sábado, 12 de março de 2011

O DEJETO DO CACHORRO

Seriam apenas os franceses os sujos?

Morei na França e vi coisas do arco da velha. Um amigo ia todos os dias a padaria, comprava antes de voltar para a casa do trabalho, duas bisnagas e sem embrulha-las as jogava na mala de sua SUV. A mesma mala que no dia anterior ele levara seu cachorro ao veterinários, pois, segundo ele havia, sido atacado por sarna. De um outro, ouvi que mais de dois banhos por semana – eu disse semana, não dia - estraga a pele. Logo, sei da fama e que em muitos casos não é gratuita.

Mas nas ruas de Paris, como nas de Londres e New York embora existam mendigos, crianças pobres, o que não se vê são desejos de cachorros e muito menos carros estacionados nas calçadas. No Rio de Janeiro, além dos mendigos, das crianças pedintes, temos os dejetos e os carros fazem parte da paisagem. São dois tipos de poluição. Mas ambas parecem fazer parte do cenário. E nada muda, toda vez que lá vou. Principalmente naquelas áreas chamadas de mais bem habitadas, como o final do Leblon e certas áreas de Ipanema.

Nossas casas e nossos carros são limpos, mas nossas ruas no Rio de Janeiro estão sujeitas a todo tipo de sujeiras. Entre os franceses, digo que suas casas deixam a desejar  e seus carros são um lixo por dentro. Outrossim, as ruas são impecáveis. Pelo menos há uma consciência social entre os francesas. Nenhuma, entre nós cariocas.

Tomamos dois banhos ao dia, mantemos nossos carros limpos, mas sujamos nossas ruas, acreditando que elas não pertencem a aquilo que consideramos como nossos perímetros de responsabilidade. Um dia recriminei uma emproadas, que fez sua lingüiça defecar e ela respondeu levantando seu nariz – que no mínimo já devia ter enfrentado pelo menos três bisturis: para isto existe o serviço de limpeza publica.

Achei a resposta eloqüente e lhe perguntei quando seu filho morresse, não seria melhor ela jogar o corpo na rua, pois, era para isto que existia o serviço de limpeza pública. Não me deu resposta e continuou a manter seus saltos altos nas pedrinhas da calçada, desviando-se evidentemente do dejeto abandonado por aquela salsicha de quatro patas. Até quando o mesmo ficou ali? Talvez esteja ainda por lá, afinal isto aconteceu há apenas 10 meses...

O que nos faz pensar no Rio de janeiro e digo isto pois, em São Paulo – pelo menos na região do Itaim Bibi – onde normalmente acampo, não tive ainda o desprazer de topar com dejetos caninos, nem de topar minha canela em um para choque de um carro. Mas lá outro hábito – este brasileiro não apenas carioca – já tive a oportunidade de presenciar. O cara chega, para seu carro a frente do edifício – normalmente a frente da saída da garage – a procura da pessoa que vem buscar e mete o dedo na buzina. Por instinto olhei para cima e ninguém apareceu. Interessou-me a situação, pois, como vocês já devem ter notado, sou um curioso para com os detalhes do dia a dia e das situações que considero inusitadas. O cara colocou o dedo na buzina mais duas vezes, num espaço não superior a cinco minutos. Ai a menina veio. Entrou no carro e eles se foram. Aproximei-me do porteiro, pois, porteiro brasileiro se sente um solitário e por uma conversa é capaz de passar toda e qualquer informação que quem pergunte necessite. Ele me respondeu que a menina morava no décimo sexto andar. O que o cara esperava, buzinando da forma como buzinou? Que sua namorada ouvisse?

Este é um outro tipo de poluição. Sonora, mas poluição.

Não se evitam estas anormalidades apenas com educação escolar. Isto poderá funcionar em 15 anos, quando aqueles que receberam estas lições possam ter carteiras e cachorros para sustentar. Mas até lá?

Temos que multar e fazer as pessoas que cometem estes delitos se sintam sem jeito, obrigando-as a corrigir seus erros. Sei que não funcionou com a emproada plástica, mas quem sabe na próxima terei mais sorte...