PRECISAMOS RESGATAR
O ESPIRITO DE 58
Nos anos 40, tínhamos um imenso complexo de inferioridade em termos futebolísticos em relação a Argentina. Eles faziam de nós gato e sapato dentro das quatro linhas. O que vou relatar a seguir me foi repassado pelo João Saldanha há mais de 40 anos, nas areias do Castelinho e na presença do Sandro Moreira, outro jornalista que torcia pelo Botafogo, que de quando em quando, enriquecia com alguns detalhes o que o Saldanha repassava a mim e mais quatro outros presentes, extasiados com sua histórias.
Aconteceu em São Januário, no ano de 1939, após a Copa disputada na França, em 1938, onde não nos apresentamos tão mal assim. Tratava-se da Copa Roca que fora criada para que as seleções de nosso continente se enfrentassem. Ou como apartaria o Sandro, um torneio criado para dar taças a argentinos e uruguaios. O Brasil não tinha vez, até então. Segundo o Saldanha, havia um jogador do selecionado argentino, que nada devia a Di Stefano e Maradona, chamado Moreno. Se não me engano seu primeiro nome era José. Não posso garantir, mas não acredito que importe.
O que importante é que Moreno foi bem perto do reduto principal da torcida brasileira e iniciou um show com a bola. Show este que qualquer garota o faria na praia, mas naquele tempo pouco usual e que realmente impressionava. Nom final do mesmo, ele deu um chutão para o alto. A bola subiu tanto que desapareceu das vistas do presentes. Sem se mexer, Moreno esperou e quando a bola veio de volta, limitou-se a amortece-la em seu peito do pé, onde ela ali ficou quietinha, como a ele pertencesse, tal qual uma escrava de seus desígnios. Segundo Saldanha, antes mesmo do inicio da peleja, o Brasil já estava psicologicamente derrotado. Moral da história, 5x1 para Argentina com dois gols dele.
O gol brasileiro foi conseguido por Leônidas, mas depois do placar já estar 5x0.
Passaram-se os anos, melhoramos, mas no Maracanã para os uruguaios, no de 1950, perdemos uma Copa do Mundo, onde precisávamos apenas de um empate e iniciamos o primeiro tempo ganhando por diferença mínima a frente de quase 200,000 pessoas. Perdemos de 2x1, como sexta feira passada, na África do Sul. Simplesmente amarelamos, quando deveríamos lutar. Culpados? Acho que mais a torcida que mesmo os jogadores, que de repente se sentiram abandonados.
Poderíamos ter ganho as 4 últimas Copas. Ganhamos uma e fomos derrotados por Zidane na outra. Nas de 2006 e 2010, não chegamos sequer as semi finais. Na primeira jogamos de sapatos altos achando que poderíamos resolver a partida no momento que melhor nos aprouvesse. Nesta última, não imaginamos o que poderia acontecer se nos víssemos em desvantagem. Enquanto enfrentamos times de terceira e quarta categoria, nos enganamos que poderíamos chegar lá com o nosso barquinho de papel. No confronto com o primeiro time com alguma qualidade, naufragamos e como diria o Clarin, saímos da Copa pela porta da cozinha. Nada como um dia atrás do outro. 24 horas depois, o time da Argentina saía pela tubulação, com quatro na testa e um Maradona cabisbaixo, com o rabinho entre as pernas.
Um parênteses. Maradona provou ser inteligente. Chamou o tempo todo, a atenção de todos para si. Evitou assim, que muitos notassem a fragilidade defensiva de seu time. Infelizmente, parece que os alemães estavam pouco impressionados com suas afirmações e tinham um planejamento para explorar os defeitos de sua retaguarda. Com minutos já dominavam as ações. E se mantiveram com o jogo nas mãos, durante seus 90 minutos. Nunca passaram, por perigo algum. Fecho parênteses.
Logo, o problema não é apenas nosso. É continental. O futebol se modernizou e tanto Brasil quanto Argentina, ainda vivem de louros passados. Muita bolinha para o lado, muita firúla desnecessária e na verdade pouquíssima objetividade. De um lado, Maradona rezando para que Messi acordasse e criasse o momento mágico que sonhara e estava tentando vender ao mundo, nas coletivas de imprensa. Do outro o Dunga imaginando, que o Kaká suplantaria a dor e a falta de ritmo e com sua genialidade pudesse manter-nos na Copa e assim ele poderia manter-se xingando e ignorando a imprensa, e o clamor popular. Pareceu em certo momento com aquela história do Zagalo: eles vão ter que me engolir. Não o engolimos, pois, não somos aparentemente dados a indigestões.
O Uruguai - o último remanescente sul-americano nesta Copa - enfrenta daqui a pouco a Holanda. Vão jogar naquele seu velho esquema de se manter fechados na defesa e imaginando que possam ir a uma final, na disputa em penaltys. Colará? Não sei. Tudo é possível, pois, esta disputa esta nivelada bem por baixo. Apenas a Alemanha, com seu time jovem, deu até aqui alentos de classe e brilhantismo.