segunda-feira, 25 de outubro de 2010

NOSSOS DOIS, BRASIL


Já tenho mais de 60 anos. Os completei semanas atrás. Outrossim, todos os dias tento me lembrar disto, para ver se acredito no fato. Não sou do tempo em que chá de goiabeira era o único remédio para curar diarréia. E aqui entre nós, parece que foi ontem que eu estava indo para o Arpoador com minha prancha de madeira debaixo do braço. Naquele tempo não havia ainda o surf, apenas o Jacaré. É, não possuo mais dúvidas: eu tenho mesmo 60 anos...

Pois é, quando se tem dúvidas, acredito que seja sempre bom repensar sobre o fato. Todavia, a repetição excessiva deste repensamento” nem de perto pode ser comparada a força que o presidente Lula está fazendo, para acreditar naquilo que inventou - possivelmente durante um porre - e que agora tem que suar álcool para transformar realidade: um poste em presidente.

Pois é, quando nosso presidente decidiu por uma herdeira e não um candidato ele quis provar ao PT, que era maior do que o partido que ajudou a fundar e o levou ao poder. Ele era o homi” e elegeria quem assim o quisesse, pois, mesmo para um criança de três  anos, é impossível se imaginar que não existe em seu quadro partidário ou nos outros que formam sua plataforma de governabilidade, que não exista ninguém mais preparado do que esta caricata senhora. Logo, foi apenas uma forma de provar sua força. Já que agora está claro que aquela sua popularidade de 74% era balela construída para se tentar dar o golpe ainda no primeiro turno. As urnas provaram que o 4 vinha à frente do 7 e não na ordem inversa. E o engodo virou contra o feiticeiro. Ele hoje tem que fazer uma coisa que odeia e que não necessitou fazer a muito tempo. Arregaçar as mangas e gastar seu fôlego.

Em três dias de Brasil, descobri que nunca na história deste pais, um presidente abandonou seu cargo, meses antes de afastar-se oficialmente, e passa vinte e quatro horas de seu dia, nos sete dias da semana, tentando vender a idéia, que votar em sua herdeira era a única possibilidade de não haver uma ruptura nos projetos que ele, acredita que tenha criado, embora sejam a maioria destes, meras extensões de projetos criadas pelo FHC e o Itamar. Assisti pasmo, a uma onda sísmica regada a convulsões políticas de extremo mal gosto, nos programas do PT. Coisa que nem chá de goiabeira seria capaz de sanar.

Desculpe, sei que o simples repetição em uma mesma frase de mal gosto e PT, não deixa de ser uma redundância. Mas depois dos 60, você se sente acima do bem e do mal e se sente no direito até de cometer redundâncias. E assim sendo, vamos a outra redundância.

Quando o Brasil se tornou Brasil em 1822 ele era uma área de dimensões continentais, mas na verdade sem uma verdadeira identidade. Tinha o Uruguai, mas não tinha ainda o Acre. Logo era quase o de hoje. E era na época como fossem dois países. De um lado, um Brasil que em 13 anos de corte portuguesa em sua área, transformara-se, educou-se, comunicou-se, poliu-se, e descobriu que havia um mundo à sua volta. Era um Brasil pequeno, com uma população diminuta e cujo centro nevrálgico era a cidade de Rio de Janeiro e alguns estados adjacentes. Havia um outro Brasil, enorme. Muito maior do que o primeiro, mas que vivia da mesma forma que quando descoberto quase 400 anos antes por Pedro Álvares Cabral. Retrogrado, dependente, ignorante e cego.

Passaram-se quase 200 anos, e não consigo ver um Brasil diferente. Somos ainda dois países. Quanto mais ignorante e menos informado, mais são aqueles a acreditar que esmolas são as únicas formas de se sobreviver. É este mesmo Brasil irreal que acredita que o Brasil deva ser governado por um rei do qual deve ser emanado todo o poder. A perfeita inversão da pirâmide governamental, que um dia os Estados Unidos provou ser possível inverte-la, com sua independência em 1776. Independência esta conseguida com muita luta e sangue derramado e por que não dizer com a ajuda dos franceses, que aprenderam também ser possível de levar avante em seu próprio pais e que propiciaram poucos anos depois, 1789, à revolução francesa.

Só em 1822, acordou-se em terras de céu cor de anil.

Neste segundo Brasil, o do PT, o voto de cabresto e os currais eleitorais continuam sendo aplicados da mesma forma e nos mesmos lugares. Votos são comprados ou dirigidos. O PT, mesmo sabedor que hoje é menor que Lula e desmoralizado com a escolha de uma herdeira e não de um candidato que pelo menos tivesse vindo de suas raízes, só tem uma saída: apoiar e não perder a sua boquinha. E para tal montou uma máquina eleitoreira, a um custo sem precedentes.

Lula, como Collor, teve todas a chances de fazer do Brasil um pais unido. Mas, com a cobiça daqueles que formam e formaram, os pilares de sustentação destas duas nefastas gestões, o dividiram ainda mais! O fragmentaram. E mesmo um terceira força, a verde, nascida da incompetência política da atual gestão, não assumiu a responsabilidade de ter uma voz. Omitiu-se, preferiu ficar em cima do muro e este pode ser um preço caro.