domingo, 30 de janeiro de 2011

O PADRE MAX

Eu acho que as coincidências são que nem as bruxas: a gente acredita que elas não existem, mas que elas existem, existem!

Um dos grandes ídolos que tive em toda a minha vida foi e é o Chico Anysio. Uma inteligência invulgar. Uma rapidez de raciocínio, difícil de ser equiparada e acima de tudo um amante de tudo que a vida pode lhe proporcionar. Tem um texto preciso, curto e de fácil assimilação. Seus livros, escreveu quatro, são hilários. os tenho todos. Ele e o Jô Soares, em meu parecer, são de há muito, os dois maiores homens shows da área de humor brasileiro. Capazes de contagiar e hipnotizar uma plateia, sozinhos por mais de horas.

Nunca tive contacto com nenhum dos dois, embora como eles eu estivesse morando no Rio de Janeiro na mesma época em que ambos atingiam o ápix de seus estrondosos e respectivos sucessos, ali na Lagoa, no teatro do Ricardo Amaral, com shows sequenciais que arrebatavam a platéia todas as noites, durante quase uma década. Tive o privilégio de assisti-los também.

Mas, quando casei, há trinta e três anos atrás, com a Cristina (aniversário que irei comemorar em dois dias) tive como padre, um que estava em plena moda no Rio de Janeiro: o padre Max. Era igualmente oriundo de Maranguape, e para deixar a situação ainda mais divertida, tinha a cara do Chyco Anysio. 

Não sei se foi o Zózimo Barroso do Amaral ou outro colunista social qualquer, que um dia escreveu, que o Padre Max era irmão do Chico Anysio, até então, o único ilustre descendente que Maranguape que o universo conhecia. Devia ser, pois a semelhança, entre os dois, era simplimente incrível, assim como aquele incomparável timbre de voz. Além de tudo, o padre Max era dono de monólogos incríveis e como o humorista, tinha igual presença de espirito.

Anos depois quando ele esteve encabeçando o altar na celebração do casamento do Chico com a ex-ministra Zelia Cardoso de Mello, esta com seu bebe nas mãos, não tive dúvidas que deviam ser irmãos. O casal Gisella e Ricardo Amaral foram os padrinhos e tudo ao som de harpas. Foi um casamento badaladíssimo, regado a champagne e caviar, e a grande piada da noite, foi quando ao final da celebração, o padre Max pediu que todos os 300 convidados presentes a cerimônia mantivessem sigilo, pois, aquela celebração lhe poderia trazer problemas na Cúria. Grande piada! Segredo no Rio de Janeiro é que nem palito de fósforo. Funciona por segundos...

No dia seguinte era o comentário nas praias e nos botecos do Rio e estava estampado em todas as colunas sociais. Não sei se esta cerimônia causou algum tipo de problema ao padre Max. Sei apenas pelo próprio Chico, anos depois, que este casamento sim, lhe causou muitos problemas.

Um dia escrevi um livro. Algo de há muito que tinha em cabeça. O Submarino da Lagoa Rodrigo de Freitas. O fiz sobre as lembranças de coisas que meu pai havia me contado, quando eu era ainda muito garoto. Fatos relativos a neura que tomou conta dos habitantes do Rio de Janeiro, durante o período da segunda guerra mundial. O pavor que os alemães invadissem o Rio de Janeiro. Navios cargueiros e de passageiros haviam sido postos a pique na orla marítima brasileira. Acusavam os alemães pelos naufrágios. haviam outros que diziam ser submarinos norte-americanos para nos fazer entrar na guerra contra os alemães, pois, vargas, em cima do muro, procurava faturar do dois lados. Sei lá! O que sei é que tinha pescador que saía ali do posto seis em Copacabana, a noite de lanterna em punho, para policiar a Baia de Guanabara. O que eles fariam se achassem um, não tenho a menor ideia. Talvez uma lanternada!

Ai eu tive a ideia de montar uma cena com um Submarino, avistado por um bebado na lagoa Rodrigo de Freitas e como sempre cruzava com o Fernando Sabino - outro de meus ícones -, na Praça General Osório,  em meu diário caminho para a praia, um dia contei a ele minha ideia. Ele deu muita força e me garantiu, que se eu precisasse de alguém para escrever o Prefácio, ele teria imenso prazer.

Lembro ter comentado com ele, que quando a boneca do livro estivesse pronta, gostaria que ele lesse para dar o seu crivo, ao que ele respondeu que o faria, mas que por via das dúvidas mandasse uma cópia para o Chico Anysio e outra para JÔ, pois, eles seriam os críticos mais severos a uma obra deste tipo.  Sua frase foi curta e direta: se você fizer o Chico e o Jô rirem, o Brasil inteiro se esbaldará!

Quis o destino, que ele viesse a nos deixar antes que a boneca estivesse pronta. Mas nunca esqueci de seus conselhos e pedi a editora para mandar as duas bonecas, aos humoristas que ele havia indicado.

O Jô nunca respondeu. Não sei se não gostou ou mesmo se sequer tenha lido. Como é uma pessoa altamente educada, creio que possa ser a primeira situação e ele preferiu não magoar a um autor iniciante. O Chico recebeu numa sexta a tarde em seu apartamento da Barra e no sábado, já pela manhã, ligou para o meu editor tecendo os maiores elogios a minha obra. O meu editor, aproveitou a deixa e perguntou ao Chico se poderia transcrever aqueles comentários que acabara de ouvir pelo telefone e apresentá-lo em forma de Prefácio. O Chico topou e em menos de 20 minutos, mandou via faz, o prefácio assinado, que tenho aqui na moldura deste blog, para todo o sempre.

Nunca tive coragem de perguntar ao Chico, se o padre Max era seu irmão. Em algumas ponte aéreas que nos encontramos ele me contou muitas facetas de suas vidas, pois, ele viveu muitas e todas de forma intensa. Mas em nenhuma delas o padre Max foi lembrado. Um dia tomo coragem e pergunto. sei que para muitos, irmão de gente famosa é que nem vice-presidente. Existe mas nunca é lembrado. Todavia, até lá, se alguém souber o paradeiro do famoso Padre Max que me diga. E se o conhecer lhe avise, que o casamento que ele celebrou do Chico não durou muito, mas o meu parece que é para sempre.