sábado, 15 de janeiro de 2011

BRETCH ERA UMA BESTA!

As vezes me dá um branco. Sinto-me incapaz de escrever. Os condescendente, na sua eterna volúpia de contemporizar, diriam ser apenas a falta passageira de uma inspiração. Lorotas! De há muito cheguei a conclusão de quem está certo são os realistas. Esta falta de inspiração é desculpa de quem chupa vidro achando estar saboreando gelo. Visão falsa. O que falta mesmo é um mínimo de imaginação.

Desde guri me formei lendo Nelson Rodrigues e tendo a nítida noção que Bretch era um besta, que Sheakespeare não passava de um laranja e que o intelectual brasileiro era uma escarradeira para os deleites de Jean Paul Sartre, quando aqui veio chupar jabuticabas, com despesas pagas. Assim, formei-me como leitor e posteriormente como homem e escritor. Tudo às margens do óbvio ulutante apresentado pelo Nelson.

O tempo me fez enxergar que a grande importância da obra de Nelson Rodrigues estava contida no simples fato que ela fora escrita com o fito de não ter importância alguma. Ela apenas fora idealizada para demonstrar, que naquilo que estava à nossa frente, por mais simples que pudesse ser, estavam contidas todas as verdades filosofais. E nós, simplesmente a procura de falsas inspirações nos recusávamos a ver, pois, não possuímos a imaginação necessária para notá-las. Simplesmente olhávamos e não víamos, a empada com a mosca pousada sobre si no botequim, o cego que acompanhava o movimento glúteo da mulata, a grafina de narinas cadavéricas que perguntava o que era a bola em sua primeira visita ao Maracanã, do decote que nos saraus do Leblon procurava se impressionar com o intelectual de sucesso momentâneo. Enfim, nem ao Sobrenatural de Almeida estávamos preparados a aceitar, bem como como o fato que apenas  os fracassados chegarão a Deus.

Por isto sentíamo-nos felizes. Afinal o ignorante é o mais feliz dos homens, pois “inabita” a realidade. Vota no Tiririca, no Cacareko e até no macaco, achando que está fazendo critica a um regime. Coloca a Dilma no poder, pensando que está eternizando o “homi”. Desfila no sambódromo vestido de príncipe, quando não tem onde cair morto, se um mal súbito lhe visitar no minuto seguinte. E dá graças a Deus que só sua casa e seus pertences foram levados pelas chuvas, desta vez. Não culpa o governo, a ninguém. Resigna-se.

Nós brasileiros somos os resignados. Acreditamos que Cabral estava a caminho das Índias, que nesta terra tudo se podia plantar, que tivemos uma independência heroíca, que ganhamos a guerra do Paraguai, que abolimos a escravatura pela piedade de uma princesa beata, que deveríamos ter ganho a Copa de 50, que o Jânio Quadros poderia salvar o Brasil, que o Lula tinha uma aceitação popular de 85% mesmo com sua candidata não alcançando 60% nas urnas com votos obrigatórios, que o Dunga poderia nos trazer a Copa, que esta foi a última enchente... Enfim para mim isto é muita inspiração, mas uma total falta de imaginação, pois, imaginação para mim é o discernimento de ver o oculto â sua frente e entendê-lo. Como o Nelson tão bem o faria.

E sempre que me tranco em casa ou me refugio nos livros, no som de óperas ou na simples passada de olhos pela televisão, perco a minha capacidade de escrever. Simples de descobrir porque. Estou me afastando da realidade e penetrando em meu próprio mundo. O mundo da Cotia, sujo seu prazer estético é ter um orgasmo  bem no centro do Campo de Santana.  Sim, o campo de Santana já teve cotias. E como diria o Nelson, a cotia amando tem o mesmo prazer que nós temos no quinto ato do Rigoletto. Quando assisti pela primeira vez o Rigoletto e cheguei a seu quinto ato, finalmente entendi onde Nelson queria chegar. Tive um acesso de riso e quase fui expulso do teatro.

Por isto hoje fotografo o momento e vejo nele toda uma realidade.

Saio as ruas, sento em um café, vejo as pessoas e o mundo que me cerca e em segundos a imaginação se faz presente trazendo em seu bojo a inspiração que tanto necessito para escrever. As histórias e os fatos estão todos à nossa frente. Na forma de se passar o cream cheese no bagel, de se acompanhar as primeiras noticias em um jornal, de chupar sem resquício de culpa ou pudor o dedo banhado na manteiga, de estar feliz no ocaso de sua vida pelo simples fato de poder compartilhar mais um minuto com o companheiro de tantos anos, de deixar os detrito de muffin para que os pássaros possam saciar sua fome mesmo sendo proibido o fazer, de se falar baixo ao celular sem que a sua companheira tome conhecimento do que está acontecendo, de mesmo ao fundo sacar o que esta acontecendo longe de si, de procurar uma mesa inexistente com o café fumegante em sua mão, de não entender por que cargas de água está sendo fotografado por um estranho, de conseguir manter seus caros tênis sempre  branquinhos, de ser focalizado mesmo se estando em um segundo plano, de conferir o estado de suas unhas e até do pássaro que perdendo o medo de seu dessemelhante o olha com a altivez da superioridade a ele conferida como um ser que pode voar e nós não. Enfim, existe uma história em cada cena, cabe a nós captá-la.

Quanto menos profunda for a sua divagação, mas perto da realidade você se situará. Tudo é simples, somos nós mesmos que as complicamos, tentando ver em tudo aquilo que nos cerca, uma razão. as coisas são porque tem que ser. e nem sempre existirá uma razão para tal.

Razão tinha mesmo o Nelson, o Bretch era uma besta!