quinta-feira, 10 de março de 2011

O MAIS BELO PALCO, ENQUANTO DUROU

Acho, que de alguma forma, perdemos o fio da meada. Quando? Dentro de nossas próprias casas. Toda a tecnologia moderna foi criada para acabar com o quintal, com as brincadeiras na rua, com as esquinas. Perdemos o contato com os vizinhos, o espírito de bairro e passamos a ir de A para B, da forma mais rápida possível e aquela que pudesse trazer mais impessoalidade. Este foi verdadeiramente o inicio do fim.

Os morros e os subúrbios, ao contrario, ainda mantém velhos hábitos., principalmente entre os de mais idade. Não perderam de todo ainda, os vínculos comunitários, das cadeiras na calçada, do trago no botequim, das conversas de esquina, tudo aquilo que gera convivência, cordialidade e solidariedade.

A zona sul perdeu seus contornos, apagou-os de suas mentes. Evitam em rememora-lo. E esta perda de fronteiras, com o tempo, se embaralham em dúvidas, em falta de expectativas, em desilusão passageiras e iniciam o pesadelo de se viver para si, por si, sem se importar com o que acontece a sua volta. Sem árvores para subir, quintais para se correr e muitas vezes longe das praias que ainda agem como catalizadores, crianças se refugiam por trás de telas de computadores a receber informações que nem sempre são as mais apropriadas para elas.

E a casa se transforma em casulo, a rua deserta de sua vida, o bairro perde suas características e tudo isto vai influir no desenvolvimento da cidade. Se torna impessoal, fria, sem uma coesão social que mantenha tolerâncias entre aquelas que a habitam. Este hedonismo carioca, cria uma metonímia, condensando-a como um todo. Sem perdão. Sem pudor. Descaradamente.

Sei ser impossível, em uma cidade como o Rio de Janeiro, voltar-mos a construir os quintais. Imaginar que as pessoas possam colocar suas cadeiras e sentarem-se às portas de suas casas em suas ruas. Que se possam nelas se jogar peladas ou brincar de amarelinha. Principalmente na zona sul. Mais difícil ainda seria afastar as crianças de seus brinquedos eletrônicos. O que fazer então? Aceitar com submissão a inevitável queda de qualidade de vida?

Nem todo passado é perfeito. Nem todo presente é imperfeito, mas há de se convir, que havia mais prazer de se morar em Ipanema do que agora. De se sentar no Veloso, na mesa ao lado do Tom e do Vinicius. De ver as garotas de Ipanema deslizarem, uma a uma, a caminho do mar ou simplesmente espera-las nas areias quentes – e limpas – da Montenegro. De se ir ao Maracanã, seguro que iria ver a apenas mais um jogo de futebol e não batalhas campais entre torcidas organizadas. De se poder passear pela madrugada pelas ruas do Leblon, sem a preocupação de ser assaltado. De poder saborear um cachorro quente no carrinho do genial a espera do nascer do sol, em Copacabana. De ir a praia com mais, que não apenas sua sunga, sua toalha e o troco mínimo, para o limãozinho. De poder ir aos bailes do Copacabana Palace e do Municipal ver gente e não ter que se preocupar com brigas, e onde a lança perfume era o entorpecente mais poderoso que todos podiam ter em mãos. Outros tempos, outro mundo, outra cidade e consequentemente outra gente.

Dissonância entre décadas, dentro de um mesmo palco. Que foi o mais belo enquanto durou.