quinta-feira, 27 de setembro de 2012

TRISTE CONSTATAÇÃO: TORNEI-ME UM IDOSO ESTE FIM DE SEMANA!


Existem dias que você não tem sorte. São aqueles que você pode marcar como nada bons  se possível esquecê-los para todo o sempre.. Porém, como estou atualmente muito longe de meu período zodiacal, que diga-se de passagem, sempre é um inferno, achei que aquela viagem iria cair bem. Ledo engano...
Viajei para o Brasil pela TAM. Miami, via Belo Horizonte sendo o destino final São Paulo e final Bagé. Logo, odisseia. Mas isto não é nada. Entre o primeiro e segundo destino quatro noites para visitar amigos, rever lugares e colocar as coisas em seus devidos lugares. Quando fiz o check in, a atendente local me perguntou se eu não queria o acento conforto. A principio não entendi, mas como já tenho experiência anteriores em vôos internacionais da TAM e tenho plena consciência que  tudo é desconfortável, perguntei quanto aquilo iria me custar. E ela com aquele sorriso funcionária de empresa aérea, respondeu: nada, afinal o senhor é idoso.
Estarreci-me, como houvesse acabado de ouvir a mais inesperada novidade. Mas nada melhor que o tempo para recuperar um estarrecido. E estarrecido deixei de ficar numa questão e segundos, pois, tanto a dúvida quanto a ansiedade, permeadas de tristeza, perplexidade, angustia e incerteza, tinham passado. Faziam agora parte, de um passado longínquo. Agora deixara de ser uma impressão. Era uma realidade. Eu era um idoso, perante aquela menina e a empresa que ela representava. Uma realidade nojenta, aspera, como lingua de um gato - e vocês não tardarão a entender o porque da analogia - afinal não se podia nega-la, pois, a mesma era tangível e em sendo tangível, "enfrentável". E tudo que possa ser "enfrentável" se torna "derrotável", dependendo apenas de você.
Devo ter feito uma expressão estranha, ao ouvir dela a inevitável constatação a respeito de minha idade, pois, imediatamente emendou uma segunda mas de uma forma pouca convica: se bem que não parece...
Agradeço, mas não mereço, pensei com meus botões da camisa que agora parecia ainda mais velha. Mas, como achei negócio um upgrade grátis, fiquei quieto,pois, mesmo não sendo daqueles que coadune com a ideia que de graça, até injeção na testa é factível, um melhor acento sem custo algum, mal não iria fazer. A coisa poderia ter parado por ali, todavia, ela não sossegou e tentando melhorar  uma situação, que para mim já estava enterrada, piorou ainda mais o caldo: são as vantagens de se ter idade...
Olhei-a com certo desprezo. Verdadeiramente ela não merecia uma resposta objetiva, que tudo naquele instante me autorizava, mas a transmutação efetivada em minha expressão, talvez tenha acendido nela uma lâmpada de há muito em desuso em seu diminuto e inativo cérebro. Afinal, passavam um pouco das 5 da manhã, e na véspera viajara praticamente o dia todo, até chegar em casa as 11 da noite e tendo que fazer a mala e deixar prontos alguns cheques, quando consegui me deitar, já passavam das 3. Imaginem meu estado de humor. E ademais, enfrentar aquele intelecto, com pouco mais de uma hora de sono, nas últimas 24 horas, era dose. 
Olhei-a novamente com aquele olhar de escrutilho nada enigmático, respirei fundo e deixei claro meu ponto de vista como só o vampiro de Dusseldorf o faria, ao ser arguido por um idiota do porque daquela sua insana necessidade de se prover de sangue alheio: minha queria, primeiramente eu diria que idoso é a sua digníssima progenitora, que se não estiver viva que Deus a tenha longe de si. Segundo que se pareço que tenho ou não a idade que carrego, não é da sua conta. E por último, mas ainda não terminando existem outras vantagens de se ter a idade que tenho, e a principal delas, e ficar calado quando nada de útil há para se dizer. Que no seu caso parece ser um desafio insano e impossível de ser alcançado - e com uma expressão possivelmente "transmutável" ao citado vampiro de Dusseldorfe, arematei - E agora sim terminando, diria que depois da senhorita ter provado a mim que sua experiência no contato com o publico  é exemplarmente nulo, que tudo na vida é fácil, antes de ser tentado. Logo acelere o processo, antes que eu chame seu superior e lhe alerte do perigo que sua empresa corre, ao mante-la sobre o regime salarial.
Ela, atolada na jaca em que se metera, demonstrou mais uma vez, que o que lhe sobrava de peitos, evidentemente faltava-lhe em massa cefálica. Tentou ser mais viva que a vivacidade e perguntou: o senhor precisa de alguma ajuda para chegar a aeronave? Sorri e lhe respondi: com certeza. Que a senhorita me de o boarding pass e se mantenha, se possível calada pelos próximos segundos, até eu me afastar deste balcão e me arrastar até a sua aeronave. Afinal com minha idade, as chances de chegar vivo as mesmas, não são muitas.
Evidentemente que aquela guria, tratava-se de uma caso de carcinoma no canal anal! E tentando desviar-me do entulho de malas de uma senhora brasileira que era atendida ao lado, dei inicio, a mais uma viagem internacional com “aqueles que gostam de voar”, mas nem sempre sabem como atender.

Uma das fileiras do tal do acento conforto é a inicial da classe turista. Aquela que tem três incoveniências: primeiro de não se poder colocar uma das malas em baixo do banco à sua frente, segundo de lhe dar dor na nuca se a intenção for ver o filme na tela que está à sua frente, mas bem acima de sua cabeça e terceiro por ser a região dos bebes. E bebes, choram, querem ter suas fraldas trocadas a cada hora e quando em estado normal de sobrevivência social, babam em sua manga, sem que suas mães percebam. E a gente não pode falar absolutamente nada, caso contrário será tratado não só como um velho, mas também como um pedófilo. 
Evidentemente que aquela era uma vingança arquitetada pela peituda de nenhum cérebro, que agora deveria estar se esbaldando em gargalhadas.
O bebê de meu lado direito babava, incessantemente, qual um cão boxer depois de um esforço físico. E o fazia entre um choro convulsivo e outro, pois, segundo sua mãe estava sendo atacado pela otite. O do lado esquerdo, era mais civilizado, embora evacuasse de forma constante e num volume brutal embasado em aroma pútrido, próprio de um paquiderme. Ele devia ter o hábito de engolir as próprias fezes.  E evidentemente que todas as mães mantinham suas luzes acesas, pois, se Deus não tinha proporcionado o direito maternal de dormir, todos à sua volta não deveriam igualmente usufruir deste direito. Mas como se tratava de uma Tiranossaura, de proporções avantajadas, limitei-me a ficar em minha insignificância, própria dos idosos.
Também não sou daqueles que pega um avião e pensa em comer, todavia, outrossim, a gastronomia da TAM não a indico nem aos inimigos. E depois de três filmes, dois dos quais ecológicos, com pinguins e Tim Tim, o coro de várias crianças chorando - pois esta é a sina de um vôo diurno -, cheguei finalmente, mas aos pedaços em Belo Horizonte, que com todo o respeito, não me parece ser um aeroporto ainda aparelhado para receber e dar inicio a vôos internacionais. Talvez por isto tenha que tenha sido obrigado a participar involuntariamente em uma maratona particular, já que do gate 5, fomos avisados que a coisa mudara para o R2 e lá chegando que a informação era errada e o gate de partida, era definitivamente o C5. De volta ao gate original e depois de alguns minutos de espera e a constatação que não haviam pessoas suficientes a minha volta para preencher um vôo para São Paulo, resolvi perguntar se era ali mesmo o embarquem do avião para Congonhas e a Vanessa, uma atendente de solo, sorridente e bonita, me fez tomar conhecimento que o embargue se verificaria no B2 e não mais no C5 e muito menos no R2.. Corri para não perder o avião, Sentei no acento conforto e apaguei. Perdi o fabuloso sanduíche - marca registrada desta companhia aeria. Bem como aquela balinha inicial que lhe tira as obturações. 
Extenuado desembarquei as 10 e 30 horas da noite em Congonhas. Peguei um taxi e como não havia trocado dinheiro, perguntei ao motorista, se ele tinha cartão. Bem humorado ele respondeu: quem tem que ter cartão é o senhor, eu tenho a máquina.
Pelo menos me deu a oportunidade de dar uma boa gargalhada, até conhecer o gato que meu amigo que me hospedava por uma noite, havia recentemente adotado e esquecera de me avisar.
O hotel que costumo ficar estava lotado para a noite de quinta para sexta, e assim marquei-o a partir do dia seguinte e como não estou acostumado a dormir ao relento, aceitei o convite de um amigo e fui hospedar-me em sua casa. Ele viajava e me fizera a gentileza de deixar a chave com o porteiro da noite.
Entrei, deixei minhas malas e desci a procura de um lugar para comer algo. Achei um, chamado Farol. Era um bar gay. Senti tão logo coloquei meus pés em seu recinto, tratar-se do único hetero, mas com a fome que estava, enfrentaria até o sanduíche perdido na TAM, que dirá alguma cantada, se assim houvesse. Mas felizmente sou velho, e não me deram a menor bola.
De volta ao apartamento do amigo, fui direto ao quarto a mim destinado e apaguei. E dormiria até o meio dia do dia seguinte, se não fosse a gata. Sim meu amigo deixara um bilhete espirituoso, no console junto a porta de entrada, que eu não havia notado, graças ao estado que cansaço em que chegara. Nele dizia: espero que tenha feito boa viagem. Sinta-se em casa, mas não deixe de fechar a porta do quarto se não a gata te acorda. E ela é madrugadora. Chego pela manha. Abraços....
Eu diria que a gata era notívaga, pois madrugadora para mim, seria das seis horas da manha em diante. As três e meia, têm outro nome. 

Não sou daqueles que morra de amores por felinos domésticos. Não os mato, nunca fiz algum voar ou sequer nadar dentro de um saco, mas uma coisa gosto de deixar claro, desde o seu início: ele lá e eu aqui. A distância tem que ser mantida, para que se construa um respeito entre ambos. Infelizmente a gata do amigo, não era da mesma opinião.
Você já levou uma lambida de gato, quando estatelado em uma cama quase morto pelo cansaço e achando estar sozinho? Pois é, garanto-lhes que a sensação, não é nada gratificante. A língua além de áspera era inesperada. Eu estava tendo um sonho estranho com a presença de alieníginas e aquele contato de terceiro grau me despertou de imediato. Pulamos da cama. Eu e ela ao mesmo tempo. Depois de passado o susto inicial, nos olhamos de maneira pouca amistosa. E ficamos assim por alguns segundos. Ela para demarcar terreno pulou de volta na cama e me olhou com aqueles olhos amarelos deixando claro que dali não sairia. Por um momento ela cresceu à minha frente e começou a balançar o rabo. Lembrei-me que quando o gato balança o rabo, até cachorro acha seu caminho de volta. Não tive outra alternativa. Sai do quarto deixando a porta fechada atrás de mim e fui para o sofá da sala. Todavia, o estrago já estava feito: o sono se fora.
Como a televisão para mim, muitas vezes funciona qual um soporifero, a liguei e descobri que as quatro da manhã, mesmo dispondo de mais de 100 canais, a programação brasileira deixa bastante a desejar. O filme mais recente estrelava Gary Cooper e a quantidade de matéria paga domina o horário. Vendem de tudo, desde cadeira de rodas para idosos, como eu, até máquinas diabólicas de mil e uma utilidades, que fazem seu corpo inchar de músculos, que um dia cairão, quando você parar de usá-as. E que na minha opinião tendem a atrofiar o cérebro e os testículos. Talvez a atendente da TAM em Miami se utiliza-se de uma, todas as manhãs. 
Só não compreendo porque tanta matéria paga, já que a aquela hora da noite, acredito que poucos sejam aqueles que tenham sido acordados por um gato. Por via das dúvidas, fui até a varanda e descobri que não estava errado. Apenas um apartamento parecia estar iluminado em toda a quadra. Ele talvez fosse o resto da audiência local.
Mas para minha sorte não chovia em São Paulo, o dia amanheceu mais para Rio de Janeiro do que para manhã paulista e eu pude pegar minhas tralhas depois de um longo e confortante banho e partir para ganhar a minha vida.
Deixei um bilhete agradecendo a atenção do amigo, alertei-o que sua nova room mate se encontrava trancada no quarto de hóspedes e que ele tomasse cuidado, pois, ela além de beijar mal, o fazia antes da madrugada, de forma inadvertida e suspeitava que tivesse tremenda sede sexual.