Em relação aos países maduros e fortes
de qualquer período histórico,
os novos países, os que procuram se afirmar,
brincam de história durante muito tempo,
século, às vezes.
A brincadeira consiste principalmente no seguinte: impacientes de verem seus pais tão atrasado, humilhados por pertencerem a uma sociedade dominada por outra, homens de ação e homens de pensamento resolvem mudar as coisas. Para mudá-las de verdade seria preciso instruir as massas, e, ao mesmo tempo, motivá-las, agitá-las, transformá-las em unidades conscientes. Isto significa um trabalho persistente, inglório, pontilhados de períodos de prisão. Significa, acima de tudo, a vida sem conforto e sem as alegrias do normal crescimento de uma carreira e de uma família.
Diante do espectro desse trabalho persistente e inglório que a consciência pede-lhes que realizem, esses homens de pouco fôlego resolvem abreviar caminho pelos atalhos de ação imediata e inconsequente. Como ela apresenta risco de prisão e até mesmo de vida, dá um cero contentamento íntimo.
É a história como brincadeira. Pode levar à morte de um ou outro estudante e até mesmo de um ou outro intelectual ou operário. Mas nada se altera em profundidade. A história séria continua a ser representada em outros lugares.
Eu gostaria de ter escrito isto, mas foi o Antônio Callado que o escreveu quando de seu trabalho sobre o Vietnã. Suas palavras colocadas em papel décadas atrás, me parecem ainda vivas nos dias de hoje. Principalmente em se tratando de um continente como o nosso.
A América do Sul continua brincando de história. Faz parte de sua formação. Hoje, a moda é que todo e qualquer presidente, está querendo se eternizar no poder. Antes o conquistavam por meios revolucionários. Tornavam-se ditadores. Mas como revolução está off-broadway, ser ditador não pega bem, e pelos motivos expostos pelo Callado, eles criaram modernamente, outros métodos. Assumem pelo voto popular, prometendo mundos e fundos, criam seu harém politico, estabelecem as benesses, tais como bolsa familia e cestas básicas, deixam a corrupção rolar e quanto todos são culpados, exigem a mudança da constituição da forma que mais lhe agradam e melhor servem a seus propósitos. Quem tem culpa no cartória não cria polêmica. Aceita o que lhe é mandado. Não seria isto um tipo de ditadura consentida?
Venezuela, Colômbia, Equador e Bolívia, já estão neste processo. A Argentina procede como sempre, desde os tempos de Peron, numa manutenção familiar. Vai o marido, depois a esposa e quando o filho estiver bastante grandinho, é ele que entra na dança. Os modelos das famílias Bush e Clinton, são cópias do modelo Argentino. Como se vê nossos hermanos exportam politica familiar.
Onde isto vai levar nosso continente? Temo só em pensar. Japão, China, Alemanha e Vietnã foram praticamente extintos da face da terra e hoje, pasmem, estão entre as mais importantes nações economicamente ativas.
Vale a pena se procurar o trabalho deste grande repórter. A Editora Agir republicou-o como parte de um livro chamado: Tempo de Arraes e Vietnã do Norte – Antonio Callado Repórter.
Ho Chi Mim, tinha cara de tonto, agia qual um tonto, se vestia qual um tonto, mas de tonto meus amigos, ele não tinha absolutamente nada. Era um pensador que sabia como fazer as pessoas agirem. Desde os tempos de Kublai-Khan que ninguém me pareceu mais importante por aqueles lados que Ho Chi Min. Mas isto não parece ser apenas a minha opinião de estudioso de história.
Para se entender a importância deste homem é necessário se conhecer um pouco da história deste pequeno pais, não tão pequeno em tamanho, mas sim em termos de recursos naturais. Oitenta anos de colonização francesa. Aí vieram os japoneses. Ai foi a vez dos chineses entrarem por um lado liderados por Chiang Kai-Shek e do outro as tropas britânicas sedentos de devolver o pais a França, e levando uma rebarba, como sempre foi a politica inglesa. Outrossim Ho Chi min e outros patriotas sabiam que a solução dos problemas de seu pais era triplicar o vietnamita dentro de si próprio em um guerreiro, um aluno ou professor e um produtor de alimentos. E desta forma a batalha foi vencida. Um país de parcos recursos que conseguiu expulsar de seu territórios, franceses, ingleses, norte-americanos e vizinhos gananciosos.
Olhando hoje o que aconteceu no Vietnã, compreendemos que aquele pais não brincou de história. Ela fez história. Um belo exemplo para países como o nosso ainda tomados por aquela genetica inapetência para com as coisas sérias.
Não me tomem por um esquerdista. Aliás, as únicas coisas que consigo ser são no máximo, liberal, Flamengo e Salgueiro.
No livro citado, Antonio Callado afirma que Ho Chi Mim nunca foi líder que exercesse uma política de sangue correndo atrás de uma glória de pedra. Dedicou-se a homens vivos. E que o Vietnã é a prova de que o homem valerá sempre mais do que as invenções do homem.
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