terça-feira, 17 de maio de 2011

PORQUE A TERRA SOBE E O SOL NÃO SE POE?

Porque a terra sobe e o sol não se poe? Está ai uma boa pergunta.

Uma vez Rubem Braga definiu a grande diferença existente entre uma crônica e um artigo. Para ele uma crônica é contar um caso. Um artigo, explicar este mesmo caso. Parece um jogo de semântica, mas na verdade não o é. Tentarei me explicar melhor.

Desde pequeno eu cresci meio encucado, com aquela história que a terra era redonda, que girava em torno de seu próprio eixo e fazia parte de um sistema, em que seu centro era dominado por um astro luminoso de grande importância, a quem foi dado o nome de sol. Ouvia, pensava e duvidava. Coisa de guri, que nada tem para fazer. E pensava... Como a terra girava em torno de si mesmo e a gente não ficava tonto? Como o sol era um astro fixo se o via  nascer de um lado, passar durante o dia sobre a minha cabeça e se por do outro? E como a lua não tinha luz própria e mesmo assim iluminava tudo a minha volta? Era muita explicação a ser entendida. Foi quando pela primeira vez em minha vida não recorri as explicações sábias de vó Adelina. Preferi raciocinar sobre o assunto.


Imaginem os computadores haviam sido inventados 16 anos antes desta dúvida assolar meu pobre cérebro de 10 anos, quando pesava pouco mais de 50 quilos, enquanto os chamados eletrônicos pesavam 14 toneladas - pois o Bill Gates não havia sequer habitado o útero de sua excelentíssima progenitora, e eu sem saber se a terra subia ou se era o sol que se punha...

Nunca me considerei um super dotado, mas longe de ser o retardado que correntes familiares me acusavam de ser. Outrossim, estas pequenas coisas me faziam pensar que viver não era uma coisa tão simples, como os outros que me cercavam, tentavam me vender a idéia.  Tudo funcionava como em um teorema matemático e assim fiquei imaginado como alguém chegara a aquela conclusão. O tempo passou, descobri o sexo e me esqueci daquelas dúvidas pueris. Até que um belo dia, na Bahia, mais precisamente em Ilheus, me dei ao luxo de assistir a um por do sol e escrever sobre o mesmo. Foi quando também descobri que não estava simplesmente escrevendo um crônica, pois, aquilo não era apenas a descrição. Era a explicação de um fenômeno fisico natural, diário e esplendoroso. Tratava-se talvez de meu primeiro artigo. Matara uma antiga charada. Lembro-me vagamente de trechos do mesmo.

Se a terra girava em torno de seu próprio eixo e envolta daquele astro físico que à frente de meus olhos se punha, na verdade ele não estava se pondo. A terra é que estava subindo. Foi também aí que descobri que a semântica é importante, pois, pode transformar um fenômeno natural em algo mais brando de se ler e entender. Imaginem, você descrevendo a subida de um planeta, ao invés do por do sol. Nada romântico. Por isto optei por achar dali para frente que o por do sol, embora não existisse, era uma figura literária mais impressionante do que a subida real do planeta que habitava e que girava tão devagarinho, que não me deixava sequer tonto e que da mesma forma subia e descia, sem que eu caísse para tal. Eta sisteminha bem coordenado! Daquele dia em diante passei a dar mais valor a meu planeta e a aquele que o mantinha acorrentado a um sistema em torno de si. Tornei-me um amante da natureza e achei que ser arquiteto era a minha sina. Um dia construíria sistemas qual aquele, que ora me estasiava.

Pois bem, você tem o direito de chamar o bandeirinha de juiz de linha, da mesma forma que o lateral direito de ala. E isto de maneira alguma modifica o teor básico daquilo que rotulamos como futebol. Tudo é apenas uma questão de semântica. Na vida real a coisa funciona da mesma forma. Você pode descrever um caso. Você pode tentar explicar o mesmo. E você pode inclusive romanciá-lo e assim o transformar em um livro.