O DIREITO DE VIVER.
Resido hoje em um pais, que não é melhor nem pior do que qualquer outro. Diria ser distinto. Afinal, pode-se se orgulhar de ser o único, que por intermédio de uma guerra conseguiu sua independência perante os ingleses. Há de se dar ao norte-americano o voto de louvor em relação ao item, pertinência.
Muita gente confunde o governo norte-americano, com seu povo. Um erro crasso. Monumental como o próprio Maracanã um dia o foi. Há de se compreender que o povo norte-americano embora seja dirigido pelo fator econômico, possui um alto senso de liberdade, que o conceitua como o maior cultivador do lema que sua liberdade acaba, quando se inicia a do outro. Uma coisa que pode-se se dizer é que ele não é “espaçoso” como o brasileiro.
Mudei para cá em 1987 e no inicio dos anos 90 confesso que fiquei a principio escandalizado com um caso acontecido no estado de Michigan. Caso este contracenado pela justiça e sua incapacidade de coibir o Dr. Jack Kevorkian de usar do expediente da eutanásia, para terminar com o sofrimento de mais de 130 de seus pacientes. Foi uma situação polémica que se não me engano pendeu por mais de uma década.
Dr. Kevorkian, foi capa do Times. Pois é, para muitos brasileiros que ficam impressionados com o fato de nosso presidente ter sido também. Situação fácil de ser entendida, pois, vivemos em um pais que até o presente momento, não fez jus a nenhum Premio Nobel. Nunca descontamos o cheque sueco. E creio que a atual gestão, possivelmente possa estar fazendo um lobby imenso, na tentativa que nosso presidente venha a ser o primeiro. Mas voltemos ao caso do Dr. Kevorkian.
Eu estava em New York, e passeava com minha mulher em Manhattan numa noite fria, quando deparamos com o Rádio City. Paramos para dar uma olhada. Eram os 75 anos da revista Times, que estavam sendo comemorados naquela casa de espetáculos e os editores da revista Times havia convidado a todos que um dia haviam sido capa da mesma. Entre os ainda vivos, estava naturalmente o Dr. Kevorkian, que chegando em uma limousine, entrou sem ser atacado ou sequer se transformado em vitima, de tomates e ovos perdidos. Os ativistas presentes limitaram em mostrar seus cartazes e a vaiá-lo.
Dr. Kevorkian, transformou sua prática numa cruzada. Por quatro julgamentos foi absolvido, mas ele não parecia satisfeito. Depois que o estado de Michigan proibiu com a prática da eutanásia, ele mesmo assim manteve sua pratica em vigor e não satisfeito conseguiu uma entrevista com o então muito conceituado programa 60 minutos, onde apresentou o vídeo de um auxílio final seu, a um de seus pacientes. Este foi um ultraje que a justiça norte-americana não pode suportar. Ver em escala nacional de forma televisiva, um médico tirando a vida de um paciente.
Levado a corte, Dr. Kevorkian defendeu-se a si próprio, mesmo não lhe sendo dado o direito de responder por eutanásia e sim por assassinatos de segundo grau. A ele não foi dado igualmente o direito de apresentar o depoimento dos parentes das vitimas. Parentes estes que coadunavam em género e número com o chamado Dr. Death, pois, foram os únicos que conviveram com suas respectivas situações e presenciaram o sofrimento e a decisão do paciente em se retirar da vida por este expediente.
Resumindo, num julgamento em que o holocausto de 11 milhões de judeus, chegou a ser comparado com suas pouco mais de 130 eutanásias, Dr, Kevorkian foi condenado e a pena máxima lhe foi infringida. Com 8 anos e meio, ou coisa que o valha, aos setenta e poucos anos de idade, ele foi libertado e nunca mais se ouviu falar dele.
No Brasil, não aceitamos a eutanásia, mas tomamos conhecimento de forma televisiva muitos pacientes morrerem nas filas, nos corredores e nas salas de espera de nossos principais hospitais. Diria tratar-se de uma outra forma de eutanásia, cujo culpado é o governo, seja ele federal ou estadual, que não tem pela saúde a urgência prioritária que deveria ter. Como diria uma velha raposa politica mineira, saúde e saneamento básico, não dá voto.
Não tenho uma opinião formada pela eutanásia, apenas aceito que de um lado exista um paciente que não aguenta viver com seu sofrimento e exige que ele seja acabado de um forma simples e objetiva. De outro, pessoas pobres que querem viver, mas o descaso de nossos sistema de saúde lhe priva e fazê-lo. Acho que o primeiro é caso de discussão. O segundo não, seria de punição. Resumindo: de um lado a decisão consciente. De outro o roubo de uma vida sem consentimento. Não seria o segundo, o caso mais chegado a assassinato em segundo grau?
Ai eu me pergunto, em todos estes casos de mortes por falta ou mal atendimento no território brasileiro, o erro médico é punido, como aqui o é? Nunca consegui assistir ao desdobramento dos casos, aí no Brasil. Vejo, por exemplo, uma gestante se lamentando pela perda de seu feto, decorrente do descrédito a ela dado por dois hospitáis, mas não me dão a oportunidade de saber o que aconteceu depois. Alguém foi punido? Ficou o dito pelo não dito?
Eu teria curiosidade de saber. Você, não? E nosso presidente, estaria preocupado com o assunto? Ou estava de viagem e nem tomou conhecimento?