President's Day aqui nos Estados Unidos e dia de Salgueiro na Avenida ai no Rio de Janeiro.
Ipanema, o Flamengo, a Banda de Ipanema e o Salgueiro, foram as quatro paixões que deixei no Rio de Janeiro. No bloco, participei de seu primeiro desfile em 1964. O Clube está em mim, desde que o vi perder no Maracanã para o Fluminsense de 4x3, no final dos anos 50. Ipanema é parte de minha pele. Para a escola desfilei em 18 oportunidades, e tive o privilégio de estar em seus anos de ouro, os que o Anysio nos proporcionou, antes de ir para a Beija Flor e levar com ele o Joãozinho Trinta.
Nasci e me criei em Ipanema. De lá sai para casar, primeiramente para uma cobertura na Avenida Atlântica e depois para São Conrado. Bairros lindos, mas que me desculpem, aos que assim não pensam, mas não é a mesma coisa. Ipanema e Leblon, são um Rio de Janeiro distinto. Só entende, que lá viveu e um dia teve que se mudar.
Mas carnaval é Brasil. Não apenas o Rio de Janeiro. Será?
Assistindo o desfile de escolas de samba do primeiro grupo das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, a gente começa a ter dúvidas. São dois mundos distintos, embora sejam cidades separadas por apenas poucas horas de automóvel. Outrossim, não há como se discutir o superior poder econômico de São Paulo. Mas samba, não se compra. Se nasce com ele no pé. E com todo respeito aos carnavais, hoje muito populares de cidades como Salvador e Recife, samba é, foi e sempre será sinônimo de Rio de Janeiro. Perdemos o carnaval de rua, hoje revivido apenas por alguns blocos. Foram-se os grandes bailes, do Copa, do Municipal e do Monte Libano. Desapareceram com o frevo, com as grandes sociedades e os ranchos. De tradição apenas ficou o cordão do Bola Preta e as escolas de Samba. Não importa. Samba e principalmente suas escolas, é a cara do Rio de Janeiro. Talvez pelos morros, ou quem sabe pela genética carioca.
Sou do tempo que haviam - como no futebol - apenas quatro grandes: Portela, Mangueira, Salgueiro e Império serrano. Azul e branco, verde e rosa, vermelho e branco e verde e branco. E nós tinhamos até o nosso América, a segunda escola de todo mundo, a Mocidade Independente de Padre Miguel, também verde e branco. Pois é, as escolas tinham cores. Hoje, são multicolores e a exceção do Império, que entrou em derrocada, as outras foram igualadas em termos de poderio e importância, pela Beija Flor, Grande Rio, Vila Isabel e agora até a Unidos da Tijuca. A inventiva assumiu a primeira posição, mas o samba enredo e aquele levado no pé, nunca abandonaram nenhum destas agremiações.
Seria hoje o desfile das escolas de primeiro grupo no sambódromo do Rio de Janeiro, um show da Broadway? Diria que melhor, pois, é mais caro e como frequentador da Broadway diria, que nunca vi um espetáculo novayorkino, que fizesse as pessoas se levantarem de seus assentos e dele participarem como acontece nas arquibancadas e nos camarotes do sambódromo. E não creio que ninguém o possa copiar. Pois samba no Rio de Janeiro é alma, e alma não se copia, apenas um dia perde-se...
Há de se entender que um trio elétrico pode funcionar em qualquer parte do Brasil. Mas nunca com a intensidade e alegria, que só o povo baiano pode lhe proporcionar. Logo, em Salvador é outra coisa. O mesmo pode-se dizer do carnaval de rua de Recife. Como reunir tanta gente em torno do Galo da Meia Noite, num frevo frenético e alucinante? E o Boi Bumbá da região norte? Poderia funcionar no Rio, ou em São Paulo? Acredito que não.
Escola de Samba é Rio de Janeiro. Copiar, o levará a comparações e quando isto acontece, a coisa fede. Este ano, algo me diz, que o titulo ficará pela Tijuca. Unidos da Tijuca e Salgueiro, vão falar mais forte hoje a noite na Avenida.