Muitas das coisas que aprendi com vó Adelina, usei com sucesso em minha vida profissional, outras, infelizmente por força das circunstâncias não. Uma delas foi a de me comunicar com estranhos. Ela, quando eu era pequeno, me prevenia deste perigo. Cresci e a desobedeci. Mas afinal escrever em um blog, ou mesmo em um jornal, é um exercício diário de se comunicar com estranhos. Você tece suas ideias e opiniões para um grande vazio. Um vazio impessoal - como todos os vazios o são - mas que você em seu texto é obrigado a achegar-se, como a um amigo. Escrever é trocar ideias com amigos. Você não pode despersonalizar seu texto e simplesmente tratar a todos aqueles que o lêem, como paredes. Isto faria de sua defesa de posições dogmas. Mas nem todos que o lêem, acreditam ou concordam com que você escreve. Uns terão razão, outros não. Mas querendo ou não, estes são peças do vazio que o julga, o critica e execra. Mas quem mandou eu desobedecer a dona Adelina?
Outra coisa que vó Adelina sempre me preveniu, é nunca generalizar as coisas. Para a generosa senhora, tudo tinha razão de ser e personalidade, próprias. Generalizar era rotular. Pelo menos isto, isto eu tento até aqui me policiar, pois, existe uma tendência a tratar uns como todos. Por que me lembrei disto? Porque assistindo ao jogo do Brasil com os Estados Unidos, quarta feira a noite, me lembrei de um amigo norte-americano, que tinha a mania de dizer que todos os brasileiros eram chegados a levar vantagem. Num ponto ele tinha razão de defender seu "rotulante" ponto de vista. Vamos a ele; Estivera uma feita no Rio de Janeiro e aconselhado pela concierge do Copacabana Palace resolveu ao invés de ficar somente no balcão de seu apartamento a assistir a queima de fogos do final de ano - o que seria o que 99% dos cariocas sonhariam em fazer, se opção tivessem - foi até o mar molhar os seus pés. Segunda a simpática moça da portaria, Iemanjá traria a ele não só benesses no ano que se iniciava, como o manteria com os pés no chão e não no caixão. Pois bem, ele manteve literalmente seus pés no chão, pois quando voltou a areia descobriu que seus Ferragamos haviam desaparecido. Os deles e de sua esposa.
No jogo do Brasil, fizemos dois gols e o juiz nos ajudou em dois, com um penalti inventado - na verdade exigido pelo Damião - e o impedimento do Pato, que na lagoa boiava. Não precisávamos disto, pois, o time norte-americano não faz medo a ninguém, mas que levamos vantagem, levamos. Não sou muito de concordar com Galvão, mas que era muito jogo para pouco juiz, isto ele tinha toda razão. Pena que sua voz, falhava bastante ao final da contenda. E não existe pior castigo para um locutor - principalmente para um que fala pelos cotovelos - que ficar afônico.
Nós brasileiros nos especializamos na cultura da espontaneidade. Um alô, pode se transformar em um abraço ou dois beijinhos de despedida, se entre os mesmos houver oportunidade para pelo menos cinco minutos de conversação. Com a Cristina minha mulher, em um elevador, se você mora ou está hospedado em um hotel, acima do vigésimo andar, alguém entra como vizinho e quase sempre sai como amigo. Somos susceptíveis aos contato de primeiro, segundo e terceiro graus e adoramos esfregar nossas emoções na nem sempre receptiva sensibilidade alheia. E a gente só toma conhecimento desta nossa peculiaridade, apenas quando se mora fora.
Eu me mudei para os Estados unidos em 1987. E não iniciei minha jornada por aqui, como a maioria dos brasileiros inicia, Miami, New York, Los Angeles, Boston ou Atlanta. Fui morar em Lexington, Kentucky. Isto é, Estados Unidos, mesmo! Lá por sorte de meus vizinho e azar de Cristina, o prédio só tinha quatro andares. Mas ninguém chega a perfeição sem a prática e Cristina se tornou uma especialista em comunicação em elevadores. Foi então que descobriu, que o norte-americano, entra sorridente, lhe dá bom dia, faz um ligeiro comentário sobre o que será o tempo e emudece. A partir deste momento se você tentar manter todo e qualquer tipo de diálogo, você estará invadindo a sua privacidade. Você estará esfregando suas emoções em sua sensibilidade.
Nós gostamos do aglomerado. eles não. Quando entram no elevador, procuram o lugar diametralmente oposto ao seu, e depois das duas frase, se tem um jornal o abre, se nada tem a ler, examina dedicadamente seus sapatos - sempre polidos - até que o elevador atinja o seu destino. Ai despede-se mecanicamente com um sorriso mais polido que seus sapatos, com um have a nice day e mergulha no vazio de sua existência. Sua ambição máxima é sempre que possível nunca revelar as suas emoções e conseguir um aumento que possa lhe levar a sair de um edifício e ir morar em uma casa longe de todos.
Os britânicos, aquele que basicamente inventaram os Estados Unidos, são ainda mais irônicos. Pois deixam a conversa fluir, embora cinicamente demonstrem que não estão dando a mínima bola para a sua opinião. Principalmente em sendo você um latino, com cara de turista. Mas pelo menos eles deram uma razão maior para a bola...
Uma vez Oscar Wilde escreveu, que "um cínico é alguém que conhece o preço de tudo e o valor de nada". Pois é esta seria a melhor definição que eu teria para com os anglo-saxões. Bem feito para eles. O Brasil meteu quatro, com dois dúbios e eles terão que mais uma vez enfiar a viola no saco... Quem mandou desde pequinininhos usarem bolas de tamanhos e formatos distintos...