sexta-feira, 29 de outubro de 2010

QUE PAÍS É ESTE?

A Marga Sanches soltou outro dia este comentário em meu face bookRenato, bom dia, que aula de História eu digo aos meus alunos que o Brasil já nasceu cagado, devido a diarréia deste senhor. Bom final de semana”.


Confesso que este comentário muito me envaideceu. Agradeço, embora não mereça.

Graças a historiadores do calibre de Laurentino Gomes, Octávio Tarquinio de Sousa, Tobias Ribeiro, Alberto Pimentel, Iza Salles, apenas para citar alguns que me vem agora a mente entre tantos outros, que a idade já me faz esquecer, podemos hoje ter um retrato de um Brasil, que não tínhamos, pois, este depoimento estava apenas entregue às escolas que leccionavam um Brasil retumbante, heróico e por que não dizer em um português claro e definitivo: totalmente fictício. Se hoje Lula é considerado herói por uma larga faixa de nosso povo, que dirá Don Pedro, que nos deu a Independência e quase a República, sem erros gramaticais?

Existem livros bárbaros retratando nossas origens, como nação. Li outro dia um, que a minha já desgastada memória não me deixa lembrar o titulo, sobre a luta na familía Bragança, para a sucessão no trono brasileiro que Don Pedro II queria vagar já não era de pouco. Quando me lembrar o indicarei em meu blog. O livro é uma aula não só de história, como de psicologia a respeito de uma família sedenta pelo poder.

Enfim, estes destemidos historiadores estão felizmente resgatando nossas verdades. Não estão tentando dourar a pílula e nos infestar de impostores heróis. A grande verdade é que nascemos para não dar certo, como não demos até aqui. A culpa não é apenas de nossos dirigentes. Afinal somos nós que o elegemos e mesmo depois que ele não prove absolutamente nada, mesmo assim, muitas vezes somos ainda capazes de os reeleger. Desculpem a falta de tato, mas somos uma pais composto de gente complicada, e isto não é de hoje. Desistimos fácil e quando reagimos, muitas vezes o fazemos na onda do sarcasmo. Nossa moeda de maior uso.

O Brasil é um pais de dimensões continentais, com distintos climas e topografias. Até ai nada, pois os Estados Unidos, descoberto em uma mesma época, também o é, e deu certo. O que os difere? Seus respectivos inícios. Os Estados Unidos foram descobertos e dominados inicialmente pelos ingleses. O Brasil, como lembrou o português Manuel Sobral, por portugueses. Descobertos com um espaço de diferença de menos de meio século, fomos inicialmente povoados por degradados, sendo estes facínoras, ladrões e espertalhões, em quase sua totalidade. Os Estados Unidos, ao contrário, por presos políticos e perseguidos religiosos, em sua maior essência. Índios ambos tínhamos, mas o do continente norte-americano provaram ser imensamente mais difíceis de serem dominados. Não foram com um espelhinho e dois pentes que eles domesticaram-se.

Quando o Brasil resolveu emancipar-se dos ingleses, o fez em luta cruenta. Mas teve a clarividência de imediatamente passar ao regime republicano. Elaboraram uma constituição simples e fácil de ser entendida pelo povo, que até hoje pode ser vista, por quem quer que seja e o mais importante de tudo: eles a tem cumprido até aqui. Seu exemplo revolucionário, mesmo sendo um pais jovem, comoveu a humanidade e foi logo a seguido pela França e mais tarde até pela Rússia. Países muito mais antigos e desenvolvidos. Mas que souberam entender a mensagem do mundo novo.


Enquanto isto, nós mantivemo-nos na monarquia, trocando o pai pelo filho e posteriormente pelo neto, sendo que o pai era um amante de frangos e de seu camareiro, o filho adepto as mulheres e aos negocinhos escusos, e o neto preferia borboletas e minerais. Tínhamos dado apenas um meio passo, com nossa independência. Até que tardiamente a ficha caiu e chegamos a conclusão que deveríamos ser uma republica. E Republica nos tornamos, para variar, sem derramamento de sangue. O que é bom, mas que como a bolsa família, acostuma a quem a viveu ou a recebe, que as coisas podem ser conseguidas de uma forma fácil e sem merecimento. Isto é, sem o suor de seu corpo.

Ambos países adotaram o regime de escravatura. Os Estados Unidos descobriu cedo o erro, e a terminou com este regime, muito antes de nós, que na verdade fomos a última nação a fazê-lo. Logo, em tudo nos atrasamos. Ou como diria o mestre Gerson, sempre queriamos levar vantagem em tudo...

Quando Don João VI fugido das garras de Napoleão, trouxe consigo a corte de Portugal, ele desembarcou na Bahia, mas sediou-se no Rio de Janeiro. Com ele vieram gente melhor e as chances de cultura, desenvolvimento e comunicações. Em sendo assim, o Brasil deixou de ser colônia e passou à condição de Reino Unido, o que em outras palavras, foi na realidade o primeiro meio passo. Em 13 anos os costumes se modificaram. O Rio de Janeiro por sua vez se transformou em metrópole e São Paulo não passava de um vilarejo.  Don João voltou â terra de origem, depois que Wellington ensinou a Napoleão a história da Europa, mas seu filho ficou. Don Pedro I nos tornou independentes, fez muitas cagadas, teve que abdicar, voltou a Portugal, deixando aqui seu filho Pedro para um dia – com a maior idade - o substituir. A seguir, com a instimável ajuda dos ingleses, destituiu em uma guerra banhada em muito sangue, o impostor de seu irmão, do trono português para o qual havia aberto mão, com a morte de seu pai, em função de sua filha, que era ainda uma menininha e ele, cansado e exaurido em suas forças, ainda muito jovem, morreu três meses depois, não se sabe se de tuberculose ou gonorreia.

Logo, Don Pedro I, nosso primeiro imperador, pode até ser visto como um herói. Lula, nosso último, creio que não.

Mas voltando aos trilhos. O tempo fez de São Paulo uma metrópole e hoje o Rio de Janeiro – que foi até capital – não passa de um Balneário caro. Ambos possuem seus quitutes. Não temos mais o berço da cultura dos anos 60 e 70, onde qualquer artista estivesse ele na atividade que estivesse, vinha morar no Rio de Janeiro. Hoje eles espalham-se pela Bahia, por Minas Gerais, por São Paulo, pelo Rio Grande do Sul e até em Pernambuco, cujo artista maior de lá saído, hoje preside nossa nação.

Mas São Paulo manteve hábitos conservadores do tempo do império. Outro dia um amigo me convidou a jantar com ele em seu clube, mas avisou-me que meu ténis, mesmo sendo de couro, fabricado pelo Ferragamo e cujo custo podia ser maior que a mensalidade do clube citado, não me deixaria passar. E que eu colocasse uma camisa, pois, a minha camiseta embora fosse Diesel não passaria do elevador. Moral da história, gastei mais em meu vestuário, do que ele no gentil jantar que me ofereceu.


Isto de chama código de costumes. Válido em qualquer lugar que o exija, pois, na realidade, cada lugar tem o direito de pleitear as regras mínimas de indumentárias que acham condizentes com aquilo que se propõem a oferecer. Nos quartéis, você tem que usar uniformes militares. Na opera esperasse que ninguém compareça com sandálias hawaianas e bermudas. Mas creio também que meu ténis não deveria ser barrado em prol de muito Vulcabrás que vi, que não vale vintém algum.

Mesmo em nossas mais desenvolvidas cidades, somos gente distinta. Vejam por exemplo que São Paulo vota Tucano. O Rio no PT e no PMDB. Envergonho-me de não ser paulista, neste tópico. São Paulo é um aglomerado de clubes sofisticados: o Helvécia, o Pinheiros, o Paulistano, o Harmonia, o Clube de Campo de São Paulo e tantos outros, que nem devo conhecer. O Rio de Janeiro vive do Country Club, onde pelo menos meu ténis não é barrado, sim copiado e minha camiseta é bem vinda, desde que não esteja rasgada. O Rio vive das praias. São Paulo de seus sofisticados clubes. temos que dançar conforme o ritmo.

Mas em uma conversa de amigos no bar do Goês, descobri que o Itaim está tão sem segurança como Copacabana. Que o trânsito é tão selvagem como no Rio de Janeiro. Onde nossos marginais operam seus impérios de dentro das penitenciárias e os escândalos aglomeram-se nas folhas dos jornais, mas de lá não passam. Que as favelas e o crack se proliferam em ambas as cidades e que quando chove qualquer um das duas entra em petição de miséria, sem direito a ajuda do paternalista bolsa família.

Logo, estamos igualados nos problemas. Nunca em soluções, mesmo porque se elas existem, não são adotadas, principalmente se necessitam de verbas federais.

Que pais é este? Perguntaria o cantador.

Ao que responderia, que este é o Brasil, que sempre foi e sempre será o pais do futuro, que foi descoberto por sorte, que passou de pai para filho, que virou república sem ter a mínima noção do que deveria ser uma, que teve ditadores, civis e militares, que coloca para treinador de sua seleção a comparecer a uma Copa do Mundo um cara que nunca dirigiu sequer um time de várzea, cujos órgãos de pesquisas se vendem para o candidato do governo e depois explicam sem explicar o porque a disparidade dos resultados nas urnas, que elege quando revoltada um rinoceronte, um macaco e um Titirica e que agora, com a volta da monarquia tem até herdeira de sapato de bico largo.

Outrossim uma verdade emerge a tona: com a dona Dilma, regada a seus lapsos memoriais e sua nova gramática para a concordância de verbos - acredito eu para manter um nível de conversação com nosso presidente sem chocá-lo - o Brasil não terá sequer presente.

E o nosso futuro?

A Deus se dará! Afinal ele não é brasileiro?