segunda-feira, 3 de maio de 2010

NUNCA

Com o economista do banco mundial
Roberto Ramaciotti

A PATÉTICA APOLOGIA DO NUNCA .

Vovó Adelina sempre me disse que sete era conta de mentiroso e quem usava a palavra NUNCA, além de ser faltante com a verdade, o era também, no mínimo um desesperado. Lembro-me bastante bem dela me repreendendo: Não existe NUNCA, por maior que possa ser a sua felicidade ou a sua tristeza. Não se deixe levar pelo NUNCA”.

Segundo ainda ela, o nunca era o apologismo daqueles que não tendo como explicar algo, apelam para inevitabilidade de uma situação que sempre pode ter um outro lado. Basta ser analisada com civilidade e sem egocentrismo. Um outro ângulo, mas que assim levado a efeito, com o efeito de palavras de efeitos inseridas em discursos sem efeito, calam nos ouvidos menos preparados. Soam como bordões, mas bem vistos pela massa que pouco raciocina.

Pois bem, eu confesso que há muito tempo não tinha conhecimento de alguém que usasse tanto a palavra NUNCA em seus improvisos como o nosso presidente: NUNCA na história deste pais... “NUNCA os ricos ganharam tanto dinheiro como em meu governo...” NUNCA se deram aumentos de salários tão reais...” Coisa de mentiroso, de desesperado ou de alguém que se julga o rei da cocada preta, e por tal, igualmente acima do bem e do mal?

O Brasil é um pais realmente engraçado. Enaltece-se o fato de nosso presidente ter sido capa do Times e o nosso Cristo de uma revista de economia. Mas Hitler, o Maddoff e o Idi Amim Dada também, foram capas do Time. Assim como dois cavalos de corrida: o Secretariat por ter ganho a tríplice coroa e o Bárbaro por ter quebrado em pista e posteriormente morrido em um processo doloroso e que acarretou uma comoção nacional.

Embora, o cavalo de corrida esteja em minhas prioridades profissionais, eu não elegeria nenhum dos dois para dirigir a minha empresa, quanto mais o meu pai. O mesmo em relação a Hitler, Maddoff e Idi Amim Dada. Com exceção do último, que literalmente  jantava seus adversários políticos ao pé da letra, qualquer efeito econômico, da qual você participe, o trás a capa do Times ou de qualquer outra publicação de elite. Outrossim, para mim, nem tudo na vida, tem no aspecto financeiro e econômico, seu maior requinte e valor. Para mim condição de vida não é apenas dinheiro no bolso. É atendimento hospitalar. É escola e saneamento básico para seus filhos. É poder sair nas ruas e não ser vitima de um marginal ou de uma bala perdida. Explico-me melhor.

O Brasil continua, em algumas áreas, numa escala inferior dentro dos patamares mínimos de desenvolvimento, embora, já digam que sejamos a quinta economia do planeta. Porque me coloco reticente. Porque, as pessoas ainda moram em morros construídos sobre aterros sanitários que desabam com as chuvas e também padecem horas, as vezes dias, em filas e corredores de espera, de nossa rede hospitalar. Da mesma forma que presidentes, grandes autoridades brasileiras e gente mais abastada – aquela que segundo o nosso presidente NUNCA ganhou tanto dinheiro como agora - quando sentem uma dorzinha no coração correm para Cleveland e não para Recife ou Fortaleza. Novamente explico-me. Cleveland para os Estados Unidos é como uma destas duas cidades do norte-nordeste brasileiro, para os Estados Unidos.

Se alguém perguntar para mim sobre medicina, eu respondo, sem pestanejar, que prefiro o médico brasileiro, pois, ele age de uma forma mais humana. Ele sente seu paciente. Ele conversa e até se comove. O profissional da medicina norte-americano, em sua grande maioria, não. É um autômato que não olha nos olhos de seu paciente e muito menos perde mais de 15 minutos com ele, pois, para aqueles que acreditam que a base de um pais é sua economia, aqui, mais que em todo lugar, time is money!

O médico norte-americano, principalmente aquele de hospital, atenta mais para os resultados expelidos pelo batalhão de exames que exige e as máquinas expelem, do que propriamente para aquele que está deitado ou sentado à sua frente. Este é o lado negativo. Mas, em compensação, aqui as pessoas dificilmente morrem sem serem atendidas, pois, isto dá processo. E processo cabeludo!

No Brasil, será que dá? Será que os parentes mais chegados a estas vitimas do descaso hospitalar, são ressarcidas por suas perdas? E as famílias vitimas das balas perdidas? E dos deslizamentos dos aterros sanitários, que nunca foram considerados - até o presente momento - sequer áreas de risco?

Confesso que acho o Franklin Martins capaz. Mas não haveria alguém na área de educação, saúde, saneamento básico e segurança, tão capazes como ele? Será que a base deste governo é apenas e tão somente, ascender internacionalmente dentro de uma visão de desenvolvimento financeiro? Como aquele cara de terno do Armani, mas de cueca furada e suja, que baba na gravata?

Reprovo bastante a forma impessoal da medicina norte-americana, mas entendo que ela é regida pelo medo ao processo dentro de um processo de coação a aqueles que praticam aqui a maior das artes: a de curar. Um processo que pela força do castigo da alta perda financeira, minimiza ou iria mais longe, quase que elimina com as chances de alguém morrer por falta de atendimento médico em um hospital norte-americano. Casos existem, mas as punições também.

Para se dar entrada em um hospital em condições normais, aqui você é obrigado a apresentar seu cartão de seguro. Mas numa emergência, não. Você é tratado primeiro e sua situação perante ao seguro de saúde, é discutida  depois. Caso seja constatado depois que o processo foi desenvolvido de forma contrária, e o paciente sucumbiu, o hospital entra numa multa que dói. E dói muito! Dizem os apologistas do financeiro, que a maior dor de um ser humano, está em seu bolso...

Todo médico e hospital daqui tem seu seguro. Estariam os médicos e hospitais brasileiros garantidos também por seguros? Se estão e as pessoas continuam diariamente a morrer nas filas e nos corredores hospitalares, o problema é ainda maior. Aí não dá nem para discutir e sim repudiar.

Em minha visão de pessoa, que já morou em três continente, um pais chamado desenvolvido, deve estar calcado em cinco pilares: liberdade de expressão, saúde (nela incluído o saneamento básico), educação, segurança e economia. Quando, aparentemente somente sobressaímos em um deles, e para tal temos que a cada improviso usar a palavra NUNCA, sinto não ser este o pais que posso conceituar como desenvolvido. Pois, se assim o fosse, qual a conceituação que deveríamos dar a outros como Suécia, a Inglaterra ou mesmo aos Estados Unidos? Super desenvolvidos, hiper desenvolvidos? Extratosféricos? 

PS - Isto não é falar mal do Brasil. Isto é discutir realidade.