quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

NOS LIMITES DA FRATURA EXPOSTA

Quando o presidente Lula assumiu o governo éramos um pais de 160 milhões de técnicos de futebol. Mas pelo menos ganhávamos Copas do Mundo. Hoje quando ele dá lugar a sua herdeira, somos mais de 190 milhões de técnicos de futebol, perdemos as duas Copas em seu período - o que o qualifica de pé frio - e o pior de tudo: hoje igualmente somos 190 milhões de entendidos em política. Por isto elegemos os Tiriricas, os Popós e os Romários da vida.

Acho que perdemos - se um dia tivemos - completamente o sentido da simetria, da harmonia e do equilíbrio. Transgredimos os mínimos sentidos da racionalidade, deixando de lado os paralelismos e partindo para uma ação transversal, anacrônica, desequilibrada, que certamente em questões de anos nos levará ao choque de ideologias. Explico-me melhor.

O mundo quase foi ao chão numa guerra de primos monarcas o verdadeiro estopim que nos enveredou pela I Guerra Mundial. Brigas de famílias, que fizeram milhões pagar o pato! Saíram os monarcas, assumiram os ditadores. Aí passamos ao estágio ideológio de raças puras, comunismo, sectarismo e a II Guerra Mundial novamente fez o mundo retroceder com seus holocaustos e carnificinas. Teríamos aprendido a lição? Absolutamente. Não satisfeitos, quase colocamos tudo a perder, quando as duas frentes vencedoras levantaram muros de alvenaria e cortinas de ferro, entre si. Outrossim, graças a Deus, o respeito pela força do adversário - nutrido por ambos os lados - fez com que as duas frentes mantivessem a guerra no estágio apenas frio. Não valia a pena aniquilar o inimigo, sabendo que também não sobreviveria ninguém de seu lado para contar a história.

Décadas se passaram. Caíram os muros, foram abertas as cortinas e quando parecia que o mundo iniciaria a conviver com certa paz, adentramos no estágio do choque das civilizações envolvendo etnias, religiões, culturas e velhas chagas nunca cicatrizadas. Estamos no limite da fratura exposta.

O 11 de Setembro de 2001 foi o turning point desta nova era. Determinou os inimigos, que embora invisíveis, são agora conhecidos. A era do Jidah! A guerra santa. Isto é o prenúncio do fim. Pois esta nova guerra é ainda mais perigosa, pois não é disputada por soldados uniformizados, não determina os campos de batalha, não tem alvos pré fixados e não delimita fronteiras. É disputada na calada da incerteza. É transacional, globalizada, tecnológica.

Qualquer ser humano de minha geração sabe exatamente onde estava ao tomar conhecimento da chegada do homem a lua, do assassinato do presidente Kennedy e de John Lenon, da queda das torres gêmeas. Como os norte-americanos de uma geração acima da minha tem plena consciência do que faziam quando Pearl Harbor foi atacado. Pois bem, eu estava em Keeneland examinando cavalos que seriam vendidos no primeiro dia das vendas daquele estabelecimento, quando uma pessoa que nunca tinha interagido antes, me parou, segurando-me pelo braço - uma coisa pouco normal de acontecer aqui nos Estados Unidos - e disse apontando para uma das televisões. "Está acontecendo". Mas o que estava acontecendo? Não parecia real. Não era necessário se perguntar onde acontecia, pois as torres do World Trade Center eram emblemáticas. Verdadeiros cartões postais. Como a Eiffel.

Minha impressão de incredulidade deve ter sido mundial, pois, a todo segundo o locutor relembrava que aquilo não era fictício. Estava realmente acontecendo. E quando minutos depois o segundo avião se aproximou, todos imaginaram o que iria se suceder. Com a segunda torre atingida, não havia mais dúvidas. O virtual havia se tornado realidade. Liguei para Cristina. Ela estava no clube exercitando-se e como não assistia a televisão, soube por mim. Correu para a frente de um aparelho e ficamos a falar via celular perguntando-nos, por que aquilo acontecia.

A revolta vivenciada nestas duas últimas semanas  me parece igualmente perigosa, pois, pior que a certeza de um mal governante é a incerteza de quem vai o substituir, quando um processo não democrático é utilizado para fazê-lo. O Iraque que o diga. Estariam os iraquiano melhores agora, do que antes com Saddam Hussein? Não sei, mas acho que é assunto a se discutir.

A Lybia, a Tunisia, o Egito e mesmo o Bahrein, são importantes, como importantes são todo e qualquer pais.  Onde há gente, há vida. E onde há vida, há esperança. Outrossim, imagino o que poderá acontecer com o resto do mundo, quando esta revolta no mundo árabe que demonstra ter um efeito dominó, finalmente atinja a Arábia Saudita, onde o dinheiro, o petróleo e o equilibrio daquela região estão concentrados.

Espertos, os sauditas, possivelmente monitorizados pelos aliados do ocidente, já iniciaram um processo de esbajamento de dinheiro, aplicando-o em obras sociais. Afinal, sempre é melhor dividir do que perder tudo. Com isto, os sauditas demonstram estarem afim de ficarem brancos antes, do que vermelhos, depois. Os verdadeiros limites da fratura exposta!