segunda-feira, 7 de março de 2011

PAGUE PARA ENTRAR, REZE PARA SAIR E BATA PALMAS NO FINAL!

Entendam que isto não é um artigo sobre carnaval. Trata-se de uma constatação de como se atingir o sucesso, tendo como base, pouco mais do que uma massa, praticamente falida.

Qualquer trabalho deve ser respeitado, mas assistir as Escolas de Samba de São Paulo e do Rio de Janeiro, já é um diferença considerável. Imaginem o canyon hoje existente entre a Unidos da Tijuca e as outras escolas do Rio de Janeiro. Este mesmo canyon que um dia o Salgueiro construiu com a direção de Fernando Pamplona e a Beija Flor assumiu para si, com o esplendor de  Joãozinho Trinta, aquele que sempre acreditou que pobre gosta mesmo é de luxo. Anos depois, o nosso presidente Lula provou que esta tese do Joãozinho Trinta sempre foi verdadeira. Sim senhores, houve a era Fernando Pamplona, a era Joãozinho Trinta, agora definitivamente vivemos a era Paulo Barros. A era do mistério, da surpresa, da coreografia e do espetáculo maior. A era que une o profissionalismo, à alegria de sambar, de se criar um espetáculo. De fazer as pessoas esperarem com ansiedade o desfile da Unidos da Tijuca e estarem gritando bi-campeã, antes mesmo dela pisar na pista. A partir de 2010, o resto passou a ser o resto. Aulas de organização e capacidade profissional, criaram uma nova página na história das escolas de samba, que até que provem ao contrário, para mim é o maior espetáculo popular do planeta.

Mas porque isto acontece nas Escolas de samba e não nos governos de nossas cidades, estados e mesmo do pais? Ou mesmo em nossas agremiações turfisticas e futebolísticas? Há de se convir que as escolas de samba, são bem mais organizadas que os nossos governos e nossos outros clubes. Elas hoje apresentam um espetáculo ao vivo que  só Hollywood é capaz de reproduzir, mas o faz com a ajuda dos efeitos especiais criados pelos computadores. O Paulo Barros, os encena aos olhos de todos, como na Broadway ou no Circo de Soleil. E aqui entre nós o faz melhor, num exíguo espaço de tempo e sem contar com o efeito de um palco mecânico e a ajuda de luzes especiais.

Tudo é uma questão de quem chefia. O que falta ao Brasil e nossos clubes são lideranças inteligentes. Estas certamente sobram nas Escolas de Samba. Os "presidentes" das mesmas, não distribuem empregos de cabide, não colocam sócios para cargos que exijam profissionais. Afinal é o deles que está queimando. Contratam os melhores profissionais do mercado. Por isto tem resultados. Imagine se nossos ministros fossem igualmente assim escolhidos. Por suas capacidades, não pelo partido que representam, em defesa de uma inócua base de governabilidade. Que na verdade não governa nada. Apenas divide espólios...

Muito do que é gasto nas Escolas é a fundo perdido. Está certo que elas faturam. Mas daria para cobrir todos os gastos? Duvido. O mesmo poderia acontecer com o Brasil, sem a necessidade do fundo perdido de projetos caça votos. Bastava-se moralizar os nossos três poderes e colocar atrás das grades todo e qualquer um que se valesse das instituições governamentais para faturar para si, seus parentes, amigos e empresas de seus interesses, algo escuso. Mas é claro que para isto teríamos que eleger um suicida. Afinal por razões similares um tal de Jesus Cristo foi crucificado há milênios.

As escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro, são a prova viva que temos um povo que unido pode fazer as coisas acontecerem. Basta chefia e organização. Não interessa a classe social que forma este povo. Ele tem a garra, quando há vontade de fazê-lo. Logo, passa a ser um caso de motivação. Mas como motivar-se com os exemplos que vem de cima? Como deixar de eleger os Tiriricas da vida, se o que existe, são filhos e netos daqueles que sempre se locupletaram do poder.

Houve um dia que política não era emprego. Era doação de seu tempo livre em prol de algo maior. A comunidade. Existem ainda paises que adotam esta forma de ser. Mas no Brasil passou a ser feudo familiar. Um entra e a família se garante para todo o sempre. Temos hoje o sistema mais parecido com o monárquico. O rei sai e coloca um herdeiro. Como na história de Don João VI e Pedro I. Seria isto voltar a nossas origens, ou regredir no tempo e no espaço? O herdeiro assume e divide o governo, como este fosse uma colcha de retalhos, para aqueles que garantirão que todos os seus projetos serão aprovados no legislativo. E estes que compõem o legislativo distribuem os cargos para que possam ser reeleitos e assim manter o status-quo, aquele que fará o novo rei e seus futuros herdeiros, se manterem satisfeitos para todo o sempre.

Para quem não sabe ou não teve tempo de pesquisar, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Tijuca foi fundada em 1931 no morro do Borel. Apenas a Mangueira e a Portela são mais antigas do que ela no Rio de Janeiro. Em 1936 ela ganhou o carnaval do com um enredo chamado Sonhos Delirantes. Foi uma inovação na Praça Onze, onde os desfiles eram realizados. De 1960 a 1980 ela saiu do mapa das escolas do grupo especial. Em 1981 voltou ao grupo principal, mas de melhor uma quinta colocação em 2000.

Dai para frente a luta para apenas permanecer na primeira divisão do carnaval carioca. Até que o Lixa assumiu. Fernando Horta, o Lixa, é o seu presidente e quando assumiu, pelo que me consta mudou a sede de sua agremiação do morro do Borel, onde a situação do tráfego de entorpecentes era insustentável, para o bairro de Santo Cristo e em 2004 contratou Paulo Barros, que em seu primeiro ano quase foi campeão com o revolucionário enrêdo sobre o DNA. Foi vice-campeã como voltou a ser no ano seguinte, por um décimo de ponto quando perdeu para a toda poderosa Beija Flor. Ganhou o estandarte de Ouro, mas não levou o troféu que mais desejava. Em 2006 o inesperado. Novo estandarte de Ouro, mas uma até então não explicada sexta colocação. Problemas na escola. Paulo Barros foi para a Viradouro em 2007. Dois carnavalescos o substituíram, mas não funcionou, mesmo ela pontuando mais que a Viradouro, chegou na quarta colocação. Muitos acreditaram que isto provara que a escola era maior que o carnavalesco. Ledo engano.

A quinta colocação em 2008 e a nona em 2009, apenas provaram que é da união de duas genialidades que se faz o sucesso. Em 2010 Paulo Barros foi trazido de volta. Dizem que com plenos poderes e carta branca para gastar. E no que isto se transformou? No termino de um jejum de 74 anos, com a vitória inconteste do carnaval com aquela obra prima que foi  É Segredo e ainda por cima garantindo mais um Estandarte de Ouro.

Ontem eles abafaram com Esta noite levarei a sua alma. A verdade é que não dá graça de ver as outras escolas depois de assistir ao espetáculo de Paulo Barros com o apoio irrestrito do Lixa. Que este ano vai tentar pela segunda vez a presidência do Vasco da Gama. Tenho medo que este português de nascimento, mas carioca por paixão, venha a atrapalhar a vida do meu Flamengo. Se lembram o que um outro Horta fez no Fluminense anos atrás. Isto me faz pensar em pagar para entrar e rezar para sair...

Fico pensando, não seria hora de nós brasileiros, elegermos algo semelhante ao Lixa para nos levar ao sucesso?