segunda-feira, 31 de maio de 2010

A ARTE DE USAR UMA CAMISA AZUL NOVA EM VIAGEM E AMAR A AMARELA ANTIGA DEIXADA EM CASA




O BRASIL É UM PAIS COMPLICADO

Uma leitora fez um comentário que achei sui-generis. Versa sobre o fato, que na opinião desta leitora, brasileiro que mora fora do pais, não gosta do Brasil. Não acredito que isto seja verdade. A gente gosta de onde nasceu e se formou como gente. A vida nos leva a outros lugares. Contingências de trabalho ou mesmo de cunho social. Não sei se um cubano possa dizer o mesmo publicamente, mas mesmo revoltados, os que conheço por aqui odeiam ao Fidel, não ao pais. Voltariam, se as coisas se modificassem por lá. Eu particularmente gosto do Brasil. É não é porque estou usando uma camisa azul nova em uma viagem, que deixe de gostar da amarela antiga que deixei em minha casa.

O Brasil é um pais complicado. Eu acho que disse isto ontem. Pois é, volto a dizer hoje. E não estou exagerando.Vejo nossos principais dirigentes falando que o poder aquisitivo de nosso povo aumentou. Será mesmo? Ou será que esta camada social está pagando apenas os juros e não conseguindo eliminar, a curto e médio prazo, o principal? Já pensaram nisto? Para mim trata-se de uma inexcedível verdade. Daquelas abismais. Que virilizam até os doces corolas, pois estamos falando de 75% de juros. Se a marola, virar tsunami, todos irão para o brejo. Mas quem está preocupado com isto? Parece que não muitos.

Para dizer a verdade, o brasileiro aceita quase tudo. Somos um povo dócil. Tanto isto é verdade que nunca foi instituído um vampiro brasileiro ou um mega bandido capaz de enfrentar o Super-homem, o Capitão Marvel, o Homem Aranha, o Iron Man ou mesmo o Flash Gordon que tenha nascido em nosso território. O Lampião, talvez o nosso mais famoso fora da lei, passou a ser personagem romântico, assim como o Luiz Carlos Prestes, que chegou a ser cognominado o cavalheiro da esperança. Nos comovemos com a morte do Guevara, da mesma forma que a do presidente John Kennedy. E os dois circulavam em lados contrários. Isto não é magnífico.

Deixamos muitas vezes que as unanimidades decidam por nós. Aceitamos que forças ocultas tracem os nosso destinos. E não nos vexamos a longo prazo com toda e qualquer gigantesca e irresistível impostura. O tempo nos faze pensar que elas não eram tão grandes quanto pareciam a nossos olhos inicialmente.

O problema é que somos facilmente convencidos e felizmente nunca enfrentamos as agruras de um luta pela sobrevivência nacional, como outros paises que tiveram guerras civis e contra seus vizinhos. Logo, suceptíveis a charlatães, fanfarrões e oportunistas.

Nelson Rodriguez há mais de 30 anos escreveu uma coisa que penso não ter mudado, depois de todos estes anos, com regimes ditatoriais, democráticos e semi-democráticos. Ele reflete exatamente o que vejo acontecer agora a frente de meus olhos: “Nas almas menos nobres, a razão pode subir à cabeça em forma de vil embriagues. E os piores sentimentos, as crueldades mais secretas e inconfessas, e todos os demônios do orgulho são liberados”.

Pois é, quando o Nelson escreveu isto, não tinha em mente nem quem poderia ser o Lula. Mas a verdade nua e crua é que o sucesso em mentes pouco preparadas para tal, cega a razão, apaga o “desconfiômetro” e o leva a cometer, quando do uso do excessivo do improviso, a sinistros enganos e hediondas torpezas. Ai você na embriagues citada pelo Nelson, confunde dissidente político com bandido e habitante com empregado. E a grande maioria do povo brasileiro se esconde debaixo de uma unanimidade, o que lhe garante que se errar, não errou sozinho. Um erro de simultaneidade.

Com a mais grassa e ignara inocência afirmo: Exu, Marx e capitalismo são inconciliáveis. A partir desta frase, passo a lamber com doçura o meu silêncio.

A querida leitora que me honra com sua leitura, digo que não comparo o Brasil aos Estados Unidos, pois, no momento são entidades incomparáveis. A incivilidade de nossos políticos não atenua estas diferenças, pelo contrário, as aumenta. Diria que perdi minha surpresa ao espanto, nestes 8 últimos anos. Porém, ainda acredito que existem coisas, no modelo norte-americano, que deveríamos copiar, pois, até que provem ao contrario o sistema daqui é menos insano que o de Cuba, Venezuela, Bolívia e Iran. Ou será que estou dizendo uma bobagem?