quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

DA QUEDA DO MURO DE BERLIM, AO BIG BROTHER BRASIL

Fico pensando o que faz uma pessoa culta cobrir jornalisticamente a queda do muro de Berlim, e anos depois se expor publicamente como apresentador de uma "coisa" chamada Big Brother Brasil. Pois é seu Pedro Bial, a queda de qualidade de seu trabalho jornalístico foi realmente grande, mas tenho certeza que a grana que entra ao ter aceitado a incumbência do segundo, deve tê-lo satisfeito tanto ou mais que o jubilo de estar presente e relatar o primeiro, um dos fatos históricos mais importantes do século passado. Guardo a data, pois, ela se deu no dia de meu aniversário. E falando de datas, me lembro de outra.

No anos 70, ainda como estudante de arquitetura, junto a um amigo, montamos algumas excurções de estudantes para a Europa com uma companhia italiana chamada Polvani. Iá-se de navio e voltava-se de avião e vários países eram visitados. E um dos que incluí, logo na primeira viagem, foi a Austria. E eu tinha minhas razões para tal.

Chegando em Viena, imediatamente peguei um táxi e pedi ao condutor que se dirigisse a Landstrasse 323. Ele me olhou atônito e senti que talvez o fato de estarmos interagindo em inglês, língua que não era de uso normal, entre ambos, fosse a razão. Repeti pausadamente. Ele demonstrou que entendera o pedido, mas que não conhecia a rua. Apossou.se de um manual e depois de perder cerca de um minuto sorriu. Era uma rua que já havia mudado de nome a décadas. Agora se chamava Ungargasse. Desfeito o mal entendido, para lá rumamos. O problema é que a numeração da mesma fora mudada.

Outrossim, para minha sorte, o edifício que procurava era de esquina e o reconheci imediatamente, pois tinha ainda em minha mente a foto que virá em um artigo. Agora atendia pelo número 5. Não se chamava mais Zut schonen Sklavin e sim outro nome que agora não mais me recordo. Quando apontei para a edificação quadrada e de quatro pavimentos, o chofer do táxi, que naquela época já deveria estar com mais de 60 anos sorriu e dpronunciou com muita dificuldade, mas senti que com imenso prazer, apenas três palavras: Ode to Joy.

Nosso contacto ficou selado para sempre, pois ali mesmo sentimos que ambos tínhamos o mesmo sentimento por aquela sinfonia - que naquele lugar fora composta -  e cujas palavras em seu quarto movimento inspiraram à muitas gerações  de distintos continentes, as mesmas aspirações de paz na terra, bom relacionamento entre os seres humanos, numa nítida referência que apenas uma ode de prazer, pode transmitir, a seres humanos com QIs superiores aos dos símios. Ele se referia, a nona de Beethoven.

Existem coisas que são universais, agradam a tudo e a todos e se eternizam para o todo sempre. Uma delas é a Coca Cola, que é tomada nos Estados Unidos e na China. Os Beattles, pele e Mohammed Ali, outras.  Creio que a Nona de Beethoven deve igualmente ser incluída. Pois, trata.se de uma obra que agradou a tudo e a todos. Reverenciada por Democratas, Nazistas, Comunistas, Budistas, Socialistas, Terroristas e Anarchistas. Foi tema de fundo quando da abertura das Nações Unidas, como o havia sido também, quando da assinatura do pacto de paz da segunda guerra mundial, da mesma forma que na queda do muro de Berlim. E tudo isto levando-se em consideração tratar-se de uma obra que pela primeira vez foi executada publicamente, ali naquela mesma cidade, Vienna, no dia 7 de maio de 1824. Há quase 200 anos atrás.

Existe um poema de Friedrich von Schiller, que anos mais tarde descobri, ser a base da feitura da quarta parte desta brilhante sinfonia que se chama To Joy. Neste ressalta-se que todos os homens se transformarão em irmãos e que serão abraçados por milhões. Imaginem isto numa época em que o mundo ainda era dominado por reis, cuja vontade era considerada como divina. Beethoven teve a coragem de propalar estes conceitos, usando-se de sua música.

Esta é a diferença básica da obra de arte, que marca gerações em qualquer parte do universo, da apenas passageira que agrada a alguns - normalmente de QIs duvidosos - e apenas pertencentes a uma geração. Uma obra que fez um  carioca de pouco mais de vinte anos, colocar uma cidade no mapa de uma viagem programada para jovens, que estavam mais ligados em Paris, Londres, Roma e Madrid, do que propriamente visitar um edifício - sem valor algum arquitetônico - todavia, para sentir pelo menos por alguns minutos - o prazer de estar pisando no mesmo assoalho, que o grande gênio pisou e compôs uma de suas maiores obras, quando nem mais com sua audição, podia contar.

LEVAMOS MILÉNIOS PARA PASSAR DO ESTÁGIO DE PRIMATAS 
A NOSSO ESTÁGIO HUMANO ATUAL. 
MAS PELO ANDAR DA CARRUAGEM, 
LEVARÃO APENAS POUCAS DÉCADAS 
PARA VOLTARMOS PARA O ESTÁGIO PRIMITIVO

E vocês sabem porque? Porque mestre Suassuna está certo quando nos alerta que; sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.

Será que daqui a 200 anos, alguém de vinte e poucos anos, virá ao Brasil para visitar o local em que o paranaense Michel Teló escreveu seu baiâozinho, de baixa qualidade poética e musical, o Ai se eu te pego? Quem sabe visitar a casa em que nasceu em Medianeira? Algo me diz que não. Pois, "coisas" como o Big Brother Brasil e o Ai se eu te Pego funcionam quais o cães que ladram, quando a caravana passa. Fazem barulho, mas se perdem na poeira.