Outro dia, um grande amigo meu, me perguntou, naquele estilo bem Morro do Alemão, isto é, a queima roupa, qual, em minha opinião, era o maior defeito entre os brasileiros. E eu respondi sem pestanejar, que depois da inépcia crônica de não saber votar, era a sua extrema capacidade de apagar totalmente de sua mente, tudo que estivesse com mais que quinze dias. Pois, o que para alguns, pode-se se tornar o inicio de uma história, para o brasileiro, não passava de notícia passada. Como a fama, dura quinze minutos, a vida útil de qualquer coisa no Brasil, vive no máximo quinze DIAS. Para os monumentos, é feita uma exceção; 15 anos...
Mas aquele me interpelou, queria que eu fosse mais especifico, não tanto em relação a situação do voto, que ele por ser um elemento racional estava totalmente de acordo, mas sim o por que aquela história de conseguir apagar de sua mente, coisas passadas. E eu dei como exemplo, o acontecido com o Palácio Monroe, no Rio de Janeiro.
Sede do senado em uma cidade que foi por 320 anos capital, de monarquias, republicas, ditaduras, democracias e atualmente vive um namoro safado com o socialismo moreno, o Palácio Monroe foi literalmente abaixo nos nos 70, durante a gestão Geisel. Sim o derrubaram a troco de nada.
Primeiramente a desculpa era que encareceria por demais as obras do metro. Depois, que o metro deu uma curvinha, e não havia mais o que justificar, veio aquela que o palácio não tinha valor arquitetônico. Qual seria o conhecimento que o general teria em relação a valores arquitetônicos? E, para ser mais ainda sincero, eu como arquiteto perguntaria, o que tem valor arquitetônico? Aquele musuleu que é a catedral do Rio de Janeiro? E qual é o valor arquitetônico da Pirâmide de Quéops? Deve-se então derrubá-la para então se construir um shopping center? Pois, é tudo que tinha valor no palácio foi desmontado e virou espólio de quem pagasse mais. E hoje temos um chafariz em seu lugar.
Minha vó Adelina sempre me disse, que o lugar de general é no quartel, de marginal na prisão e de arquiteto na prancheta. Mas no Brasil, existe aquela eterna troca de valores. Generais e torneiros mecânicos são presidentes. Ex-jogadores de futebol e palhaços analfabetos, políticos. Prostituta se apaixona e traficante se vicia.
Pois é, vivemos na ordem inversa das coisas. O assaltante do trem pagador na Inglaterra, fugiu para o Rio de Janeiro. Em qualquer filme, tanto europeu quanto norte-americano, quando alguém comete um crime, a cidade que imediatamente vem à mente do infrator como refúgio, é o Rio de Janeiro. Todavia, o brasileiro que comete crime idêntico no Brasil, imediatamente voa para Miami.
Somos a terra do vale tudo. E em se tratando do Rio de Janeiro, o que podemos dizer de nosso valor arquitetônico, já que passamos por diversas fazes em nosso desenvolvimento. Fomos barrocos, coloniais, neo-clássicos, modernistas, art-déco e tudo isto sem planejamento algum, no estilo bumba meu boi. Pagou, levou, ergueu e vendeu! Parede com parede, sem preocupação sequer com o esgoto e onde ele vai dar.
O pior é que a coisa não parou por ai. Pois saibam que aquele que me perguntara, ficou curioso em saber, onde era mesmo o Palácio Monroe, pois, havia se esquecido... Precisamos de um exemplo maior de um "apagão" mental que este? Penso que não.
Tem gente que acha que aquela pirâmide de vidro na frente do Louvre nada tem a ver com o grande museu às suas costas. No Brasil, não tenho dúvidas que seria derrubado o museu e construído atrás um obra moderna que combinasse com a pirâmide. Pois, como já frisei, vivemos uma eterna inversão de valores. Comenta-se a boca pequena que o então general que dirigia a ditadura, sobrepôs o bom senso, por causa de uma picuinha particular. Simplesmente para se vingar de um desafeto seu, no ramo militar, cujo o pai fora aquele que edificara o Palácio, que hoje já não mais existe. Não haveria uma pena para com aqueles que comentem crimes contra o patrimônio histórico? Acho que deveria existir.
Meu pai me contou, que existia um morro importante no rio de Janeiro, chamado Morro do Castelo. Pois bem, na década de 20, chegaram a conclusão que este morro não deixava o centro da cidade respirar. E assim todo um patrimônio histórico erigido no século XVI, implodiu subjugado pela força da dinamite. E as igrejas, os fortes, a muralha, os hospitais, o convento, as construções simplesmente desapareceram. Como igualmente desapareceu o monumento a Estácio de Sá. Que patrimônio é este, que não sobrevive a ira de um pseudo-desenvolvimento? Está certo que o rio de Janeiro só teve o privilégio de eleger seu primeiro prefeito no final da década de 80. Até eles eram nomeados. mas não acertar um qualquer, é dose!
Imaginem isto acontecendo na na Itália ou na França. Vamos derrubar aquele elefante branco do Coliseo, pois, ele está tirando a ventilação de Roma. E fazer o que, com esta merda deste Arco, que de triunfo, não tem absolutamente nada, e obriga a todos a circundá-lo? Nenhuma pedra ou paralelepípedo pode ser movida na Inglaterra. Mas talvez a melhor solução, para este povos pré-históricos, é se fazer o que foi feito no Rio de Janeiro onde no lugar do morro, construíram-se edifícios mais altos que o próprio, parede com parede, e pasmem, o centro da cidade mesmo assim, conseguiu sobreviver? Não morreu sem ar como era defendido, por aqueles que queriam lucrar com as novas edificações e mandaram a história para o beleléu! Logo, o Morro do Castelo com o inicio de toda a nossa história, poderia ter permanecido.
Somos um pais jovem, que não procura preservar o pouco de história que tem. Moro nos Estados Unidos, outro pais jovem, apenas alguns anos mais velhos que nós, mas onde tenta-se a todo custo preservar-se o pouco de história que eles foram capazes de construir. Aqui qualquer coisa acima de 50 anos, vai para o antiquário. No Brasil, para o lixão.
Minha mulher, Cristina, quando escuta historinhas da carochinha como esta para justificar algo, que não tem justificativa, diz com extrema propriedade, que a desculpa do amarelo e comer barro. E nós cariocas, infelizmente, tivemos que comer outra coisa...