quinta-feira, 26 de julho de 2012

O MELHOR DRAMA ESTÁ NO ESPECTADOR, NÃO NO PALCO


Vocês tiveram a oportunidade, quando jovens, de ler Machado de Assis? Eu tive e acho que li quase tudo que ele escreveu. Dos livros aos contos. Estes últimos devem ter suplantado a marca dos 200. Com a impassibilidade que apenas as grandes convicções lhe trazem, creio que Machado de Assis, possa ter sido um dos maiores, se não o maior, homem da literatura brasileira.

Ademais, Machado tinha a grande capacidade que não tenho. A de condensar um pensamento, em poucas palavras. E além de o fazer com extrema maestria, utilizava-se com soberba sutileza, do difícil recurso de subentender muito do que queria dizer. Ler Machado de Assis, é como se tentar decifrar um enigma, uma charada, um quebra-cabeça.

Em um de seus contos ele meio veio com esta, que considero épica: o melhor drama está no espectador, não no palco. Isto é uma realidade crudelíssima. De uma profundidade abismal. Nós é que fazemos o feio e o bonito. O certo e o errado. A comédia e o drama. A beleza está nos olhos de cada um... O autor escreve, os atores protagonizam, mas é a platéia que sente, reage e absorve toda e qualquer mensagem. Este conceito, aplica-se na criação de cavalos de corrida, principalmente quando certas teorias são levadas a efeito, sem um fundamento plausível de qualquer bom senso. 

Em um de seus contos, possivelmente um dos mais pitorescos, Machado de Assis descreve um médico, que escolheu uma esposa, nada bonita e muito menos simpática por questões de estudos científicos. Segundo ele, o médico, ela reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso e excelente vista: estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além destas prendas, - únicas dignas de preocupação de um sábio, era mal composta de feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte

Este texto rico de genialidade, apenas sugere os perigos que um ser apenas teórico pode correr, quando deixa de lado a prática e acredita que tudo é parte de uma grande tecnologia. Que as coisas possam ser selecionadas mediante uma equação. Enfim, que o  drama está no palco, e não em sua platéia.  Evidentemente que ali extinguiu-se a descendência dos Bacamartes. E não poderia ser de outra forma.