos despedindo gente, numa época de crise, onde batalhões de trabalhadores perdiam seus empregos. Idaho e Nebraska são uma combinação nada agradável na vida de alguém. Mas o era, no personagem em questão que vivia em um avião, pulando de cidade em cidade, leve qual um passarinho.
O filme apresenta situações bem próprias dos Estados Unidos, um pais onde o crédito é vital para a sua sobrevivência. E quando o emprego é perdido, principalmente depois de uma certa idade, não tem como se pagar a casa, o carro, os seguros e as escolas de seus filhos.
O povo norte-americano tem um processo de endividamento progressivo. Aqui você tem a chance de fazer e a oportunidade de ser financiado para ter um inicio. Se não há dinheiro para a faculdade existem instituições que o financiam e você paga depois de formado. Os juros são racionais e você se organiza. Compra a sua casa, seu carro, planeja seus gastos e a cada ano faz um upgrade em sua existência. E esta é a mensagem do filme. A cada ano você se torna mais pesado. Voc~e passa a possuir mais coisas e deve muito mais. Logo, se torna escravo de ser emprego e como tal não pode perdê-lo. Abandona seus sonhos de jovem e passa o resto de sua existência pagando dividas contraídas por uma casa melhor, um carro melhor, uma vida de maior status.
O personagem de George Clooney, para quem o mirava de longe era perfeita. No ar, ganhando milhas e mais milhas, em hotéis, aviões e restaurantes. Sua vida consistia em fazer a sua pequena valize de mão e seguir um roteiro traçado por seu escritório. Outrossim, com o desenrolar dos fatos que se sucedem em uma trama armada de forma simples, ele descobre que embora não tivesse problemas, já que era desimpedido e leve, não tinha também o prazer de voltar a sua casa, de ver um quadro ou ser beijado por alguém de sua família.
Ninguém consegue viver por si próprio e alheio a interação necessária com pessoas e coisas que lhe tragam prazer, que gerem sim problemas, mas que igualmente existam, para que a felicidade na solução dos mesmos, lhe cause júbilo e vontade de ir adiante.