sábado, 19 de março de 2011

EVOLUÇÃO OU REVOLUÇÃO

EVOLUÇÃO OU REVOLUÇÃO ?

Existem dogmas. Alguém institui uma pretensa verdade do nada, a coisa vai passando de geração em geração e quando menos se espera vira uma espécie de dogma. Oficializa-se como verdadeiro e nada mais se discute. Aceita-se. De estória, vira história, como diria minha avó Adelina.

Um dos maiores dogmas existentes na face deste planeta versa sobre a arte dos franceses em comer. Le grande cuisine de France .  Embora eu ache o excesso de manteiga e a frugalidade excessiva, dois pontos negativos, não há dúvidas que a cozinha francesa e a arte do francês comer é algo que deve ser respeitado. Mas daí a achar que foram eles, que nos primórdios de nossa civilização, impetraram este estilo, se vai uma grande distância. Sim, não estou exagerando. Os franceses comiam com a mão e muito mal até que Catherina de Medicis (1519-1589) pintou no pedaço, vinda da Itália.

Catherina tinha 14 anos era órfã e em 1533 atravessou a fronteira para esposar a Henry de Orleans, o filho de King Francis I. Mas ele não é, e acredito que nunca será, o pivô desta questão.

Catherina desembarcou em Marseilles com garfos, sapatos altos, e chefs de cozinha, coisas que os franceses não tinham até então conhecimento. Bisneta de Lorenzo o magnífico, Catherina perdeu seus pais Lorenzo II de Médici – Duke de Urbino – e Madeleine de la Tour d’Auvergne, quando ainda contava com apenas três meses de idade. Com seis meses foi levada a Roma para ter sua educação supervisionada diretamente pelo papa Leão X, que era seu tio afastado, ou coisa parecida. Gente fina sempre é outra coisa...

Há de se convir que Catherina tinha um excelente pedigree, já que seu pai foi a inspiração de Machiavelli escrever o Príncipe – para muitos sua obra mais consistente – e foi também Lorenzo II um dos dois príncipes Medicis “esculturados” por Michelangelo na capela de São Lorenzo, em Florença. Sua mãe Madeleine, não fazia por menos, era uma princesa da casa de Bourbon. Mas aos seis anos a sofrida criança sofreu seu segundo trauma, ao ter que voltar a Florença, ante a invasão dos exércitos de Charles V. Aos quatorze anos ela era vista como uma das jovens mais cuturalmente preparadas da época, embora fisicamente pudesse deixar muito a desejar, segundo descrições locais.

Henry que não tinha muita predileção pelas letras e preferia dividir sua cama com a famosa Diane de Poitiers, foi obrigado a casar com a para ele escolhida, em Outubro de 1533, numa cerimônia presidida em Marselha pelo próprio papa Clement VII, que assumira a responsabilidade pelo futuro de Catherina, após a morte de Leão X.

A Italian Woman, como era conhecida, foi sempre tratada como uma intrusa por seu marido e a corte que o cercava e quando se mostrou inepta a produzir um filho, aí mesmo é que foi jogada literalmente para escanteio (*). Não tendo o que fazer ela popularizou o sorvete na França, fez com que os súditos de sua majestade aprendessem a ter um mínimo de paladar e bom gosto, a se sentar a uma mesa, a abandonarem o uso ostensivo dos dedos em suas comidas e desta forma foi estabilizada a hoje idolatrada cozinha francesa. Sim a verdadeira cozinha francesa, é na verdade italiana.

Hoje os aspargos e os brócolis são obrigatório no menu francês, mas até a chegada de Catherine, os gauleses, não tinham sequer idéia de sua existência. Pesquisei e descobri que o primeiro livro escrito sobre culinária data de 1498 e foi escrito por um tal de Bartolomeo Platini. O nome da obra? De Honesta voluptate et valetudine. Insinuante, vocês não acham. Porém, a coisa é ainda mais antiga. Na antiga Roma, Apicius exortou algumas receitas exóticas. Que segundo ele faziam “as línguas terem sensações nunca antes testadas...”

Evidentemente que a importância de Catherina não ficou apenas no lado gastronômico da questão. Ela ajudou na idealização e feitura de um dos mais belos jardins que já tive o ensejo de visitar, o das Tuileries, um bracinho do Louvre. Ela importou seu conterrâneo Baltazarini di Belgioioso, que muitos podem não dar conta de quem se trata. Pois é, ele é Balthazar de Beaujoyeulx que produziu o Ballet Comique de la Reine, se não me engado no ano de 1851. Na verdade o primeiro corpo de balé que se tem conhecimento como montado na face da terra.

Enfim Catherine inspirou uma evolução, que hoje para muitos é considerada uma revolução. Ela é a mãe da Grande Cuisine de France.


(*) a partir dos 25 anos ela gerou a 9 filhos, sendo 3 deles reis e uma rainha de dois países.

quinta-feira, 17 de março de 2011

O COMPORTAMENTO DO BRASILEIRO EM UM AVIÃO

O VIOLONCELO


O que lhe chateia muito é estar já dentro do avião, ciente que sua pequena mala foi obrigada a ir na seção de bagagens da aeronave e o cara que senta a seu lado trás consigo um violoncelo. Sim violoncelo, aquele violino que não parou de crescer.

Dois pesos e duas medidas. Evidente que sim. Para qualquer observador dava para sacar que havia uma grande diferença tanto em peso como em medida entre minha mala e o violoncelo daquele rapaz que parecia ter saído das páginas do livro o pequeno príncipe.

Evidentemente que a merda do violoncelo não deu em lugar algum. Podia ser valioso, raro, porém não cabia em lugar algum. A minha mala que cabia, estava lá embaixo. O instrumento monstruosamente grande, não. Estava aqui à minha frente. Mas as plásticas e robóticas aeromoças conseguiram o colocar atrás da última poltrona do avião. A do assento, 40 - aquele em frente da porta do banheiro do aerobus – a que não reclina. A minha. E lá fomos nós. Eu, o pequeno príncipe e o violoncelo. Menos minha pequena mala de mão...

Estamos a 36,000 pés, rota com tempo tranqüilo, apenas alguma alterações. Chegada prevista para as 21.20 horas de São Paulo, onde o tempo deverá estar bom, sem chuva e com uma temperatura de 30 graus. Agradeço a preferência de todos e espero que tenhamos uma boa viagem. Era o nosso bom Falcão com aquela sua voz de Alberto Roberto.

No vôo diurno, você dificilmente consegue dormir, pois  maioria das pessoas mantém suas persianas abertas, para ver as nuvens. Principalmente aqueles que vivem nela. Não sei qual é a vantagem de ficar vendo as nuvens, mas como existe gosto para tudo mantive-me na minha lembrando-me que quando era morador no Rio de Janeiro e lá trabalha, achava uma graça tremenda estar no engarrafamento vendo o Cooper das menininhas na Avenida Atlântica.

Outrossim, o que irrita não é propriamente aquela o tom de voz de autêntica impostura do Falcão. O que irrita é a cínica mentira. Como alguém pode prever o que pode vir a acontecer milhares de milhas a frente? Com que exatidão? Pois é, em duas horas tudo trimilicou. Turburlencias. Apertem o cinto e rezem para todos os deuses. Dois minutos de êxtase e agonia.

Por isto prefiro vôos de companhias internacionais. Lá tem japoneses, mulculmanos, indianos e toda e qualquer espécie de seres humanos. Na hora da reza você passa a ter apoios de Allah, Buddah, Shiva, Jesus Cristo ou que o valha.

Oito horas são oito horas. Na terra ou no ar. Dentro de um avião, parecem 16 horas. O tempo custa muito a passar e o banheiro por sua vez é o lugar mais visitado. Ele e consequentemente você que está sentado à sua porta. E tem sempre aquele curiosa que lhe pergunta se o violoncelo é seu. Fico imaginando quando teremos aqueles aviões que fazem as rotas de Dubai e Oriente com Wi-fi e com tomadas para que seu computador possa funcionar o tempo toda da viagem.

E a business, e a primeira classe... paraísos em relação a economy. Tão perto e tão longe de você. Uma cortininha os separa. E aquele pedaço de pano faz toda uma diferença. Na primeira classe a viagem é mesmo de 8 horas. Na classe executiva talvez 10, aqui atrás umas 16. O problema é que na poltrona 40h com um violoncelo às suas costas, são com certeza mais de 20.

Ai chega a hora da alimentação. Está certo que ninguém viaja de avião pela comida. Ela não é a razão precípua de você estar ali. Você quer ir de A para B e no ínterim algo é servido. Algo que está incluído no preço da passagem. Mas que a comida é ruim, isto é. Todavia no noturno você na verdade não nota muito, pois, normalmente já vem jantado e muitas das vezes nem come, simplesmente dorme. Mas no diurno a coisa é diferente. Ainda mais, que você tem primeiro o café da manha, e no fim da viagem quando a fome bate, tem o jantar. Ou quilo que se tenta parecer com o mesmo. Não é bolinho não. Com a fome é muita, engole o que tiver pela frente.

E chega-se ao êxtase da primeira parte do avião. A saída do mesmo. Vocês já notaram que a primeira parada, longe ainda do terminal, todos se levantam antes mesmo do piloto ativar o aviso de libertar-se do cinto? Isto é típico do brasileiro. Da mesma forma que querem ser os primeiros a entrar, adoram ser os primeiros a sair. As sacoleiras do Sawgrass tentam passar por cima dos outros. Com ou não, violoncelos as mãos lutam por seu espaço. Um Deus nos acuda.

E quando saem o que encontram? As autoridades de imigração.

quarta-feira, 16 de março de 2011

AFINAL, A QUEM PERTENCE A TAÇA DAS BOLINHAS?

Uma vez o finado presidente John Kennedy disse em um de seus discursos, uma frase que até hoje serve como legenda aqui neste pais: “Não pergunte o que este pais pode fazer por você e sim o que você pode fazer por este pais”. Pela mesma época o presidente Charles DeGaule da França sugeriu que “o Brasil não era uma pais sério” e o Tom Jobim, que muito menos “era habitado por principiantes”. Passados alguns anos, o ex-presidente Fernando Collor veio com outra frase lapidar, logo após a sua posse, já aqui publicada que soou muito bem, até todo o Brasil reconhecer a sua verdadeira face: “Aos amigos aqui presentes, apenas um favor. Daqui para a frente não me peçam favor algum”. Seguiu-se o ex-presidente metalúrgico com aquela infinidade de furtos das idéias e projetos alheios: “Nunca na história deste pais...” Logo, chegou a hora de eu criar a minha frase e aqui vai ela: “Nada podemos fazer contra o Brasil, que este mesmo Brasil já não tenha feito contra ele”. Pois é, acho que é plágio...

Sou arquiteto e sempre aprendi que nada se cria, tudo se copia e melhora-se. E me lembro que vó Adelina sempre me alertava ser “melhor se ter uma boa copia do que um péssimo original”. Sou obrigado a concordar. Ademais viemos do exemplo recente, de um presidente que assumia toda e qualquer idéia alheia como própria e com premissas e promessas fazia a todos crer, que tudo saia de sua cabeçinha. Talvez o poder do auto convencimento impetrado pelo excesso de álcool... Mas vamos e venhamos, com um pouco de boa vontade dá até para aceitar que minha frase seja igualmente bombástica, vocês não acham?

Se é ou não, o que penso ser válido, é o conteúdo da mesma. A começar do Rio de Janeiro, que na verdade é o seu pior inimigo.  Dotado de belezas naturais que fizeram até São Pedro interpelar ao Senhor e perguntar o porque de tantas benesses, o Rio de Janeiro se acostumou a receber tudo de mão beijada, a começar de quando foi transformado em capital. Pouco de desenvolveu industrialmente e mesmo no teor turismo, o que naturalmente seria o seu maior ganha pão, desleixou. Achou que o que tinha para oferecer sobrava na turma e faria com que os turistas que aqui comparecessem se tornassem escravos de seus encantos. Tanto assim, que hoje, o carnaval do Rio de Janeiro, já não me parece o mais popular entre os tantos outros existentes espalhados pelo Brasil. Por exemplo, o Galo da Madrugada me parece mais simpático hoje que o Cordão do Bola Preta, entre os blocos com mais de um milhão de seguidores. Os trens elétricos da Bahia, faturam mais para o Carnaval Baiano que a Banda de Ipanema. Afinal depois de ser deputado, a maior fonte de faturamento existente no Brasil são os Abadas baianos. Que fenômeno se transformou a sua comercialização. Além de organizar e faturar, criou uma espécie de troféu para aqueles que os adquirem. Sacada genial, que o Rio de Janeiro, não conseguiu colocar em prática. E depois dizem que os baianos vivem da pesca...

Aliás, nós cariocas, estamos que nem os ingleses, que inventam tudo e depois são ultrapassados por aqueles que se utilizaram de seus inventos: da sacanagem política a todo e qualquer esporte sobre a face da terra, passando pelo imperialismo e o monopólio dos comércios exteriores. Mas voltemos aos trilhos.

Nos cariocas deixamos o Rio de Janeiro se deteriorar, elegendo gente da pior espécie para nos governar. Alguns o fizemos por pura sacanagem, outros por interesses pessoais e houve até gente que o fez acreditando que as coisas poderiam mudar. Como mudaram: só que para pior! E tudo isto por que? Simples, porque  aqueles que não valem vintém algum se organizam. Nós que poderíamos trazer de volta a verdadeira face do Rio, nos limitamos a troçar ou mesmo fingir que nada pode ser feito e vamos a praia felizes e satisfeitos com o sol que sempre nos aquece. Até a primeira chuva.

Pode. Sim pode e deve ser feito. E só depende de nós mesmos. Basta nos unimos e nos conscientizarmos que da união se faz a força, e da força as devidas mudanças. Foi do peso exercido por esta força que o Collor pegou o seu boné, como da mesma forma originou o ACM a pedir para ir ao banheiro e abandonar o Senado e o Dirceu ter que assumir – a contragosto - o papel do cardel Richelieu, quando na verdade sonhava ardentemente, desde criancinha, com o cargo de Rei Sol. Mas para que possamos modificar as coisas dentro e fora de nosso Estado, precisamos da ajuda dos Estados vizinhos. Afinal até quando São Paulo continuará a eleger os Maluff, os Clodovils, os Titiricas, as Erondinas, o Cacarecos e os macacos José e ainda vender a imagem, que o paulista sabe o que quer e nós cariocas não? Até quando aceitaremos o lema do “rouba, mas pelo menos faz”?

Fala-se da Amazônia. Mas qual é o conhecimento de causa que a grande maioria nós brasileiros temos sobre ela, se preferimos ir a Miami do que a Manaus? Alguém tem idéia qual é o tempo de vida de uma castanheira ou de um jacarandá? Se eu afirmasse serem de 600 anos para a primeira e 1,200 para o segundo, vocês contribuiriam para que eles fossem preservados? Gastariam menos papel e reciclariam tudo que está a seu alcance? E se eu lhes avisasse que 1/3 de toda a fauna e flora deste planeta redonda ali residem? Isto os fariam visita-la para tomar conhecimento in loco do fato ao invés de bater perna no Aventura Mall?

Sofremos da síndrome da falta de assunto. Nossa visão de nossos próprios problemas é desequilibrada e assimétrica. Nos tornamos impotentes perante a violência e lenientes ante a corrupção daqueles que nós próprios elegemos. Ou será que tem gente que ainda acredita que o político corrupto nasceu na praça dos Três Poderes em Brasília? Mas teríamos como dar a volta por cima.

Quem acompanha, como eu acompanhei por grande parte de minha existência a evolução das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro, acredita que com união e força chega-se onde se quiser. Mesmo no Brasil e mais especificamente no rio de Janeiro. O desfile do Sambódromo do Rio de Janeiro é o maior espetáculo da terra. Quem duvidar que compare! Não tem Michael Jackson, Madonna, Broadway ou Lincoln Center que possa fazer algo sequer similar. Talvez os Beatles nos áureos tempos. Mas eles foram divindades. Não contam... E no caso das escolas de samba tudo é construído e produto da união de comunidades – a maioria das quais carentes - que querem viver em uma noite, aquilo que são privados de viver o resto dos 364 dias do ano.

Levantemos nossa vozes e deixemos de baixar a nossas cabeças. O problema do quintal do vizinho tem que ser visto por nós como também nosso. Mesmo que nõ tenhamos mais quintais. 


Tomemos as escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro como exemplos e copiemos a sua essência e estrutura, pois, até nas Copas do Mundo ganhamos, até aqui, pelo excesso de qualidade futebolísticas que temos, não pela organização de nossos dirigentes. Afinal até hoje, não decidimos se a Taça das Bolinhas é do São Paulo ou do Flamengo...

terça-feira, 15 de março de 2011

AI DE TI IPANEMA!

Escrevi isto que les passo e na verdade nem sei bem porque. A coisa veio espontânea. Não pensei. Simplesmente redigi. “Se alguém quiser odiar o Rio de Janeiro, não passe por lá, pois, caso contrário será envolvido por sua magia e ficará que nem eu contando os minutos para lá voltar, mesmo sabendo que irei me decepcionar”.

Somente dias depois eu saquei porque. O que prova a tese de minha vó Adelina, ser eu um pouco tardio... Não importa, o importante é que me lembrei de algo que li em qualquer lugar há alguns anos atrás, e guardei. Numa macarrônica tradução para o português, me passaram como um dizer sueco e da seguinte forma: “Ame-me quando eu menos merecer, porque é quando mais preciso”.

Mas do que nunca devemos amar o Rio de Janeiro, pois, ninguém mais do que esta cidade, o necessita. E dentro deste processo de amor, tem que estar inserido e estendido esta paixão a seu próximo, mesmo que ele não esteja tão próximo quanto possa parecer. No natal lhe de um bote de inflar, pois, na época das chuvas, poderá ser de extrema necessidade, assim como um colete a prova de bala para ele trafegar na Avenida Brasil, uma barraca de acampamento, um kit de primeiros socorros ou mesmo uma pá e uma britadeira, em caso de desmoronamentos.

Tenho um amigo que tem uma casa em Itaipava, que está construindo uma arca com a ajuda de seus vizinhos. Porque será? Outro presente barato e de extrema necessidade são os tapas ouvidos. Daqueles vendidos nas ruas de New York pelos camelôs, quando a neve ameaça a cair. Não que haja neve no Rio de Janeiro, mas existem perigos ainda maiores. Maiores que as balas perdidas. São elas as promessas dos políticos. Confesso que nada me dá mais medo do que um plano ou projeto de um prefeito ou governador, após uma catástrofe, no Rio de Janeiro. Aqueles das ações enérgicas, das mudanças inevitáveis, do reconhecimento da necessidade pública, das macro-soluções para evitar que se preocupem e resolvam as micro, as do dia a dia, as da nunca levadas a efeito na história deste pais...

Meus amigos cariocas, há 50 anos atrás o cronista Rubem Braga de forma apocalíptica profetizou em seu épico Ai de Ti Copacabana, o que seria este bairro, naquela época reconhecido mundialmente como a Princezinha do Mar.

Ai de to Copacabana,
Eu já fiz o sinal bem claro
De que é chegado a véspera
De teu dia,
E tu não viste...

Ele fez o sinal, encheu a sua mochila e mudou-se para Ipanema com seus passarinhos.

Imaginem o que ele estaria escrevendo hoje – se vivo fosse - sobre Ipanema e o Leblon? Onde atravessar uma avenida é um perigo constante, onde se tem que desviar do cocô do canino e do poder mortal de suas mandíbulas se este for um Pitt Bull. Para quem não sabe esta raça está proibida em quase 50 países do mundo. Aqui se o fizermos, um deputado do PT irá acusar seu feitor de racismo. E existe ainda outro problema no Rio de Janeiro. É que com a raça teria que ser igualmente banido, 90% de seus donos, cuja irracionalidade muitas vezes é bem maior do daqueles a quem carregam em uma coleira nos passeios públicos, sem focinheira. Aliás, isto me faz lembrar de outro presente, se você tem na família um político: uma focinheira que o mantenha de boca fechada. Só não lhe ofertem um ratoeira, pois, eles podem se ferir.

Falei de Rubem Braga e imediatamente me lembro de outro gênio. O Tom Jobim. Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. Que tinha a nacionalidade no seu próprio nome e era a meu ver, o mais carioca de todos os cariocas, pois, teve a vantagem de ter nascido – como eu - no Rio de Janeiro. O que nós fazem cariocas da gema. Ele que de socialista tinha apenas a unha encravada de seu dedão do pé esquerdo, uma vez definiu este regime em nosso estado como sendo o dia em que o Rio de Janeiro virasse Ipanema. O problema é que hoje ele estaria ciente e triste de ver que o caos tomou conta de nosso bairro pois, foi este que virou Rio de Janeiro e levou com ele a tira-colo o pobre do Leblon.

sábado, 12 de março de 2011

O DEJETO DO CACHORRO

Seriam apenas os franceses os sujos?

Morei na França e vi coisas do arco da velha. Um amigo ia todos os dias a padaria, comprava antes de voltar para a casa do trabalho, duas bisnagas e sem embrulha-las as jogava na mala de sua SUV. A mesma mala que no dia anterior ele levara seu cachorro ao veterinários, pois, segundo ele havia, sido atacado por sarna. De um outro, ouvi que mais de dois banhos por semana – eu disse semana, não dia - estraga a pele. Logo, sei da fama e que em muitos casos não é gratuita.

Mas nas ruas de Paris, como nas de Londres e New York embora existam mendigos, crianças pobres, o que não se vê são desejos de cachorros e muito menos carros estacionados nas calçadas. No Rio de Janeiro, além dos mendigos, das crianças pedintes, temos os dejetos e os carros fazem parte da paisagem. São dois tipos de poluição. Mas ambas parecem fazer parte do cenário. E nada muda, toda vez que lá vou. Principalmente naquelas áreas chamadas de mais bem habitadas, como o final do Leblon e certas áreas de Ipanema.

Nossas casas e nossos carros são limpos, mas nossas ruas no Rio de Janeiro estão sujeitas a todo tipo de sujeiras. Entre os franceses, digo que suas casas deixam a desejar  e seus carros são um lixo por dentro. Outrossim, as ruas são impecáveis. Pelo menos há uma consciência social entre os francesas. Nenhuma, entre nós cariocas.

Tomamos dois banhos ao dia, mantemos nossos carros limpos, mas sujamos nossas ruas, acreditando que elas não pertencem a aquilo que consideramos como nossos perímetros de responsabilidade. Um dia recriminei uma emproadas, que fez sua lingüiça defecar e ela respondeu levantando seu nariz – que no mínimo já devia ter enfrentado pelo menos três bisturis: para isto existe o serviço de limpeza publica.

Achei a resposta eloqüente e lhe perguntei quando seu filho morresse, não seria melhor ela jogar o corpo na rua, pois, era para isto que existia o serviço de limpeza pública. Não me deu resposta e continuou a manter seus saltos altos nas pedrinhas da calçada, desviando-se evidentemente do dejeto abandonado por aquela salsicha de quatro patas. Até quando o mesmo ficou ali? Talvez esteja ainda por lá, afinal isto aconteceu há apenas 10 meses...

O que nos faz pensar no Rio de janeiro e digo isto pois, em São Paulo – pelo menos na região do Itaim Bibi – onde normalmente acampo, não tive ainda o desprazer de topar com dejetos caninos, nem de topar minha canela em um para choque de um carro. Mas lá outro hábito – este brasileiro não apenas carioca – já tive a oportunidade de presenciar. O cara chega, para seu carro a frente do edifício – normalmente a frente da saída da garage – a procura da pessoa que vem buscar e mete o dedo na buzina. Por instinto olhei para cima e ninguém apareceu. Interessou-me a situação, pois, como vocês já devem ter notado, sou um curioso para com os detalhes do dia a dia e das situações que considero inusitadas. O cara colocou o dedo na buzina mais duas vezes, num espaço não superior a cinco minutos. Ai a menina veio. Entrou no carro e eles se foram. Aproximei-me do porteiro, pois, porteiro brasileiro se sente um solitário e por uma conversa é capaz de passar toda e qualquer informação que quem pergunte necessite. Ele me respondeu que a menina morava no décimo sexto andar. O que o cara esperava, buzinando da forma como buzinou? Que sua namorada ouvisse?

Este é um outro tipo de poluição. Sonora, mas poluição.

Não se evitam estas anormalidades apenas com educação escolar. Isto poderá funcionar em 15 anos, quando aqueles que receberam estas lições possam ter carteiras e cachorros para sustentar. Mas até lá?

Temos que multar e fazer as pessoas que cometem estes delitos se sintam sem jeito, obrigando-as a corrigir seus erros. Sei que não funcionou com a emproada plástica, mas quem sabe na próxima terei mais sorte... 

sexta-feira, 11 de março de 2011

O DIÁRIO DO PANTANAL - 6 - A PESCA DO DOURADO



FAZ UM ANO QUE ESCREVI ESTE TEXTO
E FORAM MAIS DE 1,000 AS PESSOAS QUE O LERAM
POR ISTO O REPITO
AGRADEÇO A TODOS QUE O FIZERAM
E ESPERO QUE ELE CONTINUE A SER LIDO,
POIS, É UM DOS MEUS FAVORITOS

O MEU DOURADO

Sempre ouvi dizer que o Dourado era o rei do rio. Não sabia porque. Até tentar pegar o meu.

Vou abrir o meu parênteses. A pesca funciona para 99% daqueles que a praticam, como um relax. Outrossim para mim, como iniciante não. Quando a linha mexia, as ordens do guia, que diga-se de passagem eram com as melhores intenções possíveis, fomentavam todo o stress. Era pior do que discutir preço de cavalo com árabe. Fisga, recolhe. Dê linha. Deixa ele puxar. Cansa ele. Levanta o anzol, agora baixa e recolhe, não lute contra ele, cuidado com a linha, não o traga ainda para perto do barco. Está cedo para trazê-lo... Era muita ordem para pouco conhecimento. Quando o peixe ao barco adentrava, eu estava talvez mais cansado que minha vitima e com certeza com muito mais stress. Por isto decidi. Se um Dourado adentrar a este barco, aposento-me nesta viagem como pescador e vou fazer as coisa a que me propus. Ler, fotografar e escrever sobre a mesma. Fecho aqui meu parênteses.

Não entendo muito de peixe, mas dentro dos que já tive a oportunidade de ver, ao vivo e a cores, o tal do Dourado me pareceu um dos mais lindos. Sua carne, segundo os experts não é boa e seu excesso de espinhas é a via crucis dos cozinheiros que se aventuram a tentar tratá-la. Todavia, o que faz a fama de peixe é a sua luta para tentar se livrar do anzol. Ele não só luta como os mais raçudos, mas ele salta no ar na tentativa de se desvencilhar daquele que o tem aprisionado pelo anzol. São saltos acrobáticos que fazem os iniciantes, como eu, perdê-lo e assim mesmo, respeitá-lo.

Logo, pegar Dourado taludo é o sonho de consumo de todo e qualquer pescador que se preze. Eu como iniciante ainda estava naquela de que o que caía em meu anzol era peixe. E dois de muito má categoria, como o Armal me serviram de aperitivo. Carne considerada desprezível, quase podre. Mas me pareceu um peixe simpático.

Tem beiço de gente e duas asinhas que quando você tenta o trazer para o barco ele as usa para se segurar o mesmo. Peixinho simpático, mas que imediatamente é levado de volta ao mar. Os barqueiros têm verdadeira ojeriza pelo pobre coitado. Sorte dele. Tratam-nos, tal e qual os políticos brasileiros fazem com seus eleitores, depois de eleitos. Querem deles apenas, distância e esquecimento. Mudam até o número de seus telefones celulares, para evitarem contatos maiores. Os barqueiros quando a incidência é grande, chegam a mudar de lugar.



Mas a necessidade de se pegar um Dourado, o faz dele um troféu. Vim, como disse antes, para me divertir, ler, escrever e fotografar. Surpreendi-me ainda com o serviço de bordo e as amenidades do barco. Estive no Millenium, acreditem coisa de primeiro mundo. Diria mais, que na verdade a meta maior era para curtir antigos amigos. Eu, que sempre achei que depois de 50 tinha mais é que manter os amigos antigos, e não me preocupar em fazer outros, equivoquei-me. Convenci-me com meu guru e tenaz critico, amigo, cliente e advogado, o Afonso Burlamaqui, que isto era uma meia mentira. A gente tem que conservar os antigos, mas se possível fazer outros novos. E ele está absolutamente certo. É sempre possível. Outrossim, quando se está no seios dos pescadores, você é picado pela mosca azul do Dourado. Tentar pescar um, passa a ser uma necessidade. Um desafio. Quem nem aquela menina de sua rua, que não saiu com ninguém e nunca deu bola alguma para você, mas que você acredita que tem uma chance, embora ínfima. E ademais que mal há de se fazer, em pelo menos tentar. E eu na verdade tentei.

A vida na verdade é uma série de tentativas. Umas viáveis, outras duvidosas, mas são as inviáveis que fazem ela, a vida, ter mais sabor. Muitas vezes são por elas que sonhamos com mais ardor. Erigimos nossos castelos e potencializamos nossa turbinas. Talvez como Eva em relação a aquela maçã que nem tão madura estava, mas era proibida. E ali estava o seu grande sabor.

Aquele sonho impossível. Da vida não vivida, mas ansiada. Da tentativa ainda não tentada. Do desafio, que não o levaria a nada. Mas levou. E não foi um. Foram dois.

Muita espera, muita luta, mas desta fez o predador, ou melhor, nós os predadores levamos vantagem. Ronaldo e eu, batemos a aqueles que até as piranhas temem em se aproximar, o Dourado.



Na volta a euforia do dever cumprido. Dei como realizada minha participação este ano na pesca. Tinha que aliviar o stress e a tarde me propus a sai de barco com o Sergio Araujo e seu guia o Joaquim. O Sergio comparece a estas viagens há 8 anos, um veterano de pantanal e através dele tive a oportunidade de visualizar um terceiro mundo. O da fauna desta grande região.



O Sergio, é cunhado do Afonso. Ele não pesca, apenas fotografa. E fotografa coisas que você só tem a oportunidade de ver pela lente de outros fotógrafos na National Geografic. Todavia no barco, você saboreia a canja de tomar conhecimento de uma outra dimensão deste magnífico pantanal. Coisas que seu olho não foi dada a oportunidade de sequer observar, pois, sua concentração ou sei lá desconcentração na pesca, omitem este lado da coisa.

Ver as fotos do Sergio, da atual viagem e de viagens anteriores, me fazia lembrar das madrugadas no beco das garrafas, a canja que o Sergio Mendes dava no piano até as 5 da matina. Era a hora que ele tinha que fazer, para pegar a primeira barca de volta para a sua Niterói.

Mas este é o assunto de amanhã. São quatro da matina, o Marcelo está preparando o suco, a mesa do café da manhã está posta e em duas horas o barco já estará em ebulição com as turmas saindo para a pesca e eu para mais um nascer do sol. E aquela duvida atroz. Será que o Flamengo ganhou do Botafogo?


PS1 - GANHOU!



quinta-feira, 10 de março de 2011

O MAIS BELO PALCO, ENQUANTO DUROU

Acho, que de alguma forma, perdemos o fio da meada. Quando? Dentro de nossas próprias casas. Toda a tecnologia moderna foi criada para acabar com o quintal, com as brincadeiras na rua, com as esquinas. Perdemos o contato com os vizinhos, o espírito de bairro e passamos a ir de A para B, da forma mais rápida possível e aquela que pudesse trazer mais impessoalidade. Este foi verdadeiramente o inicio do fim.

Os morros e os subúrbios, ao contrario, ainda mantém velhos hábitos., principalmente entre os de mais idade. Não perderam de todo ainda, os vínculos comunitários, das cadeiras na calçada, do trago no botequim, das conversas de esquina, tudo aquilo que gera convivência, cordialidade e solidariedade.

A zona sul perdeu seus contornos, apagou-os de suas mentes. Evitam em rememora-lo. E esta perda de fronteiras, com o tempo, se embaralham em dúvidas, em falta de expectativas, em desilusão passageiras e iniciam o pesadelo de se viver para si, por si, sem se importar com o que acontece a sua volta. Sem árvores para subir, quintais para se correr e muitas vezes longe das praias que ainda agem como catalizadores, crianças se refugiam por trás de telas de computadores a receber informações que nem sempre são as mais apropriadas para elas.

E a casa se transforma em casulo, a rua deserta de sua vida, o bairro perde suas características e tudo isto vai influir no desenvolvimento da cidade. Se torna impessoal, fria, sem uma coesão social que mantenha tolerâncias entre aquelas que a habitam. Este hedonismo carioca, cria uma metonímia, condensando-a como um todo. Sem perdão. Sem pudor. Descaradamente.

Sei ser impossível, em uma cidade como o Rio de Janeiro, voltar-mos a construir os quintais. Imaginar que as pessoas possam colocar suas cadeiras e sentarem-se às portas de suas casas em suas ruas. Que se possam nelas se jogar peladas ou brincar de amarelinha. Principalmente na zona sul. Mais difícil ainda seria afastar as crianças de seus brinquedos eletrônicos. O que fazer então? Aceitar com submissão a inevitável queda de qualidade de vida?

Nem todo passado é perfeito. Nem todo presente é imperfeito, mas há de se convir, que havia mais prazer de se morar em Ipanema do que agora. De se sentar no Veloso, na mesa ao lado do Tom e do Vinicius. De ver as garotas de Ipanema deslizarem, uma a uma, a caminho do mar ou simplesmente espera-las nas areias quentes – e limpas – da Montenegro. De se ir ao Maracanã, seguro que iria ver a apenas mais um jogo de futebol e não batalhas campais entre torcidas organizadas. De se poder passear pela madrugada pelas ruas do Leblon, sem a preocupação de ser assaltado. De poder saborear um cachorro quente no carrinho do genial a espera do nascer do sol, em Copacabana. De ir a praia com mais, que não apenas sua sunga, sua toalha e o troco mínimo, para o limãozinho. De poder ir aos bailes do Copacabana Palace e do Municipal ver gente e não ter que se preocupar com brigas, e onde a lança perfume era o entorpecente mais poderoso que todos podiam ter em mãos. Outros tempos, outro mundo, outra cidade e consequentemente outra gente.

Dissonância entre décadas, dentro de um mesmo palco. Que foi o mais belo enquanto durou.

quarta-feira, 9 de março de 2011

COSMOGONIA INDÍGENA

COSMOGONIA INDÍGENA


Estamos longe do último carnaval. Aquela época do ano, em que o brasileiro sai do ar oficialmente Tempo de sonhos. O favelado vira príncipe e o milionário se veste de indio. As cidades se enchem de turistas. Principalmente o Rio de Janeiro. Onde os crimes se triplicam, a projeção de aumento da população de concretiza para 9 meses à frente e imediatamente são esquecidas as mortes das enchentes na região serrana, bem como a morte por asfixia da menina de seis anos achada debaixo da cama de um hotel em Caxias, o desmoronamento das casas construídas sobre lixões, o mensalão cujo julgamento ainda não teve o seu início etc...etc... e tal. Isto para se ater, apenas a algumas anomalias acontecidas nesta cidade que amo, mas temo.


Mas na verdade vivemos um eterno carnaval. Afinal, no bloco de dona Dilma, tudo se dança. Qualquer que seja o ritmo adotado. O importante é se dar bem. Imaginem quando chegar a Copa e as Olimpíadas. Um amigo outro dia disse que se sentia aliviado e tinha que levantar as mãos para o céu, pois, tinha a alegria de morar no Rio de Janeiro. Fiquei feliz e quando lhe dei os parabéns, seu comentário me fez engolir as palavras. “Acostumei-me a levantar as mãos para o céu, pois, sou constantemente assaltado. Só neste inicio de ano, já o fui em três oportunidades”.

Fico pensando aqui com os meus botões. Qual seria o maior problema de nosso Rio de Janeiro, ou extrapolando para um campo maior, de nosso pais, de nunca sair do estágio de um laboratório de terceiro mundo? Seria a obsolescência planejada de nossos políticos profissionais? Muitas vezes perempta,  sempre descartável, insólita e certamente corrupta? Seria que esta corrupção que impera, sempre que um poder é dado para alguém que queira levar vantagem em tudo? Mas será que não haveria alguém que pudesse não se interessar em levar vantagem em tudo? Poucos parecem ser os que não querem... Ou seria a nossa falta de memória? Nossa, eu digo, minha, sua, enfim daqueles que votam e podem mudar a história deste pais. Somos nós que escolhemos estes que agora criticamos. Não haveriam opções melhores?

A arte de esquecer é a nossa maior virtude. Apagamos, com rara propriedade, da mente aquilo que um dia nos deixou fulos de raiva. Somos um povo generoso. Não guardamos mágoas. Em alguns casos, apenas futebolísticas. Bom de um lado. Péssimo do outro. Afinal, esta nossa peculiar “generosidade” acaba por gerar um processo irreversível, onde a corrupção se renova a cada ano, pois, aqueles que fazem parte dela, tem ciência de sua impunidade e que novamente serão reeleitos. E porque esquecemos? Porque a imprensa abandona um escândalo para se pendurar em outro. Escrevem num dia, esquecem no outro. E nunca voltam atrás para verificar o que foi feito para sanar esta ou aquela anomalia.

Estaríamos sendo atacados por aquela cosmogonia indígena dos tempos de Cabral? Onde nosso solo é de nós roubado, embaixo de nossos narizes, e nos contentamos com os espelhinhos, hoje representados pelas bolsas famílias? Creio ser este o nosso colesterol político.

Há de se convir, que o político brasileiro tem aquela fluência verbal. Aquela capacidade de comover a aqueles que se impressionam com qualquer coisa. Quanto mais nascido ao norte do pais, mais a usam em favor deles próprios. Suas respectivas veemências são o apíx hegemônico da tolerância mínima de um ser que tenha um QI superior a de um símio.  Outrossim são eles – nossos políticos e não nossos macacos - os elementos com a mania de assumir a humanidade, mas que na verdade querem mesmo é trazer para si o lucro que esta humanidade pode lhes aferir. Uma situação cômoda daqueles que acreditam que o Brasil não vale a pena. O que vale é o que se pode tirar dele.

Solenizamos o câncer que ora se alastra em nossos três poderes. Poderes estes, que são muito bem pagos e possuem imunidades nunca antes imagináveis. Na verdade o político brasileiro tem as mesmas regalias que os agentes do M-16 do serviço secreto britânico: ao invés de licença para matar, possuem a licença para a maracutaia, pois, como é reconhecido, aqui tudo termina em pizza.

Voltando ao gênio Tim Maia que dizia que “o Brasil não dá certo porque aqui prostitua se apaixona, cafetão tem ciúmes e traficante se vicia”, acrescentaria, que político tem imunidade e o povo amnésia.

segunda-feira, 7 de março de 2011

PAGUE PARA ENTRAR, REZE PARA SAIR E BATA PALMAS NO FINAL!

Entendam que isto não é um artigo sobre carnaval. Trata-se de uma constatação de como se atingir o sucesso, tendo como base, pouco mais do que uma massa, praticamente falida.

Qualquer trabalho deve ser respeitado, mas assistir as Escolas de Samba de São Paulo e do Rio de Janeiro, já é um diferença considerável. Imaginem o canyon hoje existente entre a Unidos da Tijuca e as outras escolas do Rio de Janeiro. Este mesmo canyon que um dia o Salgueiro construiu com a direção de Fernando Pamplona e a Beija Flor assumiu para si, com o esplendor de  Joãozinho Trinta, aquele que sempre acreditou que pobre gosta mesmo é de luxo. Anos depois, o nosso presidente Lula provou que esta tese do Joãozinho Trinta sempre foi verdadeira. Sim senhores, houve a era Fernando Pamplona, a era Joãozinho Trinta, agora definitivamente vivemos a era Paulo Barros. A era do mistério, da surpresa, da coreografia e do espetáculo maior. A era que une o profissionalismo, à alegria de sambar, de se criar um espetáculo. De fazer as pessoas esperarem com ansiedade o desfile da Unidos da Tijuca e estarem gritando bi-campeã, antes mesmo dela pisar na pista. A partir de 2010, o resto passou a ser o resto. Aulas de organização e capacidade profissional, criaram uma nova página na história das escolas de samba, que até que provem ao contrário, para mim é o maior espetáculo popular do planeta.

Mas porque isto acontece nas Escolas de samba e não nos governos de nossas cidades, estados e mesmo do pais? Ou mesmo em nossas agremiações turfisticas e futebolísticas? Há de se convir que as escolas de samba, são bem mais organizadas que os nossos governos e nossos outros clubes. Elas hoje apresentam um espetáculo ao vivo que  só Hollywood é capaz de reproduzir, mas o faz com a ajuda dos efeitos especiais criados pelos computadores. O Paulo Barros, os encena aos olhos de todos, como na Broadway ou no Circo de Soleil. E aqui entre nós o faz melhor, num exíguo espaço de tempo e sem contar com o efeito de um palco mecânico e a ajuda de luzes especiais.

Tudo é uma questão de quem chefia. O que falta ao Brasil e nossos clubes são lideranças inteligentes. Estas certamente sobram nas Escolas de Samba. Os "presidentes" das mesmas, não distribuem empregos de cabide, não colocam sócios para cargos que exijam profissionais. Afinal é o deles que está queimando. Contratam os melhores profissionais do mercado. Por isto tem resultados. Imagine se nossos ministros fossem igualmente assim escolhidos. Por suas capacidades, não pelo partido que representam, em defesa de uma inócua base de governabilidade. Que na verdade não governa nada. Apenas divide espólios...

Muito do que é gasto nas Escolas é a fundo perdido. Está certo que elas faturam. Mas daria para cobrir todos os gastos? Duvido. O mesmo poderia acontecer com o Brasil, sem a necessidade do fundo perdido de projetos caça votos. Bastava-se moralizar os nossos três poderes e colocar atrás das grades todo e qualquer um que se valesse das instituições governamentais para faturar para si, seus parentes, amigos e empresas de seus interesses, algo escuso. Mas é claro que para isto teríamos que eleger um suicida. Afinal por razões similares um tal de Jesus Cristo foi crucificado há milênios.

As escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro, são a prova viva que temos um povo que unido pode fazer as coisas acontecerem. Basta chefia e organização. Não interessa a classe social que forma este povo. Ele tem a garra, quando há vontade de fazê-lo. Logo, passa a ser um caso de motivação. Mas como motivar-se com os exemplos que vem de cima? Como deixar de eleger os Tiriricas da vida, se o que existe, são filhos e netos daqueles que sempre se locupletaram do poder.

Houve um dia que política não era emprego. Era doação de seu tempo livre em prol de algo maior. A comunidade. Existem ainda paises que adotam esta forma de ser. Mas no Brasil passou a ser feudo familiar. Um entra e a família se garante para todo o sempre. Temos hoje o sistema mais parecido com o monárquico. O rei sai e coloca um herdeiro. Como na história de Don João VI e Pedro I. Seria isto voltar a nossas origens, ou regredir no tempo e no espaço? O herdeiro assume e divide o governo, como este fosse uma colcha de retalhos, para aqueles que garantirão que todos os seus projetos serão aprovados no legislativo. E estes que compõem o legislativo distribuem os cargos para que possam ser reeleitos e assim manter o status-quo, aquele que fará o novo rei e seus futuros herdeiros, se manterem satisfeitos para todo o sempre.

Para quem não sabe ou não teve tempo de pesquisar, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Tijuca foi fundada em 1931 no morro do Borel. Apenas a Mangueira e a Portela são mais antigas do que ela no Rio de Janeiro. Em 1936 ela ganhou o carnaval do com um enredo chamado Sonhos Delirantes. Foi uma inovação na Praça Onze, onde os desfiles eram realizados. De 1960 a 1980 ela saiu do mapa das escolas do grupo especial. Em 1981 voltou ao grupo principal, mas de melhor uma quinta colocação em 2000.

Dai para frente a luta para apenas permanecer na primeira divisão do carnaval carioca. Até que o Lixa assumiu. Fernando Horta, o Lixa, é o seu presidente e quando assumiu, pelo que me consta mudou a sede de sua agremiação do morro do Borel, onde a situação do tráfego de entorpecentes era insustentável, para o bairro de Santo Cristo e em 2004 contratou Paulo Barros, que em seu primeiro ano quase foi campeão com o revolucionário enrêdo sobre o DNA. Foi vice-campeã como voltou a ser no ano seguinte, por um décimo de ponto quando perdeu para a toda poderosa Beija Flor. Ganhou o estandarte de Ouro, mas não levou o troféu que mais desejava. Em 2006 o inesperado. Novo estandarte de Ouro, mas uma até então não explicada sexta colocação. Problemas na escola. Paulo Barros foi para a Viradouro em 2007. Dois carnavalescos o substituíram, mas não funcionou, mesmo ela pontuando mais que a Viradouro, chegou na quarta colocação. Muitos acreditaram que isto provara que a escola era maior que o carnavalesco. Ledo engano.

A quinta colocação em 2008 e a nona em 2009, apenas provaram que é da união de duas genialidades que se faz o sucesso. Em 2010 Paulo Barros foi trazido de volta. Dizem que com plenos poderes e carta branca para gastar. E no que isto se transformou? No termino de um jejum de 74 anos, com a vitória inconteste do carnaval com aquela obra prima que foi  É Segredo e ainda por cima garantindo mais um Estandarte de Ouro.

Ontem eles abafaram com Esta noite levarei a sua alma. A verdade é que não dá graça de ver as outras escolas depois de assistir ao espetáculo de Paulo Barros com o apoio irrestrito do Lixa. Que este ano vai tentar pela segunda vez a presidência do Vasco da Gama. Tenho medo que este português de nascimento, mas carioca por paixão, venha a atrapalhar a vida do meu Flamengo. Se lembram o que um outro Horta fez no Fluminense anos atrás. Isto me faz pensar em pagar para entrar e rezar para sair...

Fico pensando, não seria hora de nós brasileiros, elegermos algo semelhante ao Lixa para nos levar ao sucesso?

quinta-feira, 3 de março de 2011

SE O TRIO ELÉTRICO NÃO SOLTAR UMA DESCARGA DE 8,000 VOLTS...

O Tom Jobim, o mais carioca dos cariocas, disse uma vez que a melhor maneira de se ver Manhattan era de maca. Pois bem, a melhor de se ver o Rio de Janeiro é de cima. Se não a forma mais bonita, diria que a mais segura...
O Rio de Janeiro fez mais um aniversário. Esta cidade maravilhosa onde nasci, cresci, estudei, me fiz gente, trabalhei, casei e abandonei continua maravilhosa. Principalmente quando vista de cima. O problema é que tem que se descer e no dia a dia ela lhe prova quão maus sucessivos governos podem destruir aquilo que nasceu e floresceu qual uma poesia. Causar problemas não são um dom dos políticos brasileiros, mas há de se convir que, neste setor nossos políticos tem pós-graduação. No Rio, entre garotinhos, garotinhas, brizolas e outros espécimes exóticos de nossa fauna política, deixamos que nosso estilo de vida escorre-se pelo bueiro. Mas temos uma válvula de escape: o carnaval.
O mundo árabe está em guerra, o norte-americano em crise, tremores de terra abalam os quatro cantos do mundo, a Europa sofre com o desemprego e o Brasil irá parar mais uma vez para seu carnaval. O Rio de Janeiro, a Bahia e Pernambuco, diria que de forma total. Deveria ser até bom, se a gente usasse estes dias de trégua para tentar reorganizar as coisas. Mas não, ao invés disto, irão vir mais idéias de eleger nas próximas eleições outros Tiriricas da vida. Afinal, em um pais que o ex-presidente diz que ler não é importante, nossa educação e cultura necessitam de experts como ele...o Tiririca. Que pelo menos é mais engraçado que o Lula.
 Estaríamos imbuídos em um espírito de querer acertar?
Não sei se vocês tem acompanhado o que está acontecendo nos Estados Unidos. Obama foi eleito como a esperança de um povo de saco cheio das tramóias bushianas e tentou de todas as formas unir este pais, dividido por um deles, little George e suas guerrinhas de cunho pessoal. Seu esforço foi infrutífero. Os políticos republicanos trataram de criar um bloqueio e o que estava ruim, ficou ainda pior. Hoje até os republicanos se dividiram: existem os conservadores e um novo grupo de extra conservadores, o Tea Party, que até acham a Sarah Palin engraçadinha. Mas em se tratando de votações contra qualquer coisa instituída por Obama, os republicanos – sejam eles da direita ou da estrema direita - ainda se mantém unidos, por um interesse comum: o de voltar ao poder. E pelo andar da carruagem, estão muito perto de o conseguir.
A estratégia mais inteligente colocada no ar foi a que envolve o governador Chris Christie de New Jersey. Sem que ninguém levantasse a lebre ele foi logo dizendo: não sou candidat, embora tenha certeza que venceria. Mas está completamente fora de minha idéia me candidatar, pois, para que isto fosse possível eu teria que me sentir pronto para ser presidente. E eu ainda não estou. E Obama estava?
O comentário foi convenientemente atribuído a ele, exatamente em um momento em que se começa a se falar de possíveis candidatos e os primeiros polls começam a circular pelos noticiários, em um pais onde dos 12 últimos presidentes, apenas 2 não foram reeleitos. O que determina que o norte-americano têm ciência que quatro anos é pouco, a não ser em anomalias como George Bush pai em 1992 e falta de liderança como Jimmy Carter em 1980.
Este é o ponto: liderança. Aqui neste pais, onde o presidente é inclusive o chefe das forças armadas, você pode errar ou acertar, mas não pode de forma alguma demonstrar falta de liderança. E existe um segundo ponto, coincidentemente ou não, ambos os presidentes que não conseguiram se reeleger, estiveram embebidos em eras de recessão. Como Obama está até as orelhas. E como não existem dois sem três, apenas Frank Delano Roosevelt e Ronald Regan, conseguiram fazer seus presidentes. Desta forma um republicano, bem que pode assumir o cargo, em uma comunidade que acredita em alternância.
Logo a porta está aberta e creio que o esperto gordinho de New Jersey, passa a ser o favorito da corrida, pelo simples fato de em um depoimento honesto deixar claro que ainda não está pronto. Para quem veleja, fica claro que um vento vindo de trás funciona melhor do que um vindo pela frente.
Lula sabe disto. Colocou uma herdeira e espera estar de volta em quatro ou oito anos, pois, para ele, o Brasil virou o seu feudo. Ainda mais que neste pais o vento sopra de todos os lados. Depende do humor do contribuinte. Um dia cacareco, outro dia o macaco José, tem a vez da negra e favelada, da garotinha, do Tiririca, do Clodovil e até o do Romário. E quem sofre? Nós mesmos. Não entendo este espírito sacana – que o carioca se imbui em maior escala que os demais - que na verdade é mazoquista. Porque somos nós mesmo que arcamos com o peso da derrocada. O pior é que São Paulo vem adotando a mesma posição.
Rio de Janeiro e São Paulo, são duas grandes naves a deriva. Qualquer ondinha maior – ou chuvinha superior a uma garoa – as destroem. Mas o carnaval chega e se o trio elétrico não soltar uma descarga de 8,000 volts, e o barracão das escolas de samba não pegarem fogo novamente, a turma se esbalda.
Um bom carnaval para todos.