Uma visão global de um brasileiro exilado nos Estados Unidos desde 1987.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
SOU UM PLUGADO
Sou do tempo que o latim era matéria no colégio. Pelo menos no Santo Ignácio, uma colégio dirigido por jesuítas, onde estudei do primeiro primário ao terceiro científico, pois, era assim que as divisões eram feitas: quatro anos de primário, um de admissão, quatro de ginasial e ai a opção para os últimos três anos, clássico ou científico. Vestibular e a tão sonhada faculdade.
Hoje acredito que os caminhos sejam outros. Mas em meu tempo era assim, e o latim combinava tanto com Rio de Janeiro, como o azeite com o café. Mas hoje tenho consciência que o latim era uma ginástica para o meu cérebro. Esta língua, básicamente morta, me fez aprender a raciocinar. Uma vez, logo depois que o presidente Kennedy soltou aquela sua celebre frase, não pense o que o seu país possa fazer por você e sim o que você pode fazer por seu pais, lembro-me de o ter plagiado, uma vez ao dizer para uma namoradinha que ela não se preocupasse com o que faria com o latim que era obrigada a aprender e sim o que o latim iria fazer para ela. Verinha tinha 15 anos e naturalmente não entendeu e talvez ela estivesse certa, embora o raciocínio não fosse o seu forte. e sim o bambolê.
Esta linha de circunstancias que permeiam a vida de cada um entre os de minha geração, já nos faziam ignorar tudo aquilo que parecia a primeira vista, não ter uma utilidade aparente. Hoje, na era da comunicação, mais ainda. A descritiva, que era a matéria básica, se você quisesse passar no vestibular para arquitetura. Mas para que ela servia? Dar-lhe a visão espacial.
Hoje o existencial é menos importante que o transitório. Afinal, estamos na era do fui! O elemento pessoal não é mais intransferível. Hoje ele pertence a uma rede social. Impor suas repugnâncias e suas mais tenras necessidades passou a ser, quase que obrigatoriamente, de domínio público. Taca na rede! O mistério se dissipou. As pessoas não mais conversam. Trocam textos. Ninguém ouve sequer os passarinhos. Preferem estar "plugados" a algum I-alguma coisa. E ai eu me pergunto. O que serão dos poetas?
Foi extinto o pacto de cumplicidade com a vida? O que será de suas descobertas se tudo que é descoberto, segundos depois está na net? Para que raciocinar, se tudo já foi raciocinado para você? isto acabará com os inventores? Não sei como as pessoas se sentirão felizes, daqui para a frente. Talvez dentro de uma bolha...evidentemente que ligado a uma rede de Wifi...