domingo, 28 de fevereiro de 2010

A FERA QUE QUER SE TORNAR BELA...


A LUTA PELA BOQUINHA

Escrevo. Se bem ou mal, isto é outro problema. Outrossim, problema para mim é alguém ter algo importante ou não a expressar e nunca o ter conseguido o colocar no papel. Seria para mim como sufocar-me.

Como arquiteto, sempre tive que colocar em um papel branco, postado sobre uma prancheta, a visualização de uma obra que vinha a minha cabeça. Talvez isto tenha me ajudado a me tornar escritor.

Escrever é criar. O escritor tem a mesma tarefa que o arquiteto, que o pintor, que o músico. Apenas usa letras em lugar de cores ou sons. E quando se escreve você se doutrina a ser realista. Não me considero otimista e estou muito longe de ser pessimista. Agora acredito que para se ser realista e estar bem consigo próprio, você tem que sempre acreditar que o dia que você vive será melhor que o anterior. Não considero isto ser otimismo. Isto é apenas ter a certeza que é para frente que anda.

Admiro pessoas inteligentes. O presidente Lula é um homem inteligente. Não culto, mas tem a inteligência própria do sobrevivente. Aquela vivacidade que com a experiência lhe trás a inteligência. Burro é aquele que pensa ser ele burro e confunde ignorância como burrice.

A diferença dele para o Ibrahim Sued, foi o polimento. Ibrahim era um repórter inteligente, que soube rapidamente descobrir o que era bom e do que as pessoas de bom gosto, gostavam de ouvir para chegar onde chegou. Os cães ladraram e sua caravana passou. Ele inventou junto com o Sergio Dourado, Ipanema numa época que ninguém queria ir para lá. Apenas os artistas, pois, era o lugar mais barato de se morar no Rio de Janeiro. Ibrahim não era culto, mas inteligente. Lula precisou perder três eleições para sacar que não era barbudo, mal arrumado e com aquele discurso violento que iria chegar a lugar algum. Afinal, até pobre gosta de luxo, já dizia o Joãozinho Trinta.

Os dois etilicamente entornavam que nem gente grande. A diferença consistia no grau de destilação do alcoól preferido por cada um.

Foi assim que Lula aparou a barba, colocou um terninho (que melhorou o corte depois de eleito) e passou a ser mais ameno naquilo que pregava. Afinal nunca acreditou mesmo no que dizia. Era de boca para fora. O que queria era o poder. Dizia, para chegar a algum lugar. E com o novo discurso e o novo visual chegou onde queria. Hoje é a imagem do capitalista. Do corte do cabelo ao terno que usa, tenta ser algo que nunca havia sido. O problema é que gostou muito das benesses e ao passado e as suas origens, não quer voltar. Pensa que se o fizer é um caranguejo.

Aliás no Brasil, a esquerda brasileira sempre assim o foi. Elitista ao extremo. Discutia-se a situação dos oprimidos nas coberturas da Vieira Souto regados a whick escocês, nunca nacional. Afinal o intelectual brasileiro pode até ser patriota, mas nunca burro a ponto de tomar whick nacional. Da mesma forma que o exilado brasileiro não ia para Moscou. Era dissidente, mas em Paris e preferencialmente na rive gauche.

Sou carioca de nascimento e por formação. Embora Brasília fosse já a capital, era no Rio de Janeiro que as coisas aconteciam durante a redentora militar. E tanto, ainda na faculdade como depois em meu trabalho, observei de forma nítida o comportamento dos esquerdistas brasileiros, tipo Lula ou mesmo dos artistas e intelectuais, que adoravam aparecer nas primeiras filas das passeatas. O ideal era o mesmo: assumir o poder. E como eram os pobres que numericamente eram, como ainda são, o de maior volume na contagem dos votos, assim os apoiaram.

Evidentemente, que se tratando de nojentos contatos de terceiro grau, tão somente em passeatas. Onde a intectualidade ia bem na frente, os estudantes a seguir e a turma do operariado lá atrás, no fundo.

Meus queridos leitores, vão maquiar a dona Dilma. Vão formar um elmo em volta dela inexpugnável. Vão transformá-la em um ser quase humano. Vão chegar a fazer dela uma mulher. E o pior, vão convencer ao eleitorado que ela é centrada, sensata, afável, equilibrada, democrata e até capaz de ouvir e liderar. Vão apagar de seu passado os assaltos a bancos. Vão evaporar com a implosão do pobre soldado Mário Kosel Filho no Ibirapuera. Enfim, irão virar o cenário de cabeçã para o ar. Trouxeram até o marqueteiro do Obama para armar o circo, pois, a tarefa é difícil. A senhora não ajuda muito... E se a coisa engrossar e necessário se tornar, vão contratar a peso de ouro, o gênio dos efeitos visuais de Hollywood. O importante é não perder esta boquinha. E a fera se tornara a bela...