Outro dia um cliente e amigo, após ter lido uma de minhas crônicas em um dos meu blog, o www.planetachamadoterra.blogspot.com, me perguntou a queima roupa: "Quando você escreve, pensa no que e imagina estar escrevendo para quem"? Eta perguntinha simples de se fazer, mas complicada de se responder!
Pensei e cheguei a seguinte conclusão. Não sou diferente daqueles que acreditam que o colunista, quando se vê a frente daquilo que acha ser um assunto interessante a se discutir, muitas vezes assume sem sentir, a posição de um político, que fala pelo povo, em nome do povo, mas não se sente povo. Nós falamos pelo leitor, em nome do leitor, sem nos importar se existe algum leitor afim de que alguém fale por ele ou sequer interessado naquele assunto pela qual estamos dando tanta importância no momento. É o que sempre defini como um pulo no buraco negro. Você está nu, solitário e a frente de uma platéia que não vê. E assim, sozinhos dentro de nossos próprios mundos, confesso que em algumas oportunidades, nos imbuímos de certezas insuportáveis e verdades bíblicas.
Mas existe ainda o pior: as vezes damos mais ênfase ao fato do homem morder o cachorro, do que propriamente o cachorro morder o homem. Isto é, preferíamos o inusitado ao dia a dia, nos esquecendo na beleza do que é o cotidiano bem contado. E contra esta dissonante e assimétrica perspectiva, de preferir a aberração ao normal, que temos que nos policiar, para primeiro não nos tornarmos meros detratores do óbvio e segundo para que não criemos nossos próprios mundos, sumamente alienados do outro, este sim verdadeiro e em que realmente vivemos e que é co-habitado por aqueles que nos lêem.
Mas o que em contra partida todos os leitores têm que levar em consideração, é que a crônica é um gênero talhado para o exercício da individualidade e da subjetividade. Esta definição - que acho precisa - não é minha e sim do José Carlos de Azeredo, que afirma algo que penso ser igualmente de suma importância. Este gênero - a crônica - harmoniza a objetividade informativa e a impessoalidade crítica do jornal ou revista, com a individualidade enunciativa, a imprevisibilidade temática e o sentido estético daquele que a produz de forma literária o texto.
Sim meus caros e parcos leitores, quando sento à frente de meu computador para escrever seja um texto de assuntos gerais ou sobre meu métier principal, a criação e as corridas de cavalos da raça thoroughbreds - aqueles criados em suposta pureza - muitas vezes não tenho sequer noção de onde minha mente e aquilo que ela informa, irá me levar. Na maioria das vezes a deixo fluir e a coisa sai. Em outras, sou atacado do mal da coluna. Não a minha cervical - que aliás vai muito bem obrigado e nunca me deu um problema sequer - mas sim o da falta de inspiração para se escrever uma coluna, que tem data e tamanho para ser completada, estando você alegre ou triste.
Tenho uma formação de arquiteto, por isto acredito que tudo deva ter inicio, meio e fim. Como em um projeto. E me acostumei com o fato de que qualquer obra - seja ela de engenharia ou literária - se inicia com uma página em branco à sua frente, que de alguma forma deve ser preenchida, com uma planta viável de ser edificada ou um texto possível de ser entendido. pois até que provem ao contrário, você projeta ou escreve, não para sim, mas para os outros.
Seja em uma crônica sobre um assunto de cunho político, ou mesmo tendo como base a discussão de um técnica de um cruzamento em um tema genético, há de se manter um equilíbrio e ponderação em suas assertivas, nunca se deixando levar pelas emoções que normalmente fazem a insanidade sobrepujar à sensatez. Em todas as suas ações deverá haver emoções, pois se assim não o for, elas perdem o sentido, a naturalidade, enfim a capacidade de interagir com o próximo. Mas estas emoções têm que ter harmonia e equilíbrio. Nunca serem deixadas se levar pelos desvairos.
E é isto que tento fazer sempre que escrevo. Se consigo ou não, são vocês que podem dizer.