sábado, 24 de setembro de 2011

AFINAL DEUS É OU NÃO É BRASILEIRO?

Mudei-me para os Estados Unidos em 1987. Parece que foi ontem, mas na realidade, já estou bem perto de fazer as bodas de prata por aqui. E confesso que não foi fácil, principalmente estabilizando-se como me estabilizei de inicio, em uma cidade provinciana, como a de Lexington, no tradicional e não muito adiantado estado de Kentucky. Vocês assistiram aquele filme com o Burt Reynolds chamado Deliverence? Pois é, melhorou apenas um pouquinho.



A sociedade norte-americana num geral já é bastante diferente da brasileira, imagine a de Kentucky. Mas existem coisas que com o tempo eu passei a admirar. E uma delas, são os dizeres curtos e diretos que viram, com o tempo, lemas populares, por aqui. Um dizer que os norte-americanos defendem com ênfase, é: Fashion only with Function. Moda apenas com função. Pois é no Brasil, existe muita moda e pouca função.

A começar de nossa independência, que no nosso caso se deu de pai para filho, sem derramamento de sangue, embora houvesse uma grande diarréia assolando nosso primeiro imperador, às margens do Ipiranga. Comentam as más línguas, que extamente por esta razão, o Brasil já nasceu cagado!

Não importa. Toda grande mudança no regime de um povo, principalmente as revolucionárias, necessitam de um cadáver. Getulio vivenciou esta necessidade, em duas ocasiões. Primeiramente em 30, quando derrotado que foi como candidato a presidência da república, numa exdrúxula composição entre os fazenderos gaúchos e os barões da cana de açúcar do nordeste para os produtores de café e leite dos estados de São Paulo e Minas Gerais, viu seu companheiro de chapa, João Pessoa, filho de Epitácio Pessoa, ser assassinado em uma confeitaria de Recife chamada Glória, por um rival político conhecido como João Duarte Dantas. Imediatamente criou-se um mártir, estabeleceu-se uma revolução, cavalos foram amarrados no obelisco carioca e entre mortos e feridos todos se salvaram. Getulio assumiu e apenas Washington Luis e seu futuro sucessor Júlio Prestes, perderam suas respectivas boquinhas.

Vinte poucos anos depois, o mesmo Getúlio, dava um tiro em seu próprio coração e gerava outra sucessão de fatos que não culminaram em nada a curto prazo, mas que foram decisivos a médio. 
Em 1961 o senhor Jânio Quadros renunciou e deixou o Brasil a beira de uma revolução civil.  Intalado o vazio do poder, duas facções o reclamaram: de um lado um trio militar querendo inibir que o vice presidente João Goulart assumisse. De outro o cunhado de Jango, um senhor cordato e bem comportado chamado Leonel Brizola liderando uma frente legalista no estado em que governava, o Rio Grande do Sul. E no meio um mineiro, que como todo mineiro era conciliador e dono de uma facilidade memorável de convencer as pessoas, conhecido como Tancredo Neves, gerenciando com rara maestria, estas as duas frentes antagônicas, na tentativa de evitar uma guerra civil. E assim, a Patativa do Rio das Mortes, como era conhecido, convenceu a todos e de quebra se tornou o primeiro ministro, no novo regime aprovado pelo legislativo, como única forma de agradar a militares e brizolistas.

Em 12 dias de incertezas, entre Agosto e Setembro, muita gasolina foi gasta com tropas se movimentando por todo o Brasil, mas nenhum tiro veio a ser disparado e apenas um morto, o ex-pracinha da FEB, Darvin Mário Ponzi, vítima que foi de um ataque cardíaco fulminante, quando marchava em uma passeata a favor da legalidade.

Um plesbicito trouxe Jango de volta ao poder e com isto os militares tomaram consciência que era hora de assumir, coisa que já vinham tentando desde quando foi vetada por eles a posse de Juscelino Kubitsckek. Em 1964 assumiram e pelo que consta, apenas uma vida foi perdida. A de um soldado raso da guarnição do Forte Copacabana do Rio de Janeiro, atingido por engano.

A morte de um estudante no Rio de Janeiro, desencadeou o movimento das diretas já. Moral da história: qualquer que seja a moda no Brasil, nunca haverá função. No Brasil as coisas acontecem porque tem que acontecer, afinal Deus é ou não é brasileiro?