quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

MEIAS VERDADES

Se existe algo que me deixa ansioso, este algo são as meias verdades. Não gosto delas, pois, elas incitam em mim, aquele lado que todos nós possuímos da incerteza comum perante opinião alheia. Vou me explicar melhor.

Aprendi no Brasil que quanto maior foi o ídolo, maior é o volume de meia verdades que irão pairar sobre ele, pois o Brasil é aquele pais em que o ídolo não tem prazo de validade. Sua fama pode durar quinze minutos, ou não mais de quinze segundos. Depende, única e exclusivamente da situação. Somos um pais que um Roberto Jefferson pode passar de um segundo a outro, de vilão a salvador da pátria. Com apenas uma certeza. Mesmo cassado, em seus direitos políticos, um dia ele volta e é reeleito.

No Brasil o que se vê, ouve ou lê, não é bem assim.

Vocês querem uma outra prova disto?

Até semanas atrás, o centro avante Jonas era o todo poderoso ídolo do Gremio. Artilheiro do último Brasileirão, foi vaiado incessantemente por sua própria torcida este fim de semana. Irritado depois de fazer os dois gols, que deram a vitória a seu time, retrucou, insultando a aqueles que o insultavam. Foi instaurada uma guerra entre ele e a torcida. Ontem sai a noticia que foi vendido para o Valência da Espanha. E qual foi a reação? Aplausos daqueles que o queriam fora do time ou exigiam dele uma maior participação? Não! Ao contrário, muito choro e agora indignação.

Isto apenas prova que tanto na vaia, quanto no insultos brasileiros, ambos se mostram embebidos em meia-verdades. Imaginem na politica e no elogio.

Vocês já notaram o "homi" falando do Sarney e este deste? Parecem dois amigos que se respeitam desde garotinhos. Mas a gente sabe que não é bem por ai. Os interesses - sejam eles políticos, econômicos ou sociais - selam de forma indiscutível as meias verdades, principalmente entre politicos, pois assim tentam nublar a mente dos observadores. Como se todos nós tivéssemos uma dependência de sobrevivência atreladas ao recebimento de cesta básicas. Como todos nós fossemos dotados de QIs de símios atacados por retardamento mental.

Nós brasileiros, evoluímos em alguns pontos, mas nos mantivemos reacionários na maioria dos outros. Mesmo em um lugar como o Rio de Janeiro, reconhecidamente até pelos paulistas, como uma área mais aberta a discussão novas idéias, sinto que "involuímos" em certos aspectos. Tomemos como exemplo nossa mídia escrita. Ela encolheu, murchou, "escafodeu-se". Só não desapareceu de vez, pois, ela é ainda necessária para a publicação de anúncios, pois a política econômica brasileira, colocando em prática outra meia verdade, exige que nós brasileiros consumamos - acima de nossas possibilidades - para o bem da industria nacional e dos bancos que embolsam juros extorsivos, assim sustentem a política de um dólar baixo, que a prejudica na competitividade perante o similar manufaturado no exterior. E como o governo tenta inibir o avanço do produto externo? Aumentando as taxas. Criando outros monstros. Outras meias verdades. E o povo se endivida, acreditando que teve uma melhoria em seu padrão de vida.  Melhoria do padrão de vida do povo brasileiro...Existe meia verdade maior do que esta?

Não temos mais movimentos retrógrados como o TFP, Tradição Família e Propriedade, ou mesmo o CCC, o comando de Caça aos Comunistas, mas em compensação temos o MST, o Movimento dos Sem Terra. O PT, um partido que o que tem menos hoje, são trabalhadores e o BBB, o Big Brother Brasil que é para mim o depositário das maiores "inverdades" até já hoje cometidas pelo gênero humano. E olhem a sua aceitação popular...Notem como um bem dotado como o Pedro Bial se aproveita do mesmo...Sua audiência é prova de como adoramos as meia verdades.

Sou de um tempo em que a gente tinha fartura de informação. Só na minha praça - a do Rio de Janeiro - que me lembre, eram distribuídos mais do que dez vespertinos, sem contar a Folha e o Estadão, produtos da vizinha São Paulo, igualmente bem aceitos, principalmente aos domingos. Afinal o carioca tinha o melhor cenário para ler: a praia. Pois bem, você possuía realmente acesso a toda e qualquer tipo de informação, discutida de distintas formas. Quanto mais o jornalista se aproximava da verdade, mais era respeitado e lido. Quanto maior era polêmica, melhor era a receptividade. Não dava para se viver da publicação de meia verdades, apenas das opiniões politicamente corretas, das adulações veladas a aquele que o patrocinava, pois, o seu competidor o acusava e o engolia.  Se você tinha que puxar o saco, quase o arrebentava. Se tinha que baixar o pau, o fazia sem pena ou medo de represálias. Resumindo, onde você procurasse, fosse no Globo, no Jornal do Brasil, na Última Hora, nas Tribunas da Imprensa e Livre, no Correio da Manhã, no Diário de Noticias, no da Noite, no Dia e até no Jornal do Comércio, achava verdades.  Do tamanho que pudessem estar contidas. Que poderiam não ser as suas. Mas pelo menos eram a de alguém. Ou pelo menos podia se contentar com comentários e noticias que se aproximavam da mesma.

Hoje, não creio que possamos dizer a mesma coisa. Tudo é pasteurizado, medido e acondicionado em embalagens bonitinhas e politicamente corretas. A Internet, que poderia somar, hoje vive praticamente dos sítios de relacionamento, mais lidos e acessados que os informativos. Uma lástima. Um degeneração da raã humana, a qual um dia muitos destes pertenceram.

Todo dia acordo, olho a paisagem que posso usufruir no momento e me pergunto: para onde foram as nossas verdades? A resposta é clara. Muitas delas morreram com a tomada do poder por parte do PT. Teremos tempo de um dia resgatá-las? Acho difícil, pois, embora não seja pessimista, penso que o povo se acostumou a elas. A vaiar pela manhã e antes do anoitecer acariciar a aquele a quem havia vaiado. Acostumamos-nos a viver de meia verdades. Talvez elas são mais doces...