domingo, 31 de outubro de 2010

UMA CARTA PARA O ARNALDO JABOUR


Meu querido Arnaldo,

Hoje, madrugada de 31 de Outubro, aqui escrevo, depois de ter passando a noite em claro atravessando o oceano nas asas da TAM, para chegar em Miami, e votar contra a Dona Dilma. Não sei se meu voto fará diferença alguma, mas não iria me abster, como muitos o farão, nesta manobra de se enforcar dias de trabalho neste feriadão, providencial para aqueles que votarão na herdeira de nosso presidente. Está na cara que isto prejudica mais ao Serra do que a Dilma, pois ele precisa mais do que ela dos votos de abstenção, já que indeciso é indeciso e nulos e brancos são pessoas que querem demonstrar sua aversão ao que está acontecendo e optam pela pior das opções. São igualmente assim que os Tiriricas são eleitos.

Se você não sabe, você é meu ídolo. Sempre o foi e acredito que sempre o será. Não apenas por ter sempre a palavra certa na hora certa, mas também porque é um homem que dá um voto de credito aos inimigos, até que eles provem ser inimigos. Isto demonstra caráter e isenção. Não tenho esta sua virtude.

Gravo a maioria de seus pronunciamentos, e até aqui, comprei todos os seus livros. Só não vejo os filmes que dirige, pois, não tenho pelo cinema nacional maior afeição. Sei que de vinte películas vou gostar de uma e isto me fará perder 38 horas de minha vida e ingerir muita pipoca inultimente.

No dia 22 de Outubro de 2002, você apresentou um dialogo memorável. Digno de um democrata. Aqui vão alguns trechos: “ … Lula era um grande desejo nacional... Lula é o velho desejo de se ter um filho do povo no poder...”

Eu acho que até um desejo nacional ele poderia ser, embora eu veja o Brasil como uma grande empresa, e em momento algum se eu fosse dono desta empresa confiaria a ele as rédeas da mesma. Agora em relação a ser um filho do povo, ele como Macunaíma, a partir do momento que assumiu, passou por uma metamorfose. Mudou o corte do cabelo, passou a gostar do Armani, comprou avião novo e até a faixa de presidente ele mandou mudar. Criticou FHC por suas viagens, e nunca na história de um pais, um presidente se ausentou tanto de Brasilia. Sem contar que seu filho passou a acreditar na força de pensamento e deixou de ser zelador de um zoológico para se transformar em um milionário relâmpago de mão cheia. Família tenaz! Só dona Marina, que como coajuvante de novela da Globo, entrou em cena muda e saiu da mesma calada.Mas continuemos.

Você disse: “...Lula emociona a população pelo seu jeito afetivo...” Jura que você ainda acha que ele tem um jeito afetivo?

“…Lula poderá trazer um época em que tínhamos nos anos 1960, antes do golpe, uma época de grandes utopias, de desejos mais nacionalistas. Se isto for vivido com sabedoria e não excesso e onipotência, poderá existir uma nova era no pais, neste momento em que o mundo está arrogantemente imperial...”

Mas hoje, você há de convir, que houve muito excesso e mais do que tudo onipotência com aquela história de nunca na história deste pais... Mas você provou mais ainda, estar dando um voto de ampla credibilidade ao novo governo dizendo o que apresento a seguir:

“…O perigo que ronda a vitória do PT será a tentação de botar para quebrar, o tal machismo revolucionário. Outro perigo é a sabotagem das elites...

É Arnaldo, nesta o crédito que você deu ao Lula e seus asseclas chegou as raias do angelical. A turma do PT, se esqueceu de qualquer perfilamento de doutrina política ou partidária e simplesmente caiu na gandaia. Só pensou em maracutaia. Que nem criança pobe que se vê sozinha e presa dentro de uma casa de chocolates. Lambuzaram-se, dos cabelos ao dedão do pé e quanto as elites, estas nunca ganharam tanto dinheiro, pois o Lula, sabiamente lhes calou a boca, abrindo a torneira da grana.

Sei que as suas intenções eram as melhores possíveis quando proferiu este texto. Se você não se lembra, veja como terminou seu dialogo:

“… Boa sorte Lula. Que Deus lhe dê luz e que o grande Marx também lhe ilumine com a luz da sutileza história que sempre ensinou. Boa sorte Lula. E não se esqueça de que – como dizia Mao Tsé-Tung – a paciência é uma virtude revolucionária.

Eu acho que o filho do povo o decepcionou. Pois, a meu ver, só foi ser o filho do povo, por trás das câmeras, naquele filme ordinário sobre a sua vida e que está representando o Brasil no exterior. Ai eu te pergunto, se este filme é o que de melhor o Brasil produziu, tanto que nos representa em festivais internacionais, para que eu vou ao cinema assistir películas nacionais, que teóricamente são inferiores a esta?

Você está absolutamente certo quando afirma que a política nacional não piorou nos últimos anos, ela é a repetição de tudo que foi feito até aqui, desde 1822, quando nos tornamos independentes. Tínhamos tudo para dar errado e demos. Simplesmente, confirmamos as apostas.

Não sei o que você irá dizer amanhã, depois de conhecidos os resultados e talvez tenhamos uma herdeira assumindo o trono, pela maioria do voto de cabresto, que mesmo assim, não deixa de ser popular. Por melhor que seja a sua alma, não acredito que você poderá dar novo voto de confiança a esta turma que a partir o primeiro dia de 2003, dia após dia, provou não ser digna da mesma.

Uma gestão que se calçou na distribuição do dinheiro fácil, aquele que não exigiu sacrifício e esforço de criatividade, de quem o recebeu. Aquele que não foi atrelado a um sério investimento em educação, saneamento, segurança e saúde. Aquele que quer manter o status-quo existente em troca do voto eterno.

Arnaldo, você que tem a audiência que não tenho e mais do que isto o texto que adoraria ter, continue a meter a boca no mundo. Continue empunhando a nossa bandeira. Aquela que exige respeito ao povo. A cada dia, mais pessoas abrirão os seus olhos, pois, como Brizola disse, o sapo barbudo virou príncipe” mas como você bem repetiu Mao, a paciência é uma virtude revolucionária”.