quarta-feira, 9 de março de 2011

COSMOGONIA INDÍGENA

COSMOGONIA INDÍGENA


Estamos longe do último carnaval. Aquela época do ano, em que o brasileiro sai do ar oficialmente Tempo de sonhos. O favelado vira príncipe e o milionário se veste de indio. As cidades se enchem de turistas. Principalmente o Rio de Janeiro. Onde os crimes se triplicam, a projeção de aumento da população de concretiza para 9 meses à frente e imediatamente são esquecidas as mortes das enchentes na região serrana, bem como a morte por asfixia da menina de seis anos achada debaixo da cama de um hotel em Caxias, o desmoronamento das casas construídas sobre lixões, o mensalão cujo julgamento ainda não teve o seu início etc...etc... e tal. Isto para se ater, apenas a algumas anomalias acontecidas nesta cidade que amo, mas temo.


Mas na verdade vivemos um eterno carnaval. Afinal, no bloco de dona Dilma, tudo se dança. Qualquer que seja o ritmo adotado. O importante é se dar bem. Imaginem quando chegar a Copa e as Olimpíadas. Um amigo outro dia disse que se sentia aliviado e tinha que levantar as mãos para o céu, pois, tinha a alegria de morar no Rio de Janeiro. Fiquei feliz e quando lhe dei os parabéns, seu comentário me fez engolir as palavras. “Acostumei-me a levantar as mãos para o céu, pois, sou constantemente assaltado. Só neste inicio de ano, já o fui em três oportunidades”.

Fico pensando aqui com os meus botões. Qual seria o maior problema de nosso Rio de Janeiro, ou extrapolando para um campo maior, de nosso pais, de nunca sair do estágio de um laboratório de terceiro mundo? Seria a obsolescência planejada de nossos políticos profissionais? Muitas vezes perempta,  sempre descartável, insólita e certamente corrupta? Seria que esta corrupção que impera, sempre que um poder é dado para alguém que queira levar vantagem em tudo? Mas será que não haveria alguém que pudesse não se interessar em levar vantagem em tudo? Poucos parecem ser os que não querem... Ou seria a nossa falta de memória? Nossa, eu digo, minha, sua, enfim daqueles que votam e podem mudar a história deste pais. Somos nós que escolhemos estes que agora criticamos. Não haveriam opções melhores?

A arte de esquecer é a nossa maior virtude. Apagamos, com rara propriedade, da mente aquilo que um dia nos deixou fulos de raiva. Somos um povo generoso. Não guardamos mágoas. Em alguns casos, apenas futebolísticas. Bom de um lado. Péssimo do outro. Afinal, esta nossa peculiar “generosidade” acaba por gerar um processo irreversível, onde a corrupção se renova a cada ano, pois, aqueles que fazem parte dela, tem ciência de sua impunidade e que novamente serão reeleitos. E porque esquecemos? Porque a imprensa abandona um escândalo para se pendurar em outro. Escrevem num dia, esquecem no outro. E nunca voltam atrás para verificar o que foi feito para sanar esta ou aquela anomalia.

Estaríamos sendo atacados por aquela cosmogonia indígena dos tempos de Cabral? Onde nosso solo é de nós roubado, embaixo de nossos narizes, e nos contentamos com os espelhinhos, hoje representados pelas bolsas famílias? Creio ser este o nosso colesterol político.

Há de se convir, que o político brasileiro tem aquela fluência verbal. Aquela capacidade de comover a aqueles que se impressionam com qualquer coisa. Quanto mais nascido ao norte do pais, mais a usam em favor deles próprios. Suas respectivas veemências são o apíx hegemônico da tolerância mínima de um ser que tenha um QI superior a de um símio.  Outrossim são eles – nossos políticos e não nossos macacos - os elementos com a mania de assumir a humanidade, mas que na verdade querem mesmo é trazer para si o lucro que esta humanidade pode lhes aferir. Uma situação cômoda daqueles que acreditam que o Brasil não vale a pena. O que vale é o que se pode tirar dele.

Solenizamos o câncer que ora se alastra em nossos três poderes. Poderes estes, que são muito bem pagos e possuem imunidades nunca antes imagináveis. Na verdade o político brasileiro tem as mesmas regalias que os agentes do M-16 do serviço secreto britânico: ao invés de licença para matar, possuem a licença para a maracutaia, pois, como é reconhecido, aqui tudo termina em pizza.

Voltando ao gênio Tim Maia que dizia que “o Brasil não dá certo porque aqui prostitua se apaixona, cafetão tem ciúmes e traficante se vicia”, acrescentaria, que político tem imunidade e o povo amnésia.