quarta-feira, 16 de março de 2011

AFINAL, A QUEM PERTENCE A TAÇA DAS BOLINHAS?

Uma vez o finado presidente John Kennedy disse em um de seus discursos, uma frase que até hoje serve como legenda aqui neste pais: “Não pergunte o que este pais pode fazer por você e sim o que você pode fazer por este pais”. Pela mesma época o presidente Charles DeGaule da França sugeriu que “o Brasil não era uma pais sério” e o Tom Jobim, que muito menos “era habitado por principiantes”. Passados alguns anos, o ex-presidente Fernando Collor veio com outra frase lapidar, logo após a sua posse, já aqui publicada que soou muito bem, até todo o Brasil reconhecer a sua verdadeira face: “Aos amigos aqui presentes, apenas um favor. Daqui para a frente não me peçam favor algum”. Seguiu-se o ex-presidente metalúrgico com aquela infinidade de furtos das idéias e projetos alheios: “Nunca na história deste pais...” Logo, chegou a hora de eu criar a minha frase e aqui vai ela: “Nada podemos fazer contra o Brasil, que este mesmo Brasil já não tenha feito contra ele”. Pois é, acho que é plágio...

Sou arquiteto e sempre aprendi que nada se cria, tudo se copia e melhora-se. E me lembro que vó Adelina sempre me alertava ser “melhor se ter uma boa copia do que um péssimo original”. Sou obrigado a concordar. Ademais viemos do exemplo recente, de um presidente que assumia toda e qualquer idéia alheia como própria e com premissas e promessas fazia a todos crer, que tudo saia de sua cabeçinha. Talvez o poder do auto convencimento impetrado pelo excesso de álcool... Mas vamos e venhamos, com um pouco de boa vontade dá até para aceitar que minha frase seja igualmente bombástica, vocês não acham?

Se é ou não, o que penso ser válido, é o conteúdo da mesma. A começar do Rio de Janeiro, que na verdade é o seu pior inimigo.  Dotado de belezas naturais que fizeram até São Pedro interpelar ao Senhor e perguntar o porque de tantas benesses, o Rio de Janeiro se acostumou a receber tudo de mão beijada, a começar de quando foi transformado em capital. Pouco de desenvolveu industrialmente e mesmo no teor turismo, o que naturalmente seria o seu maior ganha pão, desleixou. Achou que o que tinha para oferecer sobrava na turma e faria com que os turistas que aqui comparecessem se tornassem escravos de seus encantos. Tanto assim, que hoje, o carnaval do Rio de Janeiro, já não me parece o mais popular entre os tantos outros existentes espalhados pelo Brasil. Por exemplo, o Galo da Madrugada me parece mais simpático hoje que o Cordão do Bola Preta, entre os blocos com mais de um milhão de seguidores. Os trens elétricos da Bahia, faturam mais para o Carnaval Baiano que a Banda de Ipanema. Afinal depois de ser deputado, a maior fonte de faturamento existente no Brasil são os Abadas baianos. Que fenômeno se transformou a sua comercialização. Além de organizar e faturar, criou uma espécie de troféu para aqueles que os adquirem. Sacada genial, que o Rio de Janeiro, não conseguiu colocar em prática. E depois dizem que os baianos vivem da pesca...

Aliás, nós cariocas, estamos que nem os ingleses, que inventam tudo e depois são ultrapassados por aqueles que se utilizaram de seus inventos: da sacanagem política a todo e qualquer esporte sobre a face da terra, passando pelo imperialismo e o monopólio dos comércios exteriores. Mas voltemos aos trilhos.

Nos cariocas deixamos o Rio de Janeiro se deteriorar, elegendo gente da pior espécie para nos governar. Alguns o fizemos por pura sacanagem, outros por interesses pessoais e houve até gente que o fez acreditando que as coisas poderiam mudar. Como mudaram: só que para pior! E tudo isto por que? Simples, porque  aqueles que não valem vintém algum se organizam. Nós que poderíamos trazer de volta a verdadeira face do Rio, nos limitamos a troçar ou mesmo fingir que nada pode ser feito e vamos a praia felizes e satisfeitos com o sol que sempre nos aquece. Até a primeira chuva.

Pode. Sim pode e deve ser feito. E só depende de nós mesmos. Basta nos unimos e nos conscientizarmos que da união se faz a força, e da força as devidas mudanças. Foi do peso exercido por esta força que o Collor pegou o seu boné, como da mesma forma originou o ACM a pedir para ir ao banheiro e abandonar o Senado e o Dirceu ter que assumir – a contragosto - o papel do cardel Richelieu, quando na verdade sonhava ardentemente, desde criancinha, com o cargo de Rei Sol. Mas para que possamos modificar as coisas dentro e fora de nosso Estado, precisamos da ajuda dos Estados vizinhos. Afinal até quando São Paulo continuará a eleger os Maluff, os Clodovils, os Titiricas, as Erondinas, o Cacarecos e os macacos José e ainda vender a imagem, que o paulista sabe o que quer e nós cariocas não? Até quando aceitaremos o lema do “rouba, mas pelo menos faz”?

Fala-se da Amazônia. Mas qual é o conhecimento de causa que a grande maioria nós brasileiros temos sobre ela, se preferimos ir a Miami do que a Manaus? Alguém tem idéia qual é o tempo de vida de uma castanheira ou de um jacarandá? Se eu afirmasse serem de 600 anos para a primeira e 1,200 para o segundo, vocês contribuiriam para que eles fossem preservados? Gastariam menos papel e reciclariam tudo que está a seu alcance? E se eu lhes avisasse que 1/3 de toda a fauna e flora deste planeta redonda ali residem? Isto os fariam visita-la para tomar conhecimento in loco do fato ao invés de bater perna no Aventura Mall?

Sofremos da síndrome da falta de assunto. Nossa visão de nossos próprios problemas é desequilibrada e assimétrica. Nos tornamos impotentes perante a violência e lenientes ante a corrupção daqueles que nós próprios elegemos. Ou será que tem gente que ainda acredita que o político corrupto nasceu na praça dos Três Poderes em Brasília? Mas teríamos como dar a volta por cima.

Quem acompanha, como eu acompanhei por grande parte de minha existência a evolução das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro, acredita que com união e força chega-se onde se quiser. Mesmo no Brasil e mais especificamente no rio de Janeiro. O desfile do Sambódromo do Rio de Janeiro é o maior espetáculo da terra. Quem duvidar que compare! Não tem Michael Jackson, Madonna, Broadway ou Lincoln Center que possa fazer algo sequer similar. Talvez os Beatles nos áureos tempos. Mas eles foram divindades. Não contam... E no caso das escolas de samba tudo é construído e produto da união de comunidades – a maioria das quais carentes - que querem viver em uma noite, aquilo que são privados de viver o resto dos 364 dias do ano.

Levantemos nossa vozes e deixemos de baixar a nossas cabeças. O problema do quintal do vizinho tem que ser visto por nós como também nosso. Mesmo que nõ tenhamos mais quintais. 


Tomemos as escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro como exemplos e copiemos a sua essência e estrutura, pois, até nas Copas do Mundo ganhamos, até aqui, pelo excesso de qualidade futebolísticas que temos, não pela organização de nossos dirigentes. Afinal até hoje, não decidimos se a Taça das Bolinhas é do São Paulo ou do Flamengo...