quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

CICLOTIMIA CRÔNICA

Da mesma forma que não acredito que a Alemanha seja o melhor lugar para se falar em genocídio, e Cuba de democracia, penso que se falar em história no Brasil é querer contar estória - como se escrevia na antiga ortografia portuguesa. Aliás, não consegui ainda entender, porque aboliram esta palavra de nossos dicionários. Ela representava bem, o outro sentido que história representa. Mas isto é um reflexo do Brasil. Abolir algo que tem utilidade e eleger o supérfulo, que nada nós traz de produtivo.

Como poderíamos definir a história política moderna brasileira? Com dois períodos: o ava e o ia. E podemos fazer isto de forma sucinta, e até de uma maneira poética.

A Era Ava

Getulio abandonava
Dutra Oscilava
Getulio se suicidava
Juscelino sonhava
Jânio renunciava
Jango topava

A Era Ia

A ditadura assumia
Tancredo sumia
Sarney perdia
Collor surrupia
Itamar assovia
FHC agia
Lula traía.

É obvio que a democracia não é consenso, mas sim dissenso. Grupos unidos por um ideal ao assumir o poder passam a diverger. Grupos que formam a oposição, embora heterogêneos em sua essência, se unem em prol de combater um inimigo comum. Um dia assumem e voltam a divergir e lutar por um pedaço maior do bolo. Aquele bolo chamado poder. Um bolo que engorda e o vicia. Trata-se de um processo de ciclotimia crônica.

Porém no Brasil, as coisas não são tão simples. Em um breve período de tempo, você pode ir da alegria a depressão, da sensatez ao desatino, da razão a loucura e se ingressa na carreira política da pobreza a riqueza.  Tudo num piscar de olhos. E onde fica nossa imprensa? A procurar o escândalo do dia e esquecer o da véspera.

Aceito que existam questões éticas no jornalismo. Eu disse jornalismo, não venda de jornais. O limite daquilo que é publico e do que é privado é marcado por uma ténue linha, assim como o direito de todos tomarem conhecimento do que está acontecendo, não pode estar subjugado a um obediência ao patrocinador. Qual é então a função do jornalista: descobrir, pesquisar, se assegurar e então publicar. Como também cabe ao responsável pela editoria, definir o que possa ser publico e privado. O poder de discrição, do discernimento e do equilibrio, são três predicados que determinam ou não o sucesso daquele que comanda a linha jornalística de seu meio de comunicação.

A soberania da liberdade de expressão e a autodeterminação da publicação de fatos e comentários são princípios racionais de qualquer democracia. Representa uma avanço da civilização que um dia fazia uso de tacape para poder exercer sua opinião. Hoje com os sítios de relacionamentos, governos são derrubados na Tunisia e no Egito, por estudantes e trabalhadores. Não mais por uma classe política. O poder da comunicação da moderna tecnologia, fez que pessoas captassem interesses comuns, obrigando-as a interagir e ter coragem de sair de seus casulos e unirem-se em praças na luta de um bem comum.

Cada povo, assim como cada indivíduo tem o direito de buscar e descobrir seus caminhos. Não chego a utopia de acreditar que sempre que o povo se mostrar unido nunca será vencido, Tudo é uma questão do tamanho e da quantidade dos tanques que o governo se proponha a colocar nas ruas. Foi-se a época dos mártires. Outrossim o direito de divergir é um dos fundamentos do processo civilizatório e creio que sempre deva estar acima dos processos políticos ou filosóficos.

De há muito nos unimos para montar grandes cagadas! O país do Novo Mundo que foi o último a acabar com a escravidão, hoje é sinônimo de pouca educação. A passeata das mães e da tradicional família trouxe a ditadura e 21 anos de amargura. A frente montada para a anistia ampla e irrestrita, acabou por livrar a cara também dos algozes, e finalmente a das diretas já, objetivou eleições indiretas, que mal ou bem elegeram o Tancredo Neves com 480 votos. Logo, apenas 480 votos decidiram o futuro de uma das maiores e mais populosas nações do planeta. E o pior houveram 180 a favor de Paulo Maluf, para a manutenção do status quo. Só no Brasil...