quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

NOS LIMITES DA FRATURA EXPOSTA

Quando o presidente Lula assumiu o governo éramos um pais de 160 milhões de técnicos de futebol. Mas pelo menos ganhávamos Copas do Mundo. Hoje quando ele dá lugar a sua herdeira, somos mais de 190 milhões de técnicos de futebol, perdemos as duas Copas em seu período - o que o qualifica de pé frio - e o pior de tudo: hoje igualmente somos 190 milhões de entendidos em política. Por isto elegemos os Tiriricas, os Popós e os Romários da vida.

Acho que perdemos - se um dia tivemos - completamente o sentido da simetria, da harmonia e do equilíbrio. Transgredimos os mínimos sentidos da racionalidade, deixando de lado os paralelismos e partindo para uma ação transversal, anacrônica, desequilibrada, que certamente em questões de anos nos levará ao choque de ideologias. Explico-me melhor.

O mundo quase foi ao chão numa guerra de primos monarcas o verdadeiro estopim que nos enveredou pela I Guerra Mundial. Brigas de famílias, que fizeram milhões pagar o pato! Saíram os monarcas, assumiram os ditadores. Aí passamos ao estágio ideológio de raças puras, comunismo, sectarismo e a II Guerra Mundial novamente fez o mundo retroceder com seus holocaustos e carnificinas. Teríamos aprendido a lição? Absolutamente. Não satisfeitos, quase colocamos tudo a perder, quando as duas frentes vencedoras levantaram muros de alvenaria e cortinas de ferro, entre si. Outrossim, graças a Deus, o respeito pela força do adversário - nutrido por ambos os lados - fez com que as duas frentes mantivessem a guerra no estágio apenas frio. Não valia a pena aniquilar o inimigo, sabendo que também não sobreviveria ninguém de seu lado para contar a história.

Décadas se passaram. Caíram os muros, foram abertas as cortinas e quando parecia que o mundo iniciaria a conviver com certa paz, adentramos no estágio do choque das civilizações envolvendo etnias, religiões, culturas e velhas chagas nunca cicatrizadas. Estamos no limite da fratura exposta.

O 11 de Setembro de 2001 foi o turning point desta nova era. Determinou os inimigos, que embora invisíveis, são agora conhecidos. A era do Jidah! A guerra santa. Isto é o prenúncio do fim. Pois esta nova guerra é ainda mais perigosa, pois não é disputada por soldados uniformizados, não determina os campos de batalha, não tem alvos pré fixados e não delimita fronteiras. É disputada na calada da incerteza. É transacional, globalizada, tecnológica.

Qualquer ser humano de minha geração sabe exatamente onde estava ao tomar conhecimento da chegada do homem a lua, do assassinato do presidente Kennedy e de John Lenon, da queda das torres gêmeas. Como os norte-americanos de uma geração acima da minha tem plena consciência do que faziam quando Pearl Harbor foi atacado. Pois bem, eu estava em Keeneland examinando cavalos que seriam vendidos no primeiro dia das vendas daquele estabelecimento, quando uma pessoa que nunca tinha interagido antes, me parou, segurando-me pelo braço - uma coisa pouco normal de acontecer aqui nos Estados Unidos - e disse apontando para uma das televisões. "Está acontecendo". Mas o que estava acontecendo? Não parecia real. Não era necessário se perguntar onde acontecia, pois as torres do World Trade Center eram emblemáticas. Verdadeiros cartões postais. Como a Eiffel.

Minha impressão de incredulidade deve ter sido mundial, pois, a todo segundo o locutor relembrava que aquilo não era fictício. Estava realmente acontecendo. E quando minutos depois o segundo avião se aproximou, todos imaginaram o que iria se suceder. Com a segunda torre atingida, não havia mais dúvidas. O virtual havia se tornado realidade. Liguei para Cristina. Ela estava no clube exercitando-se e como não assistia a televisão, soube por mim. Correu para a frente de um aparelho e ficamos a falar via celular perguntando-nos, por que aquilo acontecia.

A revolta vivenciada nestas duas últimas semanas  me parece igualmente perigosa, pois, pior que a certeza de um mal governante é a incerteza de quem vai o substituir, quando um processo não democrático é utilizado para fazê-lo. O Iraque que o diga. Estariam os iraquiano melhores agora, do que antes com Saddam Hussein? Não sei, mas acho que é assunto a se discutir.

A Lybia, a Tunisia, o Egito e mesmo o Bahrein, são importantes, como importantes são todo e qualquer pais.  Onde há gente, há vida. E onde há vida, há esperança. Outrossim, imagino o que poderá acontecer com o resto do mundo, quando esta revolta no mundo árabe que demonstra ter um efeito dominó, finalmente atinja a Arábia Saudita, onde o dinheiro, o petróleo e o equilibrio daquela região estão concentrados.

Espertos, os sauditas, possivelmente monitorizados pelos aliados do ocidente, já iniciaram um processo de esbajamento de dinheiro, aplicando-o em obras sociais. Afinal, sempre é melhor dividir do que perder tudo. Com isto, os sauditas demonstram estarem afim de ficarem brancos antes, do que vermelhos, depois. Os verdadeiros limites da fratura exposta!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

HOMEM MORDE O CACHORRO !

Outro dia um cliente e amigo, após ter lido uma de minhas crônicas em um dos meu blog, o www.planetachamadoterra.blogspot.com, me perguntou a queima roupa: "Quando você escreve, pensa no que e imagina estar escrevendo para quem"? Eta perguntinha simples de se fazer, mas complicada de se responder!

Pensei e cheguei a seguinte conclusão. Não sou diferente daqueles que acreditam que o colunista, quando se vê a frente daquilo que acha ser um assunto interessante a se discutir, muitas vezes assume sem sentir, a posição de um político, que fala pelo povo, em nome do povo, mas não se sente povo. Nós falamos pelo leitor, em nome do leitor, sem nos importar se existe algum leitor afim de que alguém fale por ele ou sequer interessado naquele assunto pela qual estamos dando tanta importância no momento. É o que sempre defini como um pulo no buraco negro. Você está nu, solitário e a frente de uma platéia que não vê. E assim, sozinhos dentro de nossos próprios mundos, confesso que em algumas oportunidades, nos imbuímos de certezas insuportáveis e verdades bíblicas.

Mas existe ainda o pior: as vezes damos mais ênfase ao fato do homem morder o cachorro, do que propriamente o cachorro morder o homem. Isto é, preferíamos o inusitado ao dia a dia, nos esquecendo na beleza do que é o cotidiano bem contado. E contra esta dissonante e assimétrica perspectiva, de preferir a aberração ao normal, que temos que nos policiar, para primeiro não nos tornarmos meros detratores do óbvio e segundo para que não criemos nossos próprios mundos, sumamente alienados do outro, este sim verdadeiro e em que realmente vivemos e que é co-habitado por aqueles que nos lêem.

Mas o que em contra partida todos os leitores têm que levar em consideração, é que a crônica é um gênero talhado para o exercício da individualidade e da subjetividade. Esta definição - que acho precisa - não é minha e sim do José Carlos de Azeredo, que afirma algo que penso ser igualmente de suma importância. Este gênero - a crônica - harmoniza a objetividade informativa e a impessoalidade crítica do jornal ou revista, com a individualidade enunciativa, a imprevisibilidade temática e o sentido estético daquele que a produz de forma literária o texto.

Sim meus caros e parcos leitores, quando sento à frente de meu computador para escrever seja um texto de assuntos gerais ou sobre meu métier principal, a criação e  as corridas de cavalos da raça thoroughbreds - aqueles criados em suposta pureza - muitas vezes não tenho sequer noção de onde minha mente e aquilo que ela informa, irá me levar. Na maioria das vezes a deixo fluir e a coisa sai. Em outras, sou atacado do mal da coluna. Não a minha cervical - que aliás vai muito bem obrigado e nunca me deu um problema sequer - mas sim o da falta de inspiração para se escrever uma coluna, que tem data e tamanho para ser completada, estando você alegre ou triste.

Tenho uma formação de arquiteto, por isto acredito que tudo deva ter inicio, meio e fim. Como em um projeto. E me acostumei com o fato de que qualquer obra - seja ela de engenharia ou literária - se inicia com uma página em branco à sua frente, que de alguma forma deve ser preenchida, com uma planta viável de ser edificada ou um texto possível de ser entendido. pois até que provem ao contrário, você projeta ou escreve, não para sim, mas para os outros.

Seja em uma crônica sobre um assunto de cunho político, ou mesmo tendo como base a discussão de um técnica de um cruzamento em um tema genético, há de se manter um equilíbrio e ponderação em suas assertivas, nunca se deixando levar pelas emoções que normalmente fazem a insanidade sobrepujar à sensatez. Em todas as suas ações deverá haver emoções, pois se assim não o for, elas perdem o sentido, a naturalidade, enfim a capacidade de interagir com o próximo. Mas estas emoções têm que ter harmonia e equilíbrio. Nunca serem deixadas se levar pelos desvairos.

E é isto que tento fazer sempre que escrevo. Se consigo ou não, são vocês que podem dizer.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

HISTORICAMENTE EQUIVOCADA

Ricardo Berzoini, ex-presidente do PT, 
que disputa o comando da Comissão de Constituição e Justiça 
com o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, 
afirmando que as proezas realizadas como ministro da Previdência Social, 
que lhe garantiram o título de Terror da Terceira Idade, 
não devem nada aos itens incluídos 
no vasto prontuário do famoso mensaleiro de Osasco.

Isto foi uma noticia que foi publicada semanas atrás.

Pois é, o senhor João Paulo Cunha, com aquela cara de parvo, mas que de parvo não tem a unha nem do dedo mindinho esquerdo, vai ser o presidente da Comissão de Constituíção e Justiça, até passar o cargo, em um acordo já firmado com as bases governamentais, para seu crítico, Ricardo Berzoini. Coisa de tapetão.

Que valor terá para a base governante esta tal comissão? Nenhuma, pois se um cara que é mensaleiro e réu em três processos de corrupção, peculato e lavagem de dinheiro, isto é o rei da cueca, a preside, é porque para a Dona Dilma e seu séquito de baba ôvos, Constituíção e Justiça, são apenas palavras. Nada mais do que isto.

Mas o senhor João Paulo Cunha, não está lá por obra do espirito Santo. Ele está lá, porque existe gente que nele vota. Gente que deve ter favores imensos e nenhum espirito nacionalista. Gente que se vende, para ter vantagens e o senhor João Paulo parece ser uma pessoa que sabe reconhecer vantagens, demonstrou saber como usufrui-las e acima de tudo tem a capacidade de as distribuir pelos canais que considera de sua competência. Aqueles que o mantém no poder.

Acho que o brasileiro nasceu prematuro, incompleto, sem o minimo equipamento instintivo capaz de costurar com solidez uma mente aberta e justa para com o pais em que vive e para com aqueles que o cercam. Vota de sacanagem, ou para angariar algo para si. Pelo menos 54% de nosso eleitorado. Isto foi provado nas últimas eleições. Elegemos não o presidente, mas sim a escolhida pelo homi! Nem Lacan, Jung ou Freud poderiam explicar, que fenômeno é este chamado brasileiro. 


Descendemos em nossa maior parte de portugueses, um povo de muita miscigenação: uma mistura de romanos, mouros, bárbaros. Uma monarquia que desde a coroação pos mortem de Inês de Castro, não primou pela coerência e exatidão. Ai por ele fomos desconbertos. Nossa miscigenação duplicou-se. E deu no que deu...

A soberania nacional normalmente é produto da autodeterminação de um povo que esteja afim de dar certo. Mas parece que não estamos. Estes princípios racionais e justos, a primeira vista são vistos por 54% do eleitorado como coisa de otário. O importante é eleger aquele que lhe possa lhe dar mais vantagem. A lei de se levar vantagem em tudo! Os fundamentos básicos de nosso processo civilizatórios se desenvolveram de uma forma distinta das demais nações que hoje deram certo. Nossa divergências nunca serão políticas, étnicas, religiosas ou mesmo filosóficas. Serão futebolísticas. Temos nossos ideais diariamente agredidos e desrespeitados e aí elegemos o Tiririca, o Popó e o Romário para lutar em defesa de nossos direitos. Pergunta: Onde queremos chegar? O que estamos querendo testar? Nossa própria sobrevivência?

Os conchavos erigidos, segundo a segundo, pela massa governista para lhe garantir o poder, somente visam uma falsa governalibidade. Nosso processo de progresso cívico está fadado a ruína. Parece não querer chegar a lugar algum. Isto são favas contadas se não nos atermos ao ponto fundamental, que está em nosso voto, a única chance de que as coisas tomem um rumo certo. Caso contrário, num dia que uma meia dúzia se conscientize que as mudanças tem que serem levadas a efeito de qualquer maneira e a todo custo, acabaremos virando o Egito. Mas até que isto venha acontecer - e eu espero que não aconteça, pelo mesmo desta forma - seremos eternamente vistos como uma nação  historicamente equivocada.

Uma nação que confunde reforma agrária com o movimento do MST, que acredita que a alternância dos mesmos nomes podres do poder para atingir aquilo que chama de governabilidade, nunca será uma nação e sim um amontoado de gente que fala a mesma língua e usa a mesma moeda. 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

UM METRALHADORA PARA UMA CRIANÇA DE SEIS ANOS

Outro dia, um amigo Facebook, me perguntou se eu seguia todos os preceitos de minha vó Adelina. E eu tive que ser honesto e responder que infelizmente não. Não sou perfeito como ela e existiam uns que eu não os seguia por razões pessoais. Ai ele me perguntou por um exemplo que justificasse esta minha atitude. Pensei e respondi: "nunca ponha todos os ovos em uma mesma sacola".

Concordo que se trata de um dito sábio, mas para que isto se verifique, você tem que ter ovos suficientes para dispo-los em uma sacola. Aos meus, não é dado o tempo necessário para descansar em uma sacola. Eles provem meu mortgage, o pagamentos das taxas, do condomínio, do carro, dos seguros, da luz, do cable, do supermercado, da gasolina e os poucos que sobram vão no cinema, nos livros e outras pequenas coisas a mais, que fazem a vida mais agradável.

Mas quem possa ter excedentes em ovos, que o faça. Quanto mais distintas sacolas você acondicionar seus ovos, melhor. No caso de uma cair e quebrá-los, você sempre terá as outras. Simples e sábio. Nunca siga os passos daqueles que colocaram tudo o que tinham. por exemplo, nas mãos de Bernie Maddoff. Quando a sacola caiu e os ovos se quebraram, nada sobrou. O homem pegou 150 anos de cadeia, mas quem perdeu ou se suicidou como o seu próprio filho ou anda perto de fazê-lo, como muita gente por ai.

A mesma coisa se aplica em política. Você não pode dar o poder a apenas uma pessoa, a uma ideologia ou a um partido. Você tem que deixar que as distintas correntes possam convergir e dela se tirar o que melhor possa existir dos cérebros que as compõem. Totalidade é o primeiro passo para o totalitarismo. E é para este caminho que certas correntes políticas estão tentando fazer o Brasil rumar. Uma nova Cuba. Um novo Iran, ou quem sabe uma nova Venezuela. Ué, e não é que os "reis" destas ditaduras, são os maiores aliados de nosso ex-presidente? Coincidência? Dúvido.

Acho que acabei de matar a charada. ENosso ex-presidente Lula gostaria que o Brasil tivesse o mesmo modelo. Apenas uma opinião. Um rei - preferencialmente ele. Uma forma de agir. Me parece doentio... Ou vocês acham que os dirigentes de Cuba, Irã e Venezuela, são pessoas normais? Não me parecem...

O Brasil ficou muito sem alternativas depois daqueles hiato de 21 anos, que os militares saíram do quartel para exercer algo que nunca haviam feito e que não tinham o menor traquejo e experiência para tal. Uma ou duas gerações foram silenciadas e isto inibiu o surgimento de uma nova classe de políticos. Hoje a coisa está muito na força exercida pelas velhas raposas, que conseguem fazer netos e cumpanheiros de crime, seus lídimos substitutos. Não existem mais movimentos estudantis. Apenas sindicais. E até que possam provar em contrário, apenas algumas exceções escapam de um comparação desfavorável de QIs.

Meu pai me deu uma lição de vida uma vez. Ele tinha sua empresa, e o melhor vendedor dela era um senhor já de certa idade. Um dia vagou o cargo na gerência e eu achei que o senhor Mathias seria a pessoa ideal para o cargo. Meu pai, para a minha surpresa, nomeou outro. O contestei e ele me mostrou uma simples defesa de ponto de vista: ele é o nosso melhor vendedor. Se o tiro, vão cair as vendas e talvez eu não tenha um gerente qualificado, ou que pelo menos goste do que faz. Assim eu coloco um que tenha o perfil, o mantenho nas vendas e aqui entre nós, seu salário é bem maior do que o do gerente. E todos ficam felizes.


Fazer de um general, ou de um torneiro mecânico presidentes, são um riscos. E como dar uma metralhadora a uma criança de seis anos. Certamente por isto, nossa divida interna é uma das maiores da estratosfera! Todavia, fazer de palhaços, jogadores de futebol, costureiros, animadores de midia, boxers, deputados, é outro ainda maior. Concordo, que não tão grande como manter as velhas raposas, os eternos coroneis donos de currais eleitorias, os demagogos e os baba ôvos que há décadas se mantem sentados em nosso poderes legislativos e executivos. Logo antes de pensarmos em quem votar, deveríamos limpar a casa destas lacraias e dar a eles o final do Maddoff. O problema é que isto destruiria qualquer chance de uma tentativa de reforma de caracter entre os presidiários, para futura re inclusão no convívio social. O confinamento merecido de grande parte de nossa da classe política no lugar que lhes é merecido, apenas poluiria ainda mais nossos cárceres.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

CICLOTIMIA CRÔNICA

Da mesma forma que não acredito que a Alemanha seja o melhor lugar para se falar em genocídio, e Cuba de democracia, penso que se falar em história no Brasil é querer contar estória - como se escrevia na antiga ortografia portuguesa. Aliás, não consegui ainda entender, porque aboliram esta palavra de nossos dicionários. Ela representava bem, o outro sentido que história representa. Mas isto é um reflexo do Brasil. Abolir algo que tem utilidade e eleger o supérfulo, que nada nós traz de produtivo.

Como poderíamos definir a história política moderna brasileira? Com dois períodos: o ava e o ia. E podemos fazer isto de forma sucinta, e até de uma maneira poética.

A Era Ava

Getulio abandonava
Dutra Oscilava
Getulio se suicidava
Juscelino sonhava
Jânio renunciava
Jango topava

A Era Ia

A ditadura assumia
Tancredo sumia
Sarney perdia
Collor surrupia
Itamar assovia
FHC agia
Lula traía.

É obvio que a democracia não é consenso, mas sim dissenso. Grupos unidos por um ideal ao assumir o poder passam a diverger. Grupos que formam a oposição, embora heterogêneos em sua essência, se unem em prol de combater um inimigo comum. Um dia assumem e voltam a divergir e lutar por um pedaço maior do bolo. Aquele bolo chamado poder. Um bolo que engorda e o vicia. Trata-se de um processo de ciclotimia crônica.

Porém no Brasil, as coisas não são tão simples. Em um breve período de tempo, você pode ir da alegria a depressão, da sensatez ao desatino, da razão a loucura e se ingressa na carreira política da pobreza a riqueza.  Tudo num piscar de olhos. E onde fica nossa imprensa? A procurar o escândalo do dia e esquecer o da véspera.

Aceito que existam questões éticas no jornalismo. Eu disse jornalismo, não venda de jornais. O limite daquilo que é publico e do que é privado é marcado por uma ténue linha, assim como o direito de todos tomarem conhecimento do que está acontecendo, não pode estar subjugado a um obediência ao patrocinador. Qual é então a função do jornalista: descobrir, pesquisar, se assegurar e então publicar. Como também cabe ao responsável pela editoria, definir o que possa ser publico e privado. O poder de discrição, do discernimento e do equilibrio, são três predicados que determinam ou não o sucesso daquele que comanda a linha jornalística de seu meio de comunicação.

A soberania da liberdade de expressão e a autodeterminação da publicação de fatos e comentários são princípios racionais de qualquer democracia. Representa uma avanço da civilização que um dia fazia uso de tacape para poder exercer sua opinião. Hoje com os sítios de relacionamentos, governos são derrubados na Tunisia e no Egito, por estudantes e trabalhadores. Não mais por uma classe política. O poder da comunicação da moderna tecnologia, fez que pessoas captassem interesses comuns, obrigando-as a interagir e ter coragem de sair de seus casulos e unirem-se em praças na luta de um bem comum.

Cada povo, assim como cada indivíduo tem o direito de buscar e descobrir seus caminhos. Não chego a utopia de acreditar que sempre que o povo se mostrar unido nunca será vencido, Tudo é uma questão do tamanho e da quantidade dos tanques que o governo se proponha a colocar nas ruas. Foi-se a época dos mártires. Outrossim o direito de divergir é um dos fundamentos do processo civilizatório e creio que sempre deva estar acima dos processos políticos ou filosóficos.

De há muito nos unimos para montar grandes cagadas! O país do Novo Mundo que foi o último a acabar com a escravidão, hoje é sinônimo de pouca educação. A passeata das mães e da tradicional família trouxe a ditadura e 21 anos de amargura. A frente montada para a anistia ampla e irrestrita, acabou por livrar a cara também dos algozes, e finalmente a das diretas já, objetivou eleições indiretas, que mal ou bem elegeram o Tancredo Neves com 480 votos. Logo, apenas 480 votos decidiram o futuro de uma das maiores e mais populosas nações do planeta. E o pior houveram 180 a favor de Paulo Maluf, para a manutenção do status quo. Só no Brasil...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O PAIS QUE NÃO QUER SE TORNAR SÉRIO

Uma vez, o estadista francês, o general Charles de Gaulle - herói militar nos anos 40 – em um de seus raros momentos de bom humor, comentou “ser impossível governar um pais que tem 246 espécies de queijos”. Porém, querendo ou não a França com toda a sua variedade de queijos, fedidos e cheirosos, foi até a pouco, a mais democráticas nações da humanidade. Foi? Exatamente isto que vocês acabaram de ler. Ela foi. Não é mais!  Pelo menos a maior.

Pois, mal ele sabia, que do outro lado do Atlântico, um pais que ele um dia julgou com rara propriedade não ser sério, que se tornou independente em Setembro de 1822, mas só foi devidamente reconhecido em Agosto de 1825, assumiria o lugar até então ocupado pela nação que um dia o general tirou do domínio nazista e a dirigiu anos depois. Sim este pais meus parcos leitores, é o Brasil. E por que? Porque temos uma assembléia constituída da forma mais democrática possível.

Sim, escrevi e aqui repito.  Temos a mais democrática e representativa assembléia do mundo. Ela é formada por jogadores de futebol, palhaços, lutadores de boxe, artistas televisivos, cantores, domésticas e até políticos.

Mas voltando ao citado general, a meu ver ele não tinha na modéstia seu maior predicado e um dia saiu com uma destas: “a história tem os seus momentos, e eu sou um deles”. Pois bem, diria que no caso de nosso ex-presidente Lula – outro que nunca pareceu nutrir qualquer relação com a modéstia - isto poderia ser igualmente ressaltado. Outrossim, de forma diametralmente oposta. O general representava à aquela época a consciência do povo francês. Lula, recentemente, e da mesma forma, a inconsciência coletiva de outro povo, o brasileiro.

Por odiar a transparência e por ser dotado de uma completa falta de recato, Lula e seu partido se valem das velhas palavras do filósofo popular Tim Maia, que dizia que o Brasil nunca iria para frente, porque nele “prostituta se apaixona, cafetão tem ciúmes e traficante se vicia”, para levar adiante o seu projeto de uma democracia morena de cabresto, onde as pessoas são compradas pela barriga e pela não noção de seu endividamento próprio. Hitler fez isto na Alemanha dos anos 30 e Perón na Argentina dos anos 50. E colou. Porque não colaria em um pais que nunca conseguiu se ausentar do eterno estágio de um dia ser o do futuro?

Estamos mais do que nunca atolados por uma corrupção que além de endêmica, parece incurável. Como a Dengue no Rio de Janeiro, ano apos ano, ela volta em distintos aromas e sabores. A gente sabe que ela vai voltar e nada é feito. Tudo se transforma no malogro da razão. Uma vez li uma pergunta feita pelo jornalista Zuenir Ventura: “somos o pais do futuro ou à beira do abismo”?

Outro dia reli este seu artigo chamado um pais do isso e do aquilo. No mesmo, o brilhante jornalista aviva a memória de todos da transformação nos morros cariocas onde malandro vira traficante e trabalhador é visto como otário e para tal apresenta um pensamento que acho amplo e irrestrito  do antropólogo Roberto Da Matta: “o Brasil não é um pais dual. Não opera com lógica de dentro ou fora; do certo ou errado; do homem ou mulher; do casado ou separado; de Deus ou Diabo; de preto ou branco”. Logo, como diria o Zuenir, é um pais do isso ou aquilo.

E o isso ou o aquilo nos leva a ironia como forma de protesto e palhaços e desportistas são eleitos para nos representar e fazer as novas leis de um pais que acredita que tem futuro. Está certo que se houver uma Copa do Mundo de Futebol entre os poderes legislativos das maiores nações, sob o patrocinado da ONU, o Brasil terá o melhor ataque, formado em seu centro por Bebeto e Romário. Se houver brigas em campo, ganharemos na porrada, pois, o Popó estará lá para garantir a integridade física de seus companheiros. Pena que o Clodovil tenha falecido, pois, se assim não o fosse, teríamos também os mais charmosos uniformes da competição.

E ainda tem gente que pensa que o Brasil deva ser levado a sério. Deveria na verdade, mas não é, justamente pelas atitudes daqueles que votam. Os mesmos que um dia votaram no índio Juruna, no macaco José, no rinoceronte Cacareco e no sindicalista que hoje usa terninho do Armani.

Tudo isto apenas prova que o Brasil parece não querer se tornar sério.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

UM CARA DE MUITA SORTE

Você acredita na sorte? Não? Pois eu sim! Afinal tomo-me como exemplo, pois, posso me intitular um cara de sorte. Por que? Explico-me.

Inicialmente pelo simples fato de ter nascido, crescido e me formado como gente na zona sul do Rio de Janeiro, que acreditem ou não, nas décadas de 60 e 70 foi um paraíso. Mesmo durante os 21 anos da revolução militar. Era então uma cidade linda de morrer, habitado por gente que valia a pena e que além de sede da cultura, acima de tudo me fez aprender que uma geração não se forma pela idade e sim pela afinidade.

O governo militar e sua ditadura uniu gerações. Talvez tenha sido esta sua única dádiva. Velhos e moços se uniam nas ruas e nos teatros do Rio de Janeiro, em passeatas e em encontros. Nos anos 80, aqueles que nunca haviam conhecido a liberdade se uniam aos que já estavam a ponto de se esquecer da mesma, numa mistura de idades, credos e distintas camadas sociais. Mas tudo começou por volta de 1975, quando a ditadura completava sua primeira década.

Nunca fui um elemento político. Hoje me alegro que nunca o tenha sido. Desde cedo tomei conhecimento que no Brasil a política é a vã tentativa de reconciliar o inconciliável. Pois a classe de políticos que temos hoje, já vem de longe... A diferença era que naquela época eram mais comedidos. Ou como diria minha vó Adelina, se viva estivesse, tinham vergonha na cara.

A ditadura militar não apenas desfez famílias, delapidando-as. Era deformou nosso quadro de políticos e criou um outro fenômeno chamado a guerra urbana. Em 1980 a zona da baixada Fluminsense foi considerada pela ONU, como a mais violenta do mundo. Empilhavam-se cadáveres e a ação dos grupos de extermínio acirrou ainda mais o estado desta guerra urbana, que hoje vivemos, e o pior, convivemos. E elas, tanto a ditadura como a guerra urbana, provaram mais uma vez, que eu era realmente um homem de sorte.

Imaginem que até casar morei na subida do morro do Pavãozinho e depois de casado passei a habitar às margens da Rocinha, num bairro chamado São Conrado até o ano de 1987. E pasmem, nunca fui assaltado? Estudei durante os anos Medici-Geisel em uma faculdade de arquitetura e nunca fui preso ou mesmo "desaparecido". E tudo isto em uma época que as pesquisas populares garantiam que 36% da população rotulada como A, já havia, pelo menos uma vez em sua vida, sido assaltada e que a cada minuto desaparecia um estudante nas faculdades brasileiras, sendo os maiores índices percentuais nas de jornalismo e arquitetura. Sou ou não sou um cara de sorte?

E olha que dei umas arriscadas. Estive presente na passeata dos 100,000 e fiquei no raio visual de Helio Pellegrino quando ele - sobre um carro - proferiu aquele discurso que inflamou a multidão presente, formada de todas as idades e camadas sociais. Compareci a alguns daqueles encontros"culturais" promovidos no Teatro Casa Grande, onde duas coisas em desuso - palavras e ideias - voltaram a evidência pela boca de alguns palestrantes. Foi lá que tomei conhecimento de um professor cassado da USP, chamado Fernando Henrique Cardoso, que dizia o que deveria ser ouvido e o fazia da forma como todos gostariam de ouvir. Igualmente lá, pela primeira vez, ouvi as primeiras asneiras de um metalúrgico do ABC paulista, feito líder sindical, que massacrando a língua mater em seu dialeto próprio, soltou aquela que seria uma de suas primeiras pérolas:  "estudante só tem idealismo por quatro anos, depois passa a explorar a classe trabalhadora" - e terminava seu emaranhado de asneiras afirmando - "intelectual no Brasil, podia ser comunista e aspirar ao poder, mas operário jamais"! E não é que foram estes mesmos enxovalhados intelectuais e estudantes que décadas depois o colocaram no poder? Desde aquele tempo que o ex-presidente Lula, demonstrou não ser dos mais versados em predições.

Mas era o discurso que usava na época para angariar atenção. Como todo bom camaleão, hoje prefere usar os terninhos do Armani e angariar para seus filhos passaportes italianos e diplomáticos brasileiros... Macunaíma não o poderia fazer melhor.

Me lembro que quase ao final do ano de 1965, um tal de Gordo, em um helicóptero, resgatou no presídio de Ilha Grande seu comparsa em crime, o Escadinha. Xarás em nomes próprios e crimes, ele deram a primeira prova que o crime estava se organizando, enquanto nós nos preocupávamos pelas diretas já, pela anístia aos presos politicos e os militares em coibir a formação de uma geração com uma nova mentalidade política e de descobrir uma forma honrosa de pedir para ir ao banheiro e sair de cena.

Mas a sorte nunca me abandonou. Vim para um novo pais, onde os ônibus não são incendiados, os helicópteros não são abatidos, onde não é preciso se conclamar o exército para se subir os morros  para pacificar populações urbanas, onde político corrupto é preso, investidor ladrão tem confiscada toda a sua fortuna numa questão de semanas, que juiz não vende sentença, que é proibido se construir casas sobre lixões e encostas que possam erodir e onde a chuva apenas molha, não mata aos milhares.

E somando a tudo isto, hoje vivo num lugar que até parece um pouco com o meu antigo Rio de Janeiro. Aquele, dos anos 60 e 70. Estou casado com a mesma mulher a 33 anos, trabalho naquilo que amo e o Flamengo dispensou a dupla Love e contratou o Ronaldinho Gaúcho. Pensando bem não sou um cara de sorte. Sou um cara de muita sorte!