Sonhei que o Brasil era um grande túnel. Daqueles do tipo Rebouças – no Rio de Janeiro - onde não dá a princípio para se visualizar o final do mesmo. Largo, alto, mas mesmo assim o faz se sentir pequeno e tocado em suas mais delicadas apreensões. Você naturalmente acelera pois, desde pequeno ansiosamente espera chegar a claridade que se arvora ao final do mesmo. Do seu pai, de seu avô e até daquele vizinho mais velho, você escuta que o Brasil é o pais do futuro. Que quando se chegar a claridade do dia se estabelecerá a normalidade, será desfeita a apreensão, e se generalizará o chamado modus vivendi onde então a gente pode até sentir orgulho de se dizer brasileiro.
Nós nascemos dentro do túnel. Minha geração e as que se seguiram, são produtos de um política desatinada que fez nos acostumar com as paredes de concreto, os tetos esfumaçados e a falta da visão do final do mesmo. Com a transição da era militar para a gestão Sarney e durante a gestão do último, chegou-se a duvidar que este túnel tivesse um fim. Foi quando na eleição de Fernando Collor de Mello, sentimos que este túnel tinha um fim, uma luz nos esperava, mas infelizmente aquele que teve todo o apoio popular, apenas nos provou que estávamos errados. Havia sim um final no túnel, mas logo a seguir iniciava-se outro, como no caso do já citado Túnel Rebouças. E esta parecia maior e mais abafado.
Muita gente chegou a pensar que não vivíamos na realidade em um túnel e sim em uma caverna subterrânea sem saída. A claustrofobia tomou imediatamente conta de todos. O desãnimo passou a ser a tônica reinante. Mais alguns anos se passaram e finalmente sob a tutela de FHC podemos vislumbrar uma pequena luz ao fundo do mesmo. A luz se aproximava mais e mais de nós. Os anos Lula se seguiram. A simples manutenção do pé no acelerador e a direção imposta pela gestão anterior, fizeram que nos aproximássemos cada vez mais desta luz, que é na verdade o sonho de todos. Seja você situacionista ou não
Estamos pertinho da abertura mágica. A luz veio nos encontrar silenciosa, quando estamos já a beira da exaustão. Como pais, finalmente deixamos aquela impressão de morte que nos devorava paulatinamente. Aquela sensação de já vi este filme e o final não nos levará à absolutamente nada. Senti que a aureola difusa que nos envolve está a ponto de se dissipar, como ao final de uma manhã fria, de céu aberto. Descobri que não era louco. A luz sempre existiu. Não havíamos chegado até ela, pelo simples fato que até então tínhamos sido dirigidos por gente que pertencia a um mundo distinto do meu. E precisava-se apenas uma palavra minha e de todos os outros brasileiros para evanecemos e atingirmos a outra etapa. Aquela etapa luminosa que nunca vivemos e por anos achamos que ela pudesse inclusive não existir. Bastava disciplinar nosso voto. Escolher quem seria o melhor dirigente, não o melhor herdeiro, para manter o carro na direção que ansiávamos e finalmente, de uma vez por todas, tínhamos ciência tratar-se da certa.
Foi quando acordei. Era noite ainda, daquelas tranqüilas que disciplinam o seu silêncio e fazem-no intimo, como um membro da família. A escuridão me lembrou que a herdeira tinha 50% da intenção de votos. Me senti, mais uma vez, pequeno e acuado pelo túnel. Tive medo de voltar a dormir e não mais chegar sequer a achá-lo. Estávamos, à um momento, tão perto de sua saída e mais uma vez prontos a brecar nosso carro e talvez até iniciar uma marcha ré.
Mas o sono me pegou e entrei novamente na órbita do faz de conta. Sonhei, pelo menos desta feita, que o Flamengo era bi-campeão nacional.