quinta-feira, 12 de agosto de 2010

UM NOVO 1950?

Para mim, o futebol, é um dos maiores, fenômenos sociais brasileiros. Ele, o samba e o carnaval, formam, em meu conceito, um triunvirato de forte ascendência e que torna a nós brasileiros, diferentes de tudo e de todos. Somos uma raça a parte. E grande parte em função do futebol.


Por isto sempre estudei muito sobre este esporte, que quando nasci já era a febre nacional, mas ainda sem títulos internacionais. Desde cedo tomei conhecimento que este esporte não é apenas um jogo de 22 homens lutando por uma bola. Ele é muito mais do que isto. Ele mexe com muita emoção, emoção esta que chega as raias do nacionalismo, em embates internacionais. Tanto isto que afirmo é verdade, que troca-se de profissão, de religião, de preferências sexuais, de partido político e até de nome, mas não de time de futebol. Você escolheu ser América, morre América, mesmo o vivendo toda uma vida de dissabores. 


É de conhecimento publico que Brasil e Argentina, vivem em um clima de guerra, dentro das quatro linhas de um campo. Gremio e Internacional vivem uma outra guerra nos pampas. Assim como o Cruzeiro e o Atlético nas Minas Gerais, o Vitória e o Bahia na Bahia, o Sport e o Santa Cruz em Pernambuco. Do Oiapoque ao Chui você têm uma preferência futebolistica e vive com ela pelo resto de seus dias. E estas desavenças não são de hoje. Sempre o foram. Sob a sombra do bairrismo, e regionalidades vamos aos campos e nas arquibancadas muitas vezes vivemos verdadeiras guerras campais. Nas cercanias dos estádios, nem se diga. Mas voltemos aos trilhos.


Quando o Brasil conseguiu ser escolhido como o pais a sediar a Copa de 1950, perante uma Europa esfacelada, que não podia de maneira alguma assumir despesas e riscos, a Argentina foi a primeira a se ausentar da disputa. E olhem que até ali, o Brasil sempre fora um saco de pancadas tanto de argentinos, quanto uruguaios. Não fazíamos medo a ninguém. Todavia, havia algo que poderia se transformar em um divisor de águas, como mais tarde provou serÇ a construção do estádio de maior capacidade de publico do planeta, o Maracanã.


Dentro do pais um guerra veio a ser deflagrada. Dentro da própria conservadora UDN, de um lado o vereador Carlos Lacerda, aceitava a idéia, mas a queria implantada no longínquo bairro de Jacarépagua. Do outro, o outro vereador Ari Barroso, defendia a construção do maior do mundo, bem no centro da cidade, onde antes haviam as dependências do Derby Club, o hipódromo que aceitou de bom grado a troca de terreno e depois transferido para a o bairro da Gávea, a beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, se tornou em outro divisor de águas, só que dentro da história de cavalos de corrida.


Em 20 de janeiro de 1948 foi lançada a pedra fundamental daquele que seria o Maracanã. Algo sonhado para abrigar a 120,000 pagantes sentados e 50,000 em pé, mas que num grande dia, como a da final entre Brasil e Uruguai acomodou  199,854 pessoas. Sendo apenas 173,850 pagantes, o que já demonstrava que desde aquele tempo, a boca livre, já havia sido institucionalizada.  Uma oval em concreto de 312,32 metros para o eixo maior e de 279,48 metros para o menor, com um gramado de 110 por 75 metros, que teve suas portas abertas para um jogo amistoso entre as seleções de Rio de Janeiro e São Paulo no dia 16 de Junho de 1950. São Paulo bateu o Rio por 3x1, mas o primeiro a marcar gol no novo estádio foi Didi. O que determina que o começo não poderia ter sido melhor. Oito dias depois iniciava-se a Copa do mundo em suas dependências, com o Brasil batendo o México por 4x0.


O trauma da derrota na final de 1950, depois de estar a vinte minutos do término, ganhando por 1x0 e precisando apenas de um empate para sagrar-se campeão, só veio a ser ultrapassado em 1958, graças a outros dois divisores de água: um menino libriano de 17 anos cujo nome de batísmo era Edson Arantes do nascimento e cujo apelido era Pelé, e um outro libriano de 25 anos e pernas tortas, batizado em Pau Grande de Manoel Francisco dos Santos, cujo apelido era Garrincha.


O Brasil, em 1950, vinha realmente bem na competição. Quatro vitórias, todas no Maracaná, sobre o Mexico, a Yuguslávia, a Suécia e a Espanha, pelos resultados de 4x0, 2x0, 7x1 e 6x1. E um empate fora do grande estádio com a Suíça por 2x2. Porém, eu nunca entendi porque a vitória, em 1950, foi cantada, em odes e versos, antes da hora. Pois desde que a Copa Rio Branco foi instituida em 1916 e somente disputada a partir do ano de 1931, em suas cinco versões, o Uruguai havia ganho 3 e nós apenas duas, e meses antes da Copa, em Maio, igualamo-nos estatísticamente, suamos sangue para ganhar no Brasil, as duas últimas partidas, depois de ter perdido a primeira. Sabíamos de antemão, da dificuldade que era bater o Uruguai.


1950 – Três jogos
06. Maio – Pacaembú – Brasil 3 x Uruguai 4
Gols de Ademir dois. Zizinho
Brasil: `Barbosa. Nilton Santos e Mauro. Eli. Rui e Noronha. Tesourinha. Zizinho. Ademir. Jair e Chico.
14. Maio – São Januário – Brasil 3 x Uruguai 2
Gols de Ademir dois e Chico
Brasil: Barbosa. Nilton Santos e Juvenal (Mauro). Eli. Rui e Noronha. Tesourinha (Friaça). Zizinho. Ademir. Jair (Baltazar) e Chico.
18. Maio – São Januário – Brasil 1 x Uruguai 0
Gol de Ademir
Brasil: Barbosa. Nilton Santos e Juvenal. Eli. Danilo e Bigode. Friaça. Zizinhjo (Jair). Baltazar. Ademir e Chico.



Acho que precisamos um outro desafio, como a disputa de uma nova Copa aqui, para acordarmos da letargia que nos envolve, descansados que ficamos sobre os louros de conquistas de outras gerações. A saída de Dunga e a entrada de Mano Meneses pode ser o fator de indução, pois, a queda do último é na realidade a quebra das correntes de  um sistema que nos envolveu nestes últimos 8 anos. O que tinha como finalidade colocar um final em nosso futebol moleque, artístico e por isto mesmo inesperado. Tentou-se transformá-lo em algo consciênte e somente focado na vitória, fosse ela conseguida da forma que fosse. Os grilhões que nos mantínhamos presos ao solo, foram, pelo menos por enquanto, cerrados. Esta abrupta ruptura era necessária. A CBF, uma das instituíções mais ricas deste pais, sentiu que a maré não estava para peixe, e antes que viesse a ser cobrada, agiu qual uma virgem estuprada. Colocou a boca no mundo. Crucificou a aqueles, que meses antes apoiava em forma irrestrita e mudou o conceito. Ou pelo menos o adotou até que os ânimos serenassem...


O nosso presidente Lula fez o mesmo quando o Roberto Jefferson colocou a boca no mundo...


Terça feira vimos um time de garotos, jogando com prazer, com vontade, sem tensão. Na verdade com muito tesão. Alguns ainda agindo qual moleques. Mas estes, que assim o fazem, tem 4 anos para amadurecer. Tempo de sobra. O que não dá é para escalar os Felipes Melo e o Michel Bastos e querer que em 4 anos eles aprendam a jogar futebol.