sexta-feira, 6 de abril de 2012

UMA PRAGA CHAMADA VIZINHO


Algum de vocês ouviu falar de Gilbert Keith Chesterton? Não acredito que muitos, pois, ele viveu até a primeira parte do século passado e na Inglaterra. Mas o príncipe dos paradoxos, como era reconhecido na imprensa dos vassalos de sua majestade, tinha pensamentos e frases lapidares. Uma das quais me marcou muito, foi aquela que dizia: "Ladrões respeitam propriedades. Eles simplesmente desejam que elas sejam suas, e assim desta forma, a respeitarão mais". O que explica a onda de escândalos impetrados por nossos  nossos políticos. Eles amam o Brasil, por isto querem se apropriar de tudo que é dele.

Mas não é disto que quero falar. Vou me ater a outra de suas frase, aquela que remarca uma lema divino: "Deus nos manda amar a nosso inimigo como ao nosso próximo, porque são provavelmente os mesmos".Quando Deus criou este lema de amar o próximo, o fez certamente quando ainda era um ser solitário. Não havia criado ainda aquilo que um dia seria reconhecido como o vizinho.

Imaginem vocês que na maioria das vezes compartilhar uma casa com uma família é duro. Um quarto com um irmão, um tormento. Uma cama com uma mulher conhecida na noite anterior, um desastre. Agora pensem o que é se dividir as áreas comuns de um prédio com 420 apartamentos com pessoas com as quais não existam afinidades familiares e muito menos laços afetivos ou mesmos sexuais. De maneira genérica ou sucinta é impossível.

Qualquer tipo de arte é difícil. Por isto a arte é considerada apenas para algo que demonstre estar, fora dos padrões normais. Pois bem, a arte de viver, talvez possa ser considerada uma das mais difíceis. Outrossim, eu diria, sem medo de estar cometendo um exagero, que a de conviver, me parece atualmente impossível.

É da proximidade que nascem as discordâncias, os atritos, os crimes. Impossível se odiar alguém em Tegucigalpa. Mas aquele que entra no elevador, que mora no apartamento ao lado e gosta de ouvir o Michel Teló no último ponto que um aparelho de som possa ter, você o quer matar. Assim como a vizinha, com aqueles seus dois cachorrinhos frescos, cheios de pompons e laçarotes, mas que babam constantemente em seu pé, e ela acha tão simpático. "Ainda bem que o senhor gosta de cachorros", tem ainda ela a desfaçatez de comentar.

Impossível se pensar em amar o seu próximo se ele é seu vizinho. Como a sogra, ele em determinado estágio de sua vida, lhe é imposto. Como uma penitência. Uma provação. Ninguém lhe pergunta se você o quer. Ele cai em sua vida de para-quedas. E quanto mais dotado de amenidades for o edifício que você escolheu para morar, pior se torna sua convivência com os seus vizinhos. Pois existe aquela coisa horrenda, chamada ára comum. Outrossim, se a coisa fosse limitada a um corredor, um elevador, um hall de entrada e uma garagem, poderia até ser suportável. Mas quando a isto é somado, uma sala de ginástica, um bar de piscina, a própria piscina, um salão de festas e a praia à sua frente, o atrito se torna quase que obrigatório. Em alguns destes pontos ele há de acontecer. E o pior de tudo. Você paga um condomínio exorbitante para manter estes pontos de atritos. Pois afinal o sindico respeita a sua propriedade e como o ladrão a quer para si para respeita-la ainda mais. Afinal o sindico é eleito e como tal, um politico...

Quem não acredita, que compareça a uma reunião de condomínio. É pior que uma mesa de negociações entre as duas Coréias. Todos querem prevalecer seu ponto de vista e sempre que possível, objetar o pedido alheio. Afinal, se há qualquer interesse esboçado por qualquer vizinho, todos serão contra.

Dizia minha vó Adelina, que lixo atrai lixo. Pois é, vizinho também atrai vizinho...