Escrevi isto que les passo e na verdade nem sei bem porque. A coisa veio espontânea. Não pensei. Simplesmente redigi. “Se alguém quiser odiar o Rio de Janeiro, não passe por lá, pois, caso contrário será envolvido por sua magia e ficará que nem eu contando os minutos para lá voltar, mesmo sabendo que irei me decepcionar”.
Somente dias depois eu saquei porque. O que prova a tese de minha vó Adelina, ser eu um pouco tardio... Não importa, o importante é que me lembrei de algo que li em qualquer lugar há alguns anos atrás, e guardei. Numa macarrônica tradução para o português, me passaram como um dizer sueco e da seguinte forma: “Ame-me quando eu menos merecer, porque é quando mais preciso”.
Mas do que nunca devemos amar o Rio de Janeiro, pois, ninguém mais do que esta cidade, o necessita. E dentro deste processo de amor, tem que estar inserido e estendido esta paixão a seu próximo, mesmo que ele não esteja tão próximo quanto possa parecer. No natal lhe de um bote de inflar, pois, na época das chuvas, poderá ser de extrema necessidade, assim como um colete a prova de bala para ele trafegar na Avenida Brasil, uma barraca de acampamento, um kit de primeiros socorros ou mesmo uma pá e uma britadeira, em caso de desmoronamentos.
Tenho um amigo que tem uma casa em Itaipava, que está construindo uma arca com a ajuda de seus vizinhos. Porque será? Outro presente barato e de extrema necessidade são os tapas ouvidos. Daqueles vendidos nas ruas de New York pelos camelôs, quando a neve ameaça a cair. Não que haja neve no Rio de Janeiro, mas existem perigos ainda maiores. Maiores que as balas perdidas. São elas as promessas dos políticos. Confesso que nada me dá mais medo do que um plano ou projeto de um prefeito ou governador, após uma catástrofe, no Rio de Janeiro. Aqueles das ações enérgicas, das mudanças inevitáveis, do reconhecimento da necessidade pública, das macro-soluções para evitar que se preocupem e resolvam as micro, as do dia a dia, as da nunca levadas a efeito na história deste pais...
Meus amigos cariocas, há 50 anos atrás o cronista Rubem Braga de forma apocalíptica profetizou em seu épico Ai de Ti Copacabana, o que seria este bairro, naquela época reconhecido mundialmente como a Princezinha do Mar.
Ai de to Copacabana,
Eu já fiz o sinal bem claro
De que é chegado a véspera
De teu dia,
E tu não viste...
Ele fez o sinal, encheu a sua mochila e mudou-se para Ipanema com seus passarinhos.
Imaginem o que ele estaria escrevendo hoje – se vivo fosse - sobre Ipanema e o Leblon? Onde atravessar uma avenida é um perigo constante, onde se tem que desviar do cocô do canino e do poder mortal de suas mandíbulas se este for um Pitt Bull. Para quem não sabe esta raça está proibida em quase 50 países do mundo. Aqui se o fizermos, um deputado do PT irá acusar seu feitor de racismo. E existe ainda outro problema no Rio de Janeiro. É que com a raça teria que ser igualmente banido, 90% de seus donos, cuja irracionalidade muitas vezes é bem maior do daqueles a quem carregam em uma coleira nos passeios públicos, sem focinheira. Aliás, isto me faz lembrar de outro presente, se você tem na família um político: uma focinheira que o mantenha de boca fechada. Só não lhe ofertem um ratoeira, pois, eles podem se ferir.