Eu tinha 15 anos e procurava por heróis. E de repente achei um dentro de um esporte que nunca me chamou a atenção, o box.
Sonny Liston era o campeão mundial dos pesos pesados, depois de ter dado uma sova em Floyd Petterson, um lutador, igualmente negro e dotado de muita habilidade, mas também de um queixo de vidro.
Sonny, não tinha técnica alguma, apenas força. Na verdade era um troglodita, ex-criminoso, com ligações suspeitas, e que passou a ter dificuldades de arrumar adversários que o quisessem enfrentar depois de conquistar o titulo. Foi quando trouxeram à sua frente, um jovem de 22 anos, muito falante, com cara de galã, invicto em 18 embates e que havia conquistado uma medalha de ouro nas olimpíadas de Roma. Seu nome Cassius Clay.
A luta foi levada a efeito em Miami com Sonny Liston feito franco favorito para vencê-la em três rounds. especulava-se quem seria o próximo adversário de Sonny depois do massacre que ele impetraria sobre o jovem aspirante. Mas Sonny parecia lento e Cassius Marcellus Clay, Jr. rápido demais. Sonny teve um corte no quarto round, totalmente dominado por Clay e a famosa solução Monsel, usada para estancar o sangramento, parece que foi igualmente espalhada nas luvas do mesmo. E assim no quinto round, Clay quase se viu cego, ante a inflamação de seus olhos. Conseguiu sobreviver a queda, quase por milagre. Refeito no sexto round, ele partiu para cima do campeão e lhe deu uma verdadeira sova. Com técnica e velocidade. Sonny Liston não voltou a luta. Desistiu da mesma alegando estar com um problema no ombro.
Imediatamente o zum zum zum se formou, como aquela luta fosse parte de uma grande marmelada. Que as ligações não muito boas de Sonny Liston, o haviam obrigado a perder, já que estavam jogados no azarão da contenda. E uma fortuna havia sido ganha na trapaça.
Não assisti a luta, mas tenho gravada a imagem de Cassiux Clay, subindo nas cordas e de braços erguidos gritando para seus críticos: Eu sou o maior. Eu choquei o mundo! Anos mais tarde comprei a fita com as duas lutas.
Cassius Clay, uma semana depois trocou seu nome para Muhammed Ali e avisou o mundo de sua nova crença religiosa.
Foi ordenada uma revanche. Queriam um tira teima para apagar a imagem de marmelada em relação ao primeiro embate. Ela se deu em Maine, e menos de 2.500 pagantes compareceram ao pequeno ginásio de Lewiston. O menor publico já comparecido a uma final mundial de pesos pesados. E com menos de um minuto do primeiro round, Sonny Liston foi ao chão, não mais se levantando até a contagem dos 10 segundos. E esta, que deve ser a mais famosa fotografia do esporte, Sonny no chão, Muhammed Ali de pé, o encarando de cima para baixo, o desafiando e lhe avisando para não levantar, eu a tive durante anos em um poster em meu escritório. Para mim um clássico. Muhammed Ali foi o meu herói dos quinze anos!
A emenda foi pior que o soneto. Novamente a onda de criticas sobre uma nova trapaça se instaurou e imediatamente a idéia que Muhammed Ali era uma farsa passou a ter eco na comunidade do box.
Santo com pés de barro ou foliado a ouro?
Pois bem, Muhammed Ali provou ter sido o maior de todos os tempos. O que determina que muitas vezes as pessoas tomam posições infundadas por desconhecimento ou por pressa de querer se chegar a um veredito. O fato de Muhammed Ali deixar de ser Cassius Clay e ingressar numa minoria, não muito bem vista, criou em torno de si uma certa antipatia. Seu jeito moleque e sua prepotência, aumentaram ainda mais a animosidade que tinha para com grande parte do povo norte-americano. E quando se recusou a servir na guerra do Vietnam entornou de vez o caldo.
Mas isto o fez menor do que foi?