sexta-feira, 11 de março de 2011

O DIÁRIO DO PANTANAL - 6 - A PESCA DO DOURADO



FAZ UM ANO QUE ESCREVI ESTE TEXTO
E FORAM MAIS DE 1,000 AS PESSOAS QUE O LERAM
POR ISTO O REPITO
AGRADEÇO A TODOS QUE O FIZERAM
E ESPERO QUE ELE CONTINUE A SER LIDO,
POIS, É UM DOS MEUS FAVORITOS

O MEU DOURADO

Sempre ouvi dizer que o Dourado era o rei do rio. Não sabia porque. Até tentar pegar o meu.

Vou abrir o meu parênteses. A pesca funciona para 99% daqueles que a praticam, como um relax. Outrossim para mim, como iniciante não. Quando a linha mexia, as ordens do guia, que diga-se de passagem eram com as melhores intenções possíveis, fomentavam todo o stress. Era pior do que discutir preço de cavalo com árabe. Fisga, recolhe. Dê linha. Deixa ele puxar. Cansa ele. Levanta o anzol, agora baixa e recolhe, não lute contra ele, cuidado com a linha, não o traga ainda para perto do barco. Está cedo para trazê-lo... Era muita ordem para pouco conhecimento. Quando o peixe ao barco adentrava, eu estava talvez mais cansado que minha vitima e com certeza com muito mais stress. Por isto decidi. Se um Dourado adentrar a este barco, aposento-me nesta viagem como pescador e vou fazer as coisa a que me propus. Ler, fotografar e escrever sobre a mesma. Fecho aqui meu parênteses.

Não entendo muito de peixe, mas dentro dos que já tive a oportunidade de ver, ao vivo e a cores, o tal do Dourado me pareceu um dos mais lindos. Sua carne, segundo os experts não é boa e seu excesso de espinhas é a via crucis dos cozinheiros que se aventuram a tentar tratá-la. Todavia, o que faz a fama de peixe é a sua luta para tentar se livrar do anzol. Ele não só luta como os mais raçudos, mas ele salta no ar na tentativa de se desvencilhar daquele que o tem aprisionado pelo anzol. São saltos acrobáticos que fazem os iniciantes, como eu, perdê-lo e assim mesmo, respeitá-lo.

Logo, pegar Dourado taludo é o sonho de consumo de todo e qualquer pescador que se preze. Eu como iniciante ainda estava naquela de que o que caía em meu anzol era peixe. E dois de muito má categoria, como o Armal me serviram de aperitivo. Carne considerada desprezível, quase podre. Mas me pareceu um peixe simpático.

Tem beiço de gente e duas asinhas que quando você tenta o trazer para o barco ele as usa para se segurar o mesmo. Peixinho simpático, mas que imediatamente é levado de volta ao mar. Os barqueiros têm verdadeira ojeriza pelo pobre coitado. Sorte dele. Tratam-nos, tal e qual os políticos brasileiros fazem com seus eleitores, depois de eleitos. Querem deles apenas, distância e esquecimento. Mudam até o número de seus telefones celulares, para evitarem contatos maiores. Os barqueiros quando a incidência é grande, chegam a mudar de lugar.



Mas a necessidade de se pegar um Dourado, o faz dele um troféu. Vim, como disse antes, para me divertir, ler, escrever e fotografar. Surpreendi-me ainda com o serviço de bordo e as amenidades do barco. Estive no Millenium, acreditem coisa de primeiro mundo. Diria mais, que na verdade a meta maior era para curtir antigos amigos. Eu, que sempre achei que depois de 50 tinha mais é que manter os amigos antigos, e não me preocupar em fazer outros, equivoquei-me. Convenci-me com meu guru e tenaz critico, amigo, cliente e advogado, o Afonso Burlamaqui, que isto era uma meia mentira. A gente tem que conservar os antigos, mas se possível fazer outros novos. E ele está absolutamente certo. É sempre possível. Outrossim, quando se está no seios dos pescadores, você é picado pela mosca azul do Dourado. Tentar pescar um, passa a ser uma necessidade. Um desafio. Quem nem aquela menina de sua rua, que não saiu com ninguém e nunca deu bola alguma para você, mas que você acredita que tem uma chance, embora ínfima. E ademais que mal há de se fazer, em pelo menos tentar. E eu na verdade tentei.

A vida na verdade é uma série de tentativas. Umas viáveis, outras duvidosas, mas são as inviáveis que fazem ela, a vida, ter mais sabor. Muitas vezes são por elas que sonhamos com mais ardor. Erigimos nossos castelos e potencializamos nossa turbinas. Talvez como Eva em relação a aquela maçã que nem tão madura estava, mas era proibida. E ali estava o seu grande sabor.

Aquele sonho impossível. Da vida não vivida, mas ansiada. Da tentativa ainda não tentada. Do desafio, que não o levaria a nada. Mas levou. E não foi um. Foram dois.

Muita espera, muita luta, mas desta fez o predador, ou melhor, nós os predadores levamos vantagem. Ronaldo e eu, batemos a aqueles que até as piranhas temem em se aproximar, o Dourado.



Na volta a euforia do dever cumprido. Dei como realizada minha participação este ano na pesca. Tinha que aliviar o stress e a tarde me propus a sai de barco com o Sergio Araujo e seu guia o Joaquim. O Sergio comparece a estas viagens há 8 anos, um veterano de pantanal e através dele tive a oportunidade de visualizar um terceiro mundo. O da fauna desta grande região.



O Sergio, é cunhado do Afonso. Ele não pesca, apenas fotografa. E fotografa coisas que você só tem a oportunidade de ver pela lente de outros fotógrafos na National Geografic. Todavia no barco, você saboreia a canja de tomar conhecimento de uma outra dimensão deste magnífico pantanal. Coisas que seu olho não foi dada a oportunidade de sequer observar, pois, sua concentração ou sei lá desconcentração na pesca, omitem este lado da coisa.

Ver as fotos do Sergio, da atual viagem e de viagens anteriores, me fazia lembrar das madrugadas no beco das garrafas, a canja que o Sergio Mendes dava no piano até as 5 da matina. Era a hora que ele tinha que fazer, para pegar a primeira barca de volta para a sua Niterói.

Mas este é o assunto de amanhã. São quatro da matina, o Marcelo está preparando o suco, a mesa do café da manhã está posta e em duas horas o barco já estará em ebulição com as turmas saindo para a pesca e eu para mais um nascer do sol. E aquela duvida atroz. Será que o Flamengo ganhou do Botafogo?


PS1 - GANHOU!