Brinco com a unanimidade, quando a chamo de burra, como Nelson Rodrigues o fazia, embora não acredite que ela exista. Afinal, nem no inicio dos tempos, Deus, que a tudo criou, conseguiu para si, a unanimidade. A maior prova disto é que um de seus anjos rebelou-se e criou a sua própria escola de samba: A Unidos do inferno. Preocupa-me sim, a opinião publica, que muda conforme o soprar dos ventos. E vento, como é de conhecimento geral, pode vir de qualquer lado. E quando te pega de jeito...
Porque não existe unanimidade? Não querendo ser o pulha integral, diria que o caso da fumacinha branca que sai da chaminé da capela Sixtina, seja o exemplo mais recente. Até o seu aparecimento, quantas negras as antecedem? Quatro, cinco, dez? E olha que todos os cardeais que compareceram a votação, todos excessivamente bem preparados, estavam segundo eles próprios inspirados por Deus. Imaginem se não estivessem?
Olhem esta irresistível verossimilhança entre a inexistência da unanimidade e a burrice da opinião pública BRASILEIRA. O suicídio de Getulio, fez dele, que estava a beira de ser obrigado a renunciar, num mártir, da noite para o dia. E a Carlos Lacerda, que todos liam, ouviam, concordavam e aplaudiam, ser execrado e visto como o inimigo número 1. Este seria a princípio, o maior exemplo da maleabilidade de uma opinião publica. Uma bala e uma total mudança de atitude e pensamento. Mas seria mesmo?
No Brasil, a opinião publica é muito perigosa, mesmo em se tratando de assuntos impossíveis de se imaginar. Osvaldo Cruz, que em qualquer pais do mundo seria um símbolo, no Brasil era detestado, por querer impetrar a vacina obrigatória. A opinião pública era a favor da peste, fosse esta qual fosse. Morrer era melhor do que entrar na fila. Logo, opinião publica no Brasil, para mim, é sinônimo de obsessão feérica ao desastre, pois, na maioria das vezes, está embalsamada numa fé lascinante e revestida, na mais cruel cronicidade. Sem direito a desvios ou remissões. E em nossa política, a temos. Tem gente que defende situações indefensáveis e que se nega a aceitar o óbvio, pelo simples fato que este óbvio, não foi por ele inventado ou mesmo entendido. Foi apenas vendido e consequentemente comprado Situações sintomáticas são vistas como coincidências esporádicas.
E por isto, votamos em que votamos...